A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) condenou, através de nota, a instigação violenta de milicianos virtuais bolsonaristas, nas redes sociais, após Augusto Nunes agredir fisicamente o jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, durante participação no programa Pânico, da Jovem Pan, na quinta-feira (7).
Entre os que apoiaram a covarde agressão estão o guru de Bolsonaro, o astrólogo Olavo de Carvalho, e Carlos Bolsonaro, como denuncia a nota da entidade.
“A onda de reações que se seguiu ao episódio dispara um alerta que não pode ser ignorado a respeito do estágio que a hostilidade aos jornalistas e aos veículos de imprensa atingiu no Brasil. Quem atiça esse clima de hostilidade tem intenção de calar vozes críticas e sufocar a liberdade de expressão – sem ela, as outras liberdades também morrerão”, destaca o texto da Abraji.
“Como em outras ocasiões, membros do governo e pessoas influentes no poder difundiram mensagens de incitação direta à violência, como no caso de Olavo de Carvalho, ou de aprovação velada, como no caso de um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro”, prossegue a entidade.
Augusto Nunes, da Jovem Pan, Veja e Record, agrediu com um soco o jornalista do The Intercept após Greenwald chamá-lo de “covarde” por ter feito comentários e insinuações repugnantes sobre os seus filhos com o deputado David Miranda. Greenwald cobrou a declaração, mas Nunes se esquivou e não repetiu o que disse em um programa seu, sendo chamado de “covarde” pelo jornalista do The Intercept. Ele atacou o jornalista, mas Greenwald reagiu à agressão, desferindo um tabefe em Augusto Nunes.
O programa Pânico foi suspenso por 12 minutos. Na volta, Augusto Nunes abandonou a atração, enquanto Glenn continuou na bancada.
Na internet ou fora dela a ação de Nunes foi largamente reprovada e Greenwald recebeu apoio de inúmeros setores, personalidades, políticos, artistas e internautas diversos.
A própria Jovem Pan lamentou o episódio e pediu perdão a Gleen.
O ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PDT) deu todo apoio a Greenwald “contra a violência praticada por esse bandido chamado Augusto Nunes!”. “Augusto Nunes é uma das piores espécies de gente”, disse Ciro, “destruindo qualquer valor, fazendo uso da calúnia, da agressão, do insulto e da defesa dos piores valores da direita bandida. Agora, inclusive, [o uso da] violência, o fascismo, a transgressão aos limites do Estado de Direito democrático”.
“Nosso apoio e solidariedade ao jornalista Greenwald e à sua família que foram covardemente agredidos ao vivo na Rádio Jovem Pan. Que a barbárie seja combatida e repudiada”, disse a deputada Luiza Erundina (Psol-SP).
O humorista Fábio Porchat disparou: “Augusto Nunes, você é um covarde”. Para o ator, humorista e roteirista Gregório Duvivier, Augusto Nunes “é um covarde”. Pelo Twitter a cantora Elza Soares comentou sobre o fato: “O que está acontecendo no meu país! Eu preciso, nós precisamos, (re)encontrar o país”.
O apresentador Danilo Gentili, respondendo a um internauta que apoiou a agressão de Augusto Nunes, disse: “Esse é o tipo de verme parasita que você sustenta”.
O ator José de Abreu afirmou que “Augusto Nunes não vale nada, é um verme”. “Covarde para ele é elogio”.
Leia a íntegra da nota da Abraji:
“A agressão física de Augusto Nunes contra Glenn Greenwald, após uma discussão acalorada deu início a uma onda de ataques à imprensa, na internet, como poucas vezes vimos nos últimos anos no Brasil. A cena de violência, difundida exponencialmente nas redes sociais nesta quinta-feira, 7/11/2019, passou a ser usada a seguir como exemplo de comportamento a ser adotado pelos descontentes com a imprensa em geral – a despeito do episódio em si envolver desavenças e comentários de cunho pessoal entre Nunes e Greenwald. Como em outras ocasiões, membros do governo e pessoas influentes no poder difundiram mensagens de incitação direta à violência, como no caso de Olavo de Carvalho, ou de aprovação velada, como no caso de um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro
A Abraji emite notas sobre ameaças a jornalistas no exercício da profissão. O debate ocorrido na emissora não corresponde a esse parâmetro. Entretanto, a onda de reações que se seguiu ao episódio dispara um alerta que não pode ser ignorado a respeito do estágio que a hostilidade aos jornalistas e aos veículos de imprensa atingiu no Brasil. Quem atiça esse clima de hostilidade tem intenção de calar vozes críticas e sufocar a liberdade de expressão – sem ela, as outras liberdades também morrerão.
Diretoria da Abraji, 7 de novembro de 2019”
Veja vídeo do caso: