O porteiro do condomínio de luxo da Barra da Tijuca, onde moram Jair Bolsonaro e o assassino da vereadora Marielle Franco, Ronnie Lessa, prestou depoimento à Polícia Federal na terça-feira (19) e, segundo o jornalista Lauro Jardim, mudou a versão que ele apresentou à Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre a entrada no condomínio do comparsa de Ronnie Lessa no dia 14 de março de 2018, data do assassinato da vereadora.
O porteiro permaneceu recluso por mais de um mês e estava sendo ameaçado de ser preso com base na Lei de Segurança Nacional por suspeita de falso testemunho com enquadramento no crime de caluniar ou difamar o presidente da República. O Ministério Público Federal analisava imputar-lhe fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação. O delito é punido com 1 a 4 anos de reclusão. Segundo reportagem da revista Veja, o porteiro estava apavorado e não quis nem dar entrevista.
Agora, diante da Polícia Federal, ele apresentou uma versão de que se confundiu quando anotou que teria ligado para a casa 58 do condomínio, que pertence a Jair Bolsonaro. Ele afirmou estar se sentindo muito pressionado, mas negou que alguém houvesse pressionado para que ele dissesse que ligou para a casa de Bolsonaro.
O porteiro teve seu nome e endereço divulgado pela revista Veja e passou a viver em pânico com o que poderia acontecer com sua família.
A PF foi acionada a pedido do ministro Sergio Moro que apresentou o ofício junto ao MPF. Nos dois depoimentos anteriores, nos dias 7 e 9 de outubro, o porteiro disse ter ouvido uma autorização do “seu Jair”, da casa 58, para que um dos acusados da morte de Marielle Franco entrasse no Vivendas da Barra.
Disse também que ao identificar que o carro Logan prata, placa AGH 8202 de propriedade de Élcio Queiroz, comparsa de Lessa, se dirigiu para a casa 66 e não para a casa 58, ligou novamente para a casa 58 e obteve a resposta de que lá já se sabia para onde Élcio Queiroz estava indo.
Todo esse relato e mais a anotação manual que ele fez na planilha de controle de entradas e saídas do condomínio, foram desmentidos na audiência com a Polícia Federal.
A PF não teria conseguido, segundo o jornalista, concluir se o porteiro se confundiu ou se foi pressionado a citar “Seu Jair” em seus depoimentos anteriores – e, se houve pressão, de quem partiu.
Jair Bolsonaro acusou o seu antigo aliado, o governador do Rio, Wilson Witzel, de ter participado de uma fraude envolvendo o porteiro para atingi-lo politicamente.
Bolsonaro chegou a se apoderar do sistema eletrônico de controle de entrada e saída de visitantes do condomínio, segundo ele, para que não houvesse adulterações das informações.
Vários parlamentares entraram com denúncia junto ao MPF acusando o presidente de tentativa de obstrução da Justiça pelo fato dele subtrair provas de uma investigação que estava em andamento.