
A Polícia Civil de Minas Gerais confirmou que o corpo de um homem encontrado na manhã do último domingo (29) é da 250ª vítima do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG). O crime aconteceu em 25 de janeiro, completando mais de oito meses.
Segundo a polícia, a equipe de odontologia legal do IML (Instituto Médico Legal) identificou o corpo pela arcada dentária e o nome da vítima só será divulgado depois que a família for comunicada. O corpo foi encontrado pelo Corpo de Bombeiros por volta das 10h15 da manhã, em uma área chamada de Remanso 4. Os bombeiros trabalham na região da tragédia há 248 dias.
No momento, as buscas contam com 147 bombeiros e dois cães atuando em 22 frentes de trabalho. Com a confirmação de que o corpo é de uma vítima do rompimento da barragem, o número de desaparecidos cai para 20.
Relatório aponta falhas da Vale na evacuação de trabalhadores
Também neste domingo (29), conclusões do relatório sobre a tragédia feito pela Superintendência Regional do Trabalho em Minas Gerais, foram divulgadas. Segundo o documento, a Vale falhou em diversos pontos, como planos de emergência, demorou a adotar medidas que rebaixassem o nível da água na barragem B1 e não retirou os trabalhadores da mina Córrego do Feijão, que ficavam em áreas próximas à estrutura que rompeu.
“A barragem estava muito fragilizada. Os fatores de segurança, ao longo do tempo, foram piorando, o que acarretaria na paralisação das atividades e posteriormente o acionamento do PAEBM (plano de emergência), com a retirada de trabalhadores e da população à jusante da barragem”, afirma o auditor fiscal Marcos Botelho.
Ainda segundo ele, a linha do lençol freático na barragem era muito alta, e seria necessário rebaixar 98 metros cúbicos por hora durante um ano e meio para que ela chegasse a um nível de segurança satisfatório.
Tal condição, já era conhecida pela mineradora e já foi apontada em diversos relatórios. De acordo com Botelho, em 1976 já havia sido detectado que a barragem não teria drenagem no dique inicial, toda a água que caía ficava armazenada.
O auditor citou a instalação dos drenos horizontais profundos, conhecidos como DHPs, que começam a ser instalados na barragem B1, como medida para drenar a água, mas disse que a Vale não atuou efetivamente para rebaixar a linha freática elevada.
Essa questão também foi apontada pela Polícia Federal na primeira parte do inquérito sobre a tragédia. A PF indiciou 13 funcionários da Vale e da Tuv-Sud por crimes como falsidade ideológica e uso de documento falso.
A Superintendência do Trabalho lavrou 21 autos de infração decorrentes da fiscalização relacionada à tragédia. Nos autos, são apontadas irregularidades como manter barragem construída em desacordo com normas técnicas, deixar de adotar medidas para reduzir riscos em locais de trabalho e não fazer simulações anuais do plano de emergência com os trabalhadores.
Para o órgão, em 2016, quando a mineradora chegou a cálculos de fatores de segurança menores que o mínimo, as atividades da mina deveriam ter sido interrompidas para se colocar reforços na barragem.
A lama atingiu os trabalhadores da Vale em tempo menos que o previsto em estudos de rompimento.