HP 08/07/2011
A anunciada fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil não prosperou e o governo já vê como um fracasso a proposta de ambevização no varejo, mesmo que a transação contasse com a simpatia do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Ante o repúdio geral de se colocar R$ 4,5 bilhões de recursos públicos – do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Tesouro – em um negócio privado, no qual os franceses ficaram com 65% de participação acionária, o BNDES emitiu um comunicado afirmando que “o apoio ao projeto de associação entre o Grupo Pão de Açúcar e o Carrefour se baseia na premissa do entendimento amigável entre todos os atores privados”.
Acontece que não tem nada de amigável a proposta de fusão, pois para que o negócio se concretize é necessária a concordância do grupo francês Casino, que detém 43,1% das ações do Pão de Açúcar – Abílio Diniz possui 21%. O Casino é contra, uma vez que em 2012 irá assumir o seu controle do Pão de Açúcar. Inclusive, o presidente do conselho do Casino, Jean-Charles Naouri, veio ao Brasil e reuniu-se com o presidente do BNDES na segunda-feira (4), dia em que o grupo francês deu entrada com o segundo pedido de arbitragem na Câmara Internacional de Comércio contra Diniz.
Em entrevista ao jornal O Globo, Naouri informou que disse a Coutinho que “o projeto proposto pelo senhor Abílio Diniz (fusão Pão de Açúcar/Carrefour) era baseado na violação de um contrato e causaria uma expropriação do Casino. Coutinho reiterou os termos de seu comunicado (que o banco não participará do negócio sem acordo entre todas as partes)”.
“Ela (a fusão) fere o acordo de acionistas, que proíbe atos que afetem o controle do grupo. E fere o Código Civil, que diz que deve-se agir de boa-fé”, acrescentou.
Ao Estadão, Naouri declarou sobre a reunião com Coutinho: “Dei a ele uma visão da situação e das minhas preocupações com um projeto que parece ter sido elaborado em contradição com os acordos (de acionistas) e que, em primeira análise, não está no interesse social (do banco). Encaramos isso como uma forma de expropriação do Casino, cujos direitos haviam sido estabelecidos em contratos em 2005. O senhor Luciano Coutinho manifestou a mesma posição do comunicado (que condiciona o apoio do banco a um consenso entre os sócios) que tinha feito há alguns dias”.
Sobre a negociação entre Abílio Diniz e o Carrefour, Naouri frisou que “a negociação secreta foi um ato ilegal. Naturalmente, não está em conformidade com as boas práticas e a ética nos negócios. Contradiz a seção 2.1.1 do acordo, que diz que os acionistas não podem tomar nenhuma ação que resultaria em mudança do controle”.
Abílio Diniz, por seu lado, diz que as negociações com o Carrefour ocorreram dentro da legalidade.
Sem a injeção dos recursos a fusão se torna inviável. Mantida a palavra de Coutinho de que o apoio do BNDES está condicionado ao entendimento entre as partes, fica claro por que miou a transação.