“Governo arranjou um pretexto mentiroso para atacar a história de lutas do nosso povo”, disse o professor da USP
O governo entreguista e de extrema direita de Jair Bolsonaro decidiu trocar os nomes das usinas termelétricas da Petrobrás que foram batizadas em homenagem a grandes personalidades da luta pelo progresso, pela democracia e pela libertação nacional do Brasil.
O pretexto para o obscurantismo revanchista do governo foi baseado na mentira – como, aliás, tudo no governo Bolsonaro – de que as famílias e herdeiros dos homenageados da estatal não teriam autorizado formalmente o uso de seus nomes.
O professor Ildo Sauer, do Instituto de Energia da USP, e ex-diretor executivo da Área de Negócios de Gás e Energia da Petrobrás, de 2003 a 2007, que foi o principal responsável pelas homenagens que a Petrobrás decidiu fazer às personalidades brasileiras nas inaugurações e aquisições das termelétricas, desmente categoricamente as afirmações do governo.
TODAS AS HOMENAGENS FORAM AUTORIZADAS
“As autorizações estão todas lá nos arquivos da Petrobrás. É só procurar que eles acham. Isso é só um pretexto mentiroso para atacar a história de lutas do nosso povo”, disse o ex-diretor da estatal. “Isso é uma afronta à história do Brasil”, acrescentou Sauer.
Falanges bolsonaristas inventaram uma mentira sobre uma suposta falta de autorização das famílias dos homenageados para retirar as placas com os nomes dos patriotas e dos democratas que deram a vida pelo Brasil, como Barbosa Lima Sobrinho, Aureliano Chaves, Euzébio Rocha, Rômulo Almeida, Celso Furtado, Leonel Brizola, Fernando Gasparian, Luis Carlos Prestes, Mário Lago, e outros.
Para os bolsonaristas, todos esses grandes patriotas, intelectuais, artistas, escritores, empresários, etc, que contribuíram de forma decisiva para o progresso e o bem estar do Brasil, eram “perigosos comunistas”.
ATÉ O ÍNDIO DO SÉCULO XVIII ERA “COMUNISTA”
Até mesmo o índio Sepé Tiaraju (1723-1756), um dos homenageados, que morreu durante a batalha em que tentava proteger 30 mil índios de uma remoção feita pelo exército unificado dos reinos de Portugal e Espanha, e cujo processo de canonização corre no Vaticano, não escapou da perseguição das falanges de Bolsonaro.
Certamente, para os bolsonaristas, todos eles, e inclusive o índio do século XVIII, eram de esquerda e, por isso, não podem receber essas homenagens.
Já em 2007, quando de sua saída da Petrobrás, Ildo Sauer comentou sobre as homenagens que sua diretoria havia decidido fazer aos patriotas.
“Ao assumir ou adquirir esses projetos demos-lhes os nomes de: Mário Lago, Celso Furtado, Rômulo de Almeida, Jesus Soares Pereira, Luiz Carlos Prestes, Sepé Tiaraju, Fernando Gasparian, Leonel Brizola, Euzébio Rocha, Barbosa Lima Sobrinho, Aureliano Chaves. Isso porque temos partido. Porque eu e meus companheiros somos parte de uma história”, disse Sauer.
Ildo considera “um descalabro sem tamanho” o que esta gente ligada a Bolsonaro está tentando fazer com a nossa história ao insultarem pessoas que tanto deram de si ao Brasil.
ILDO DIZ QUE HOMENAGENS FORAM JUSTAS E ENGRANDECERAM A PETROBRÁS
Em entrevista ao HP, na sexta-feira (11), o professor e ex-diretor da Petrobrás, não só desmentiu o pretexto dos bolsonaristas para tirar os nomes das usinas, como nos mandou as cópias das autorizações do familiares dos homenageados.
Algumas dessas cópias têm a assinatura de autorização direta na própria documentação da Petrobrás e outras estão com a autorização informada e com documentação registrada em cartório.
Ildo Sauer informa que as homenagens foram justas, todas elas autorizadas e “engrandeceram a Petrobrás”.
Nos casos do deputado Euzébio Rocha, responsável pelo projeto de lei que criou a Petrobrás e de Fernando Gasparian, empresário nacionalista, divulgador das grandes causas nacionais, nós não conseguimos, por problemas técnicos, anexar as respectivas autorizações formais.
Por isso, reproduzimos pequenos trechos de mensagens do filho do deputado Euzébio Rocha, Sérgio Túlio de Almeida Rocha, e da viúva de Fernando Gasparian, Dalva Funaro Gasparian, autorizando as homenagens e gradecendo a Petrobrás pela lembrança.
“De acordo, e com meus agradecimentos”, disse Dalva Gasparian, viúva do empresário nacionalista, no documento dirigido à Petrobrás. Sérgio Túlio de Almeida Rocha, filho de Euzébio Rocha, fez questão de registar em cartório a autorização para que a usina termelétrica de Cubatão passasse a se chamar Usina Euzébio Rocha. “Estamos inteiramente de acordo”, disse ele.
As cópias que o professor Sauer nos enviou foram anexadas abaixo em arquivos lincados e, você, caro leitor, poderá acessá-las para conhecer as verdadeiras posições dos familiares dos homenageados.
O professor Ildo Sauer contou também uma pequena história, ocorrida quando ele ainda era diretor da estatal, para lembrar que esta aberração autoritária de agora “não é uma novidade completa”.
“Minha sucessora na Petrobrás a pedido de Delcídio Amaral tentou trocar o nome de Luiz Carlos Prestes por Ramez Tebet, na usina de Três Lagoas. Teria perguntado: ‘quem é esse Prestes’. Me contou gerente presente.
Não conseguiu”, observou Sauer.
MÁRIO LAGO
Em reportagem da época, isto é, fevereiro de 2007, ao falar sobre a Termelétrica de Macaé, no Norte Fluminense, que recebeu o nome do escritor e compositor, Mário Lago, Ildo Sauer disse que mais do que homenagear esse grande artista, quem é homenageada é a estatal.
Segundo Ildo Sauer, o nome do artista está ligado à luta da campanha “O Petróleo é Nosso” e, portanto, a homenagem é justa. “Mais homenageada do que o próprio Mário Lago está sendo a Petrobrás, em poder resgatar a história de seu nascimento, associando o passado e o futuro desse empreendimento ao nome de um grande artista”, declarou.
Dentro ainda do resgate histórico que foi propiciado pela decisão da Petrobrás, e que está sendo atacada agora pelo fascismo, Ildo Sauer recorda, a título de exemplo, o episódio do descerramento da placa comemorativa na Termelétrica Canoas, em janeiro de 2007, que passou a se chamar UTE Sepé Tiaraju – em homenagem aos 250 anos da morte do líder indígena da tribo Guarani.
Na ocasião, diziam as reportagens da época, também estiveram presentes autoridades e representantes de comunidades indígenas da região (Guaranis, Caigangues e Charruas), de movimentos sociais e da cultura missioneira do sul do País. O evento marcou o início das comemorações do II Encontro Internacional Sepé Tiaraju e o Povo Guarani, na cidade gaúcha de São Gabriel.
O índio guarani conhecido como José Tiaraju ou Sepé (José) Tiaraju (facho de luz), como era chamado, nasceu provavelmente em 1722 na região onde hoje é a cidade gaúcha de São Luiz Gonzaga. Os guaranis foram os primeiros habitantes do Rio Grande do Sul, muitos anos antes dos europeus chegarem.
O líder missioneiro tornou-se uma figura histórica e lendária por conta da bravura assumida durante a resistência Guarani por suas terras. É dele a famosa frase, (“Alto lá, esta terra tem dono!”), redigida em cartas à Coroa da Espanha, após a assinatura do tratado de Madri (acordo entre Portugal e Espanha que estabelecia entre os dois países a troca do Sete Povos das Missões pela Colônia do Sacramento).
ATAQUES À PETROBRÁS
Sauer conclui a entrevista ao HP destacando que essa medida arbitrária e obscurantista não é uma medida isolada.
Segundo o professor, ela vem junto com os planos de destruição da Petrobrás e com a entrega anunciada das riquezas do Pré-Sal. “O governo está entregando o Pré-Sal sem compreender a sua dimensão: um desastre total contra o interesse público”, denunciou o especialista.
SÉRGIO CRUZ
Seguem os links para os documentos da Petrobrás que desmentem o governo e confirmam as autorizações de herdeiros e familiares para as devidas homenagens
Autorização Barbosa Lima Sobrinho
Autorização Luiz Carlos Prestes
Autorização Jesus Soares Pereira
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