É por isso que Lula e Dilma para realizá-las mudaram o nome para “concessões”
Em 2006, quando fazia campanha eleitoral cantando as excelências do “tripé macroeconômico” (meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário), Lula quase perdeu para Alckmin no primeiro turno.
O presidiário Antônio Palocci, seu maior colaborador na época, apesar de ter deixado o ministério no início da campanha, o havia convencido de que o discurso neoliberal dava prestígio (e dinheiro) junto às elites. O que não dava era voto no povão (ao menos para o ex-sindicalista).
Lula então fez um cavalo de pau e pôs no centro da campanha a questão das privatizações, tal como fazia o HP. Alckmin havia sido presidente do Programa Estadual de Desestatização (1995-2000), se atrapalhou com o tema. Lula bateu e ganhou a eleição. Alckmin perdeu 2,5 milhões de votos entre o primeiro e o segundo turno. Lula ganhou 12 milhões.
Segundo a pesquisa divulgada hoje (26) pelo Datafolha, “a privatização de estatais sofre resistência inclusive de eleitores de partidos e políticos favoráveis à venda das estatais”. Entre os eleitores do PSDB, 37% se declararam a favor, enquanto 55% se disseram contra. Mesmo entre os abestados que consideram bom ou ótimo o governo de Michel Temer, independente do partido preferido, 51% se opõem às privatizações.
A pesquisa mostra também que a aceitação cai conforme diminui a renda familiar. Entre os brasileiros que ganham até dois salários mínimos, só 13% são a favor.
É natural que seja assim. A propriedade pública é o único remédio racional e sustentável contra a concentração da propriedade nas mãos de um punhado cada vez mais reduzido, porém mais voraz, de famílias.
Mas é preciso estar atento para não comer gato por lebre.
Lula derrotou Alckmin denunciando o programa de privatizações que ele coordenou. Mas não moveu uma palha para reestatizar, ou seja, devolver ao patrimônio público, qualquer das empresas privatizadas nos anos de FHC, nem mesmo a Vale do Rio Doce, que se tivesse permanecido estatal não teria matado o rio que trazia no nome.
Na verdade, Lula e Dilma foram ainda mais longe, condenando as privatizações no discurso enquanto as realizavam na prática, dos aeroportos ao maior campo de petróleo do mundo, o campo de Libra, com o nome de “concessões”.
O fato é que o PT não é contra as privatizações – pelo menos desde o grande estelionato de 2010. E quanto mais disser que é, é porque não é.
SÉRGIO RUBENS