“Na eleição brasileira do ano passado houve a atuação de empresas fornecedoras de envios maciços de mensagens, que violaram nossos termos de uso para atingir um grande número de pessoas”, confirmou o diretor da rede social
O gerente de políticas públicas e eleições globais do WhatsApp, Ben Supple, admitiu que nas eleições brasileiras de 2018 disparos em massa de mensagens foram realizados por empresas especializadas.
Agências de disparos foram contratadas por empresários para divulgar conteúdos pró-Jair Bolsonaro, configurando caixa 2.
“Na eleição brasileira do ano passado houve a atuação de empresas fornecedoras de envios maciços de mensagens, que violaram nossos termos de uso para atingir um grande número de pessoas”, afirmou Ben Supple em palestra dada no Festival Gabo.
Segundo o executivo do WhatsApp, grupos e listas de transmissão eram utilizados de forma automatizada pelas empresas contratadas para espalhar notícias, podendo ser falsas ou não, imagens e vídeos.
“Vemos esses grupos como tabloides sensacionalistas, onde as pessoas querem espalhar uma mensagem para uma plateia e normalmente divulgam conteúdo mais polêmico e problemático”. “Nossa visão é: não entre nesses grupos grandes, com gente que você não conhece: saia desses grupos e os denuncie”.
“Sempre soubemos que a eleição brasileira seria um desafio. Era uma eleição muito polarizada e as condições eram ideais para a disseminação de desinformação”. “Sabemos que eleições podem ser vencidas ou perdidas no WhatsApp”, acrescentou.
Segundo ele, “no Brasil, muita gente usa o WhatsApp como fonte primária de informação e não tem meios para verificar a veracidade do conteúdo”, o que facilitou o uso do aplicativo para a disseminação de notícias falsas.
O uso de ferramentas automatizadas para envio de mensagens em eleições, tanto utilizando uma base de contatos própria quanto a da empresa, foi proibido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
CAMPANHA DE BOLSONARO
Em outubro, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo mostrou que empresários estavam contratando empresas de disparo massivo de mensagens para beneficiar a candidatura de Jair Bolsonaro. Quando o candidato já tem a base de contatos, os disparos custam de R$ 0,08 a 0,12 por pessoa, mas quando a base é fornecida pela agência, custa entre R$ 0,30 e 0,40.
Os contratos firmados entre os empresários bolsonaristas e as agências chegava a ser de R$ 12 milhões.
Entre os compradores, estava Luciano Hang, dono das lojas Havan e bolsonarista empedernido. Hang já foi condenado pelo TSE a pagar R$ 2 mil em multa por ter gravado um vídeo falando “todos sabem minha posição” e “eu sou Bolsonaro! Bolsonaro!” dentro de uma das lojas da Havan, que é um bem de uso comum.
O dono de uma agência espanhola de disparos massivos de mensagens, a Enviawhatsapp, Luis Novoa, admitiu que foi contratado por empresários para fazer campanha para Jair Bolsonaro.
Em áudios obtidos pela Folha de S. Paulo, Novoa afirma que sua agência foi contratada por “empresas, açougues, lavadoras de carros e fábricas” para enviar mensagens pró Bolsonaro.
“Eles contratavam o software pelo nosso site, fazíamos a instalação e pronto […] Como eram empresas, achamos normal, temos muitas empresas [que fazem marketing comercial por WhatsApp]”, diz o espanhol, na gravação.
“Mas aí começaram a cortar nossas linhas, fomos olhar e nos demos conta de que todas essas contratações, 80%, 90%, estavam fazendo campanha política”, completa o empresário espanhol. “Estávamos tendo muitíssimos cortes, fomos olhar os IPs, era tudo do Brasil, olhamos as campanhas, eram campanhas brasileiras”, informa Novoa, ainda no áudio.
Na mesma gravação, outra pessoa pergunta para ele: “Era campanha para algum partido”? Novoa responde: “Eram campanhas para Bolsonaro”.
Serviços de campanha bancados por empresas ou que não está na contabilidade oficial configuram caixa 2.
P. B.
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