“É preciso separar aquilo que é mito daquilo que é realidade. E a realidade são praias limpas”, disse Marcelo Álvaro Antônio
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, do laranjal de Minas, demorou para aparecer nas praias do Nordeste. Depois de mais de 40 dias de contaminação com óleos vindos do alto mar e da ausência do governo federal nas operações de contenção do estrago, ele insinuou que estaria havendo exageros sobre a gravidade da situação.
“É preciso separar aquilo que é mito daquilo que é realidade. E a realidade são praias limpas, são banhistas frequentando naturalmente o mar, é isso que a gente tem visto aqui. Praias cheias”, declarou.
No sentido contrário ao que disse o ministro, pessoas que ajudaram a recolher o óleo encontrado nas praias pernambucanas relataram ter sentido diversos sintomas após o contato com a substância. Em São José da Coroa Grande, que teve a situação de emergência reconhecida pelo governo federal na quarta (23), 17 foram socorridas a um hospital do município, com dor de cabeça, enjoo, vômitos, erupções e pontos vermelhos na pele.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, há outros dois casos relatados em Ipojuca, no Grande Recife.
Fingindo desconhecer que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi vaiado onde apareceu no Nordeste, fruto da irresponsabilidade do governo de ficar, de novo, acusando os outros sem fazer nada para enfrentar o problema, o laranja mineiro rasgou elogios ao colega de desgoverno.
Ele disse que o Plano Nacional de Contingência – que ninguém viu – “foi conduzido de forma muito eficiente pelo ministro do Meio Ambiente”.
E aí o investigado das laranjas anunciou que vai gastar dinheiro para fazer propaganda anunciando que “as praias estão limpas”. “Estão sendo preparadas peças publicitárias para promover os destinos turísticos no litoral”, anunciou.
“E a realidade são praias limpas, são banhistas frequentando naturalmente o mar, é isso que a gente tem visto aqui. Praias cheias”, declarou.
Ao contrário da paralisia do governo federal, na quinta-feira (24), amostras de água de praias pernambucanas atingidas pelo óleo, inclusive Muro Alto, foram coletadas pelo governo estadual para verificar se existem hidrocarbonetos, compostos orgânicos presentes no petróleo e que, em grandes concentrações, podem causar danos à saúde. A previsão é que os resultados sejam divulgados em novembro.
Enquanto isso, a recomendação de pesquisadores é que, nos locais onde a praia já foi limpa, o banho de mar está liberado, mas, nos locais onde ainda existe óleo, as pessoas devem evitar entrar na água.
O Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por sua vez, fez um pronunciamento na noite de quarta-feira (23) em rede de televisão e rádio no qual não apresentou nenhuma medida concreta para conter o óleo.
A população da região Nordeste e os governos estaduais têm agido com bravura para limpar as praias e reclamam da falta de ajuda do governo federal.
Na quinta-feira um grupo de pessoas que limpava uma praia nordestina, reclamou que soldados do Exército pretendiam expulsá-las do local a mando do governo.
O ministro Ricardo Salles, que é processado por crimes ambientais, repetiu seu chefe, Bolsonaro na TV, e aproveitou para fazer acusações infundadas à Venezuela pelo derramamento do óleo.
O fato do óleo coletado ser de origem venezuelana, como atesta estudo divulgado pela Petrobrás, não significa que ele vazou para o mar naquele país, como insinuam Bolsonaro e seus ministros.
Aliás, estudo da UFRJ, conclui, após analisar a trajetória do óleo e as correntes marinhas, que a substância veio de um ponto localizado em alto mar do Oceano Atlântico, a cerca de 600 a 700 km a leste da costa brasileira.
Mas, mesmo com esses estudos, Salles destilou as baboseiras acusatórias típicas do bolsonarismo.
“O presidente determinou que fosse encaminhada solicitação formal à Organização dos Estados Americanos (OEA) para que a Venezuela se manifeste sobre o material coletado”, disse ele.
Nenhum pedido foi feito para a empresa Shell, mesmo tendo aparecido vários barris com a marca da empresa no litoral brasileiro contendo o mesmo óleo que contaminou as praias.
“Esse processo investigativo tem como principal objetivo determinar as causas e origens desse óleo e, com isso, não apenas fazer cessar o seu aparecimento no litoral brasileiro, mas também obter informações que nos permitam responsabilizar aqueles que tenham contribuído para esse desastre ambiental”, disse o ministro no pronunciamento.
A sensação que causou na população a fala do ministro é a mesma que ocorreu no episódio das queimadas na Amazônia. Muitas acusações aleatórias e sem provas e poucas medidas concretas de ajuda para enfrentar o problema.