0 Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (ILUMINA), dirigido, entre outros especialistas, por Roberto Pereira D’Araujo, contestou a afirmação do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a Eletrobrás está condenada a desaparecer no tempo se não for privatizada. Segundo declarou Guedes, em audiência na Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso nacional, dia 25 de setembro, do jeito que está hoje, “a luz vai apagar”.
Em análise publicada no dia 26 de setembro, que reproduzimos na íntegra, o ILUMINA afirma que “No Brasil é comum autoridades contarem a história pela metade. Com muita ajuda da mídia e contando com a falta de curiosidade dos brasileiros, o Dr. Paulo Guedes, mais uma vez, não vai a fundo no problema”. É o que alerta o ILUMINA:
Prezado Dr. Guedes:
- Cuidado com a frase “a luz vai apagar”. Ela apagou feio em 2001 em “comemoração” aos defeitos do “mercado” que o sr. adora! Presta atenção abaixo!
- Não há nenhum campeonato entre investidores para justificar a ameaça de que a Eletrobras vai perder o seu percentual de participação na geração.
- Na realidade, o setor já é majoritariamente privado, e, ao contrário do que o sr. pretende nos fazer acreditar, Dr. Guedes, isso foi feito com ajuda bilionária do BNDES e da própria Eletrobras.
O Sr. não sabe? Vamos explicar!
O gráfico acima mostra a evolução de empréstimos do BNDES ao setor elétrico. (Se necessitar podemos enviar para o Ministério) As barras são os valores atualizados para 2018, eixo vertical esquerdo. A linha azul mostra o percentual desse financiamento dentro das carteiras do banco, eixo vertical direito. Dividimos em 4 fases.
- Período 1995 – 2001. Barras azuis. Reparem que em 1997, 27% da carteira do BNDES foi destinada ao setor elétrico!!
- Seria financiamento de novas unidades geradoras? Nada disso! Empréstimos para adquirir usinas prontas. A privatização foi financiada pelo BNDES. Será que vamos repetir?
- O Sr. esqueceu as distribuidoras rejeitadas pelo “mercado” e que a Eletrobras teve que engolir?
- Repare como se reduz o financiamento até 2001. Qual foi o resultado? Racionamento.
- Ou seja, em bom português, desinteresse por investimentos na expansão, Dr. Guedes!
- O Sr. já viu essa análise em algum órgão da imprensa?
Começa a nova fase com governo novo.
- Período 2002 – 2007, barras vermelhas escuro. Repare que, depois do racionamento, novamente, mais de 20% dos recursos do BNDES se destinam ao setor elétrico.
- Apesar do financiamento médio nesse período ter-se elevado para R$ 7 bilhões/ano, ali também se percebe uma forte redução, traduzindo, desinteresse.
- A origem dessa redução de investimento/empréstimos está no mercado livre de energia que, imaginado no governo FHC, foi realmente implantado sem mudanças no governo Lula, mantido nos governos seguintes, inclusive no seu.
- Por que a redução de investimento? Basta olhar o preço praticado no bizarro mercado livre no período.
- A linha azul é o preço apenas do MWh para o setor residencial, colocada aqui apenas como comparação, e a linha vermelha é o PLD, Preço de Liquidação de Diferenças, valor de “referência” no mercado livre. Dados da CCEE.
- Ora, com um sistema que permite o mercado livre se aproveite da queda de demanda decorrente do racionamento e da geração hidroelétrica da Eletrobras descontratada em 2003, mas obrigada a gerar, o período significou praticamente uma doação de energia ao mercado. Não é surpresa que hoje esse “nicho” privilegiado se elevou para 30% de toda a carga brasileira.
- Evidentemente, mais uma vez, não houve investimento em expansão e, o Brasil, necessitando o equivalente a duas usinas de Itumbiara por ano para manter o equilíbrio, saiba que, de 2008 até 2013, a carga encostou perigosamente na “garantia física” (que está superavaliada).
O Sr. já viu essa análise em algum órgão da imprensa?
A partir dessa previsível barbeiragem, entramos na fase amarela (2008 – 2015) e vermelha do gráfico do BNDES.
- Percebe-se um aumento do financiamento do BNDES que chega a R$ 25 bi em 2015! Que tal, Dr. Guedes?
- Seria suficiente? A figura abaixo mostra que não. Além do BNDES, a Eletrobras assumiu 178 Sociedades de Propósito Específico onde, apesar de minoritária, foi responsável por R$ 34 bilhões de investimento no período 2008 até 2018.
Dr. Guedes, um gráfico que mostraria a realidade do esforço de investimento originado em entidades públicas, como BNDES e Eletrobras, é o que está abaixo.
Evidentemente, depois do golpe mortal da medida provisória 579, a Eletrobras perde completamente a sua capacidade de investimento. Enganam-se os que comparam os recentes lucros da empresa com situações anteriores. Uma empresa do porte da Eletrobras que investe bem abaixo do seu histórico, é uma anomalia no Brasil.
Não custa lembrar que as absurdas tarifas brasileiras só são o que são porque cerca de 14 GW de hidroelétricas da Eletrobras cobram apenas o custo de operação das usinas, pratica inexistente em nenhum sistema do planeta.
Para finalizar, o que o ILUMINA pode mostrar ao consumidor brasileiro é que, além da tarifa altíssima, de 1995 até 2018, ele financiou aproximadamente R$ 300 bilhões de reais ao setor elétrico, que, hoje É PRIVADO. Já imaginaram se calculássemos uma “tarifa” equivalente aos subsídios embutidos no BNDES e nas SPE’s?
O Sr. já viu essa análise em algum órgão da mídia?