José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), defendeu o fortalecimento do Mercosul e das relações comerciais com a Argentina, ao contrário do que vem defendendo o governo Bolsonaro, após a eleição de Alberto Fernández no país vizinho.
“A Argentina tem uma situação muito difícil e nós temos que ajudar. Ajudar é não atrapalhar, deixar a Argentina tomar as decisões dela. Ela tem os problemas que são naturais dela, que estão aí e só ela pode resolver”, declarou.
“Temos que fortalecer o Mercosul, particularmente a Argentina, e se nós não ajudarmos a Argentina, nós é que teremos prejuízo, porque quando a gente deixa de exportar para Argentina, nós estamos gerando desemprego no mercado interno. É interessante, economicamente falando, que o Brasil apoie a Argentina no que for preciso. Ela tem que sair dessa situação econômica que está hoje e ter mais acesso ao mercado internacional”.
Castro destacou que a relação comercial entre os países do Mercosul está baseada em produtos manufaturados, ao contrário dos Estados Unidos, “um importante parceiro, mas têm na pauta petróleo, suco de laranja, commodities. Para a Argentina, 95% é manufatura”, enfatizou.
“O Mercosul é importante para o Brasil porque eles importam basicamente produtos manufaturados do Brasil. Não podemos esquecer que para cada um milhão de dólares de exportação de manufaturados, são gerados 50 mil empregos diretos. Cada vez que nós reduzimos as exportações para a Argentina, nós reduzimos o nível de empregos”, argumentou.
“Então, nós temos que fortalecer a Argentina para que ela possa importar mais, e cada vez que ela importa mais, ela gera emprego no mercado interno. Então é fundamental, cerca de 95% de tudo que se exporta para o Mercosul são manufaturados”, enfatizou o presidente da AEB.
“Completamente oposto da China, 95% do que exportamos para a China são commodities e não manufaturados”, declarou ele, em entrevista à Rádio Jovem Pan.
Castro defendeu que “é importante que a Argentina possa estar junto com o Brasil nas negociações internacionais”.
“O que nós exportamos de commodities, do agronegócio, é o mesmo que a Argentina exporta. Se nós estamos juntos, nós vamos enfrentar os Estados Unidos juntos também. Se houver um acordo entre EUA e China por conta da guerra comercial, o Mercosul é que sai perdendo, porque os EUA querem obrigar a China a comprar 50 bilhões de dólares dos EUA, do agronegócio, e é certamento o que o Brasil e a Argentina exportam”.
Segundo Castro, pela primeira vez o Brasil vai apresentar um déficit comercial com a Argentina. “Nos últimos dois anos nós vamos cair 50% em volume das exportações para a Argentina e pela primeira vez, em 2019, o Brasil vai apresentar um déficit comercial com a Argentina. A última vez foi em 2003 de apenas 100 bilhões de dólares”.
Jair Bolsonaro declarou que “a Argentina escolheu mal” ao comentar o resultado das eleições que elegeu Alberto Fernández e Cristina Kirchner para governar o país. Ameaçou isolar a Argentina e até tirá-la do Mercosul.
Para o dirigente da AEB, “temos que esquecer aspectos ideológicos. No comércio internacional ninguém exporta ideologia, exporta bens e serviços. Nós temos que criar condições para que a Argentina possa se recuperar o mais rapidamente possível, independente de ideologia. A recuperação da Argentina significa mais exportação do Brasil para Argentina”.
“Se o Brasil ajuda a Argentina, ela se volta para o Brasil naturalmente, porque somos mais próximos. Ao ajudar a Argentina, estamos nos autoajudando”, disse.