Educadores alertam que “os conflitos precisam ser resolvidos no ambiente escolar, sem o clima de denuncismo”
Dizem os especialistas que, quando duas nulidades se encontram, o resultado é o surgimento de alguma estupidez. Não deu outra. A tese foi inteiramente confirmada com o que saiu do encontro entre Abraham Weintraub e Damares Alves.
Eles anunciaram na terça-feira (19) a criação de um canal para deduragem contra os professores de todo o Brasil. A ideia é que as famílias e os alunos denunciem os “desvios” dos professores para o governo federal. Os dois sustentam que, com a implantação desse método nazista de caça às bruxas, será garantida a defesa daquilo que eles chamam de moral, religião e ética da família.
NAZISMO
Essa cruzada persecutória bolsonarista faz lembrar os períodos iniciais da implantação do nazismo na Alemanha. Os agentes das SA, órgão da bandidagem de Hitler cujo nome foi traduzido para o português como “Tropas de Assalto”, ou seja, as milícias de Hitler, montavam verdadeiras redes de deduragem nas escolas, nas empresas e nas comunidades. Bem ao estilo que quer agora o governo.
Quem fosse apontado como “desviante” da moral “nazista” e da “ética” pregada pelo “führer” era perseguido, perdia seu emprego e, muitas vezes, era preso e desaparecia misteriosamente.
ANACRÔNICO E AUTORITÁRIO
Em editorial de quarta-feira (20), o tradicional jornal “Estadão” desancou a proposta:
“A verdade é que, apelar para o denuncismo como instrumento para impor uma visão de mundo padronizada a todos os professores e escolas do País, sob a justificativa de defender a moral, a religião e a ética da família, é uma iniciativa que expressa uma perigosa forma de messianismo e de autoritarismo”.
O jornal questiona que conceitos de moral, de família, de ética e de religião têm os bolsonaristas? Nada mais anacrônico, autoritário e inaceitável do que o governo querer impôr aos professores e alunos os seus conceitos e a sua “visão de mundo”.
Damares Alves, por exemplo, foi indicada por Bolsonaro para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Não tinha nenhuma vivência com políticas públicas. Tornou-se pastora evangélica e, sem equilíbrio nem para estar no governo, virou a paladina dos bons costumes de Bolsonaro.
É dela o relato abaixo, que revela bastante sobre as prováveis origens de sua falta de equilíbrio emocional.
Diz a ministra que, quando criança, ao sentar-se numa goiabeira, viu Jesus. Conversou com Jesus. Segundo ela, essa “experiência divina” ocorreu depois de sofrer abusos sexuais.
PALADINA DA FAMÍLIA
Alardeia ser paladina da “família”, mas, há 15 anos, retirou à força uma criança indígena do seio de sua família em Mato Grosso e nunca registrou essa criança.
Kajutiti Lulu Kamayurá, hoje com 20 anos de idade, é da aldeia Kamayurá. Ela foi arrancada irregularmente por Damares, com apenas cinco anos, das mãos de sua avó, Tanumakaru, uma senhora de pele enrugada e cega de um olho. Até hoje a tribo não se conformou com a agressão.
Além de possuir sérias limitações sobre o conceito de família, Damares apresenta mais problemas. Sua fixação em supostas e alucinadas “transgressões sexuais”, que estariam ocorrendo nas escolas por todo o Brasil, aponta na direção de traumas não resolvidos.
A ministra é afetada em excesso quando o tema é a sexualidade.
Mamadeiras fálicas e kits gays deixam-na alvoroçada, nervosa e com a excitação à flor da pele. Não é por acaso que o anúncio do canal fascista de denúncia foi feito logo após um suposto episódio envolvendo um professor que teria falado sobre educação sexual em sala de aula.
O professor, segundo Damares, teria exposto “questões explícitas”. Ela parece estar sempre vendo “coisas explícitas” em todos os lugares.
Outros relatos da ministra, reproduzidos abaixo, dão mais pistas das origens de seus transtornos, que, não por acaso, tanto agradaram a Bolsonaro.
“Fui abusada por dois religiosos. Da primeira vez, foi um missionário da igreja evangélica que frequentávamos na época, em Aracaju. Foram várias vezes em um período de dois anos. Começou quando eu tinha seis anos e a última vez que o vi estava com oito”, relata Damares.
“(O segundo) não foi às vias de fato. Me recordo de quatro momentos. Passava a mão no meu corpo, me beijava na boca, me colocava no colo. Uma vez ejaculou no meu rosto”, disse ela.
Essa falas mostram bem o quão reprimida e transtornada é a bolsonarista escalada, junto com o ministro da Educação, para a cruzada moral contra os professores.
WEINTRAUB, UM RECALCADO
Abraham Weintraub, por sua vez, é um ministro arrogante que teve extrema dificuldade na graduação. Ao se tornar ministro, destilou todo seu ódio contra as universidades, contra os professores e estudantes. É dele a afirmação, feita na quinta-feira (21) que “algumas universidades escondem plantações extensivas de maconha”.
Recentemente, na data da Proclamação da República, como não tinha coisa mais séria para fazer, atacou as Forças Armadas do Brasil e saiu em defesa da monarquia.
“Chegamos ao traidor: tinha a confiança do Imperador, participou do golpe e não teve coragem de falar pessoalmente com Dom Pedro II que ele e sua família seriam exilados. O Brasil foi entregue às famílias oligarcas que, além do poderio econômico, queriam a supremacia política”, disse o ministro. Suas declarações causaram grande mal estar entre os militares em todo o Brasil.
Conseguiu a façanha de colocar todo o mundo acadêmico contra ele. Não fez absolutamente nada de relevante até agora à frente da pasta da Educação a não ser cortar verbas e ameaçar professores e alunos.
Depois de por em risco as Universidades Federais e Institutos de pesquisa, ele vê esse canal de denúncia como sua grande realização.
“Basicamente, a gente está instituindo um canal institucional e passando para as autoridades, para os municípios, que eles têm obrigação de promover um ambiente construtivo para as crianças. E, a partir daí, caso haja problemas, os pais podem acionar os ministérios, caso não consigam resolver primeiro no diálogo, numa conversa”, falou o ministro.
Ele não podia deixar de aproveitar também para querer cortar mais verbas. “Quem não performar bem, quem não cuidar do ambiente adequado dentro das escolas vai ser prejudicado no envio de recursos do governo federal”, ameaçou Weintraub.
DENUNCISMO É DANOSO, DIZEM ESPECIALISTAS
Educadores alertam contra o canal do governo. Eles dizem que “os conflitos precisam ser resolvidos no ambiente escolar, sem o clima de denuncismo”. A Educação vive problemas muito graves para serem resolvidos. No entanto, as nulidades do governo Bolsonaro só pensam em como destruir e retroceder.
Weintraub já chegou na monarquia, Damares certamente vai estar advogando em breve as fogueiras para ensinar “hereges” a submeterem a ciência ao obscurantismo bolsonarista.
“A gente tem uma vasta evidência mostrando que a aprendizagem acontece quando há um ambiente de confiança, e uma boa relação entre alunos e professores. Então, esse tipo de canal de denúncia, que pode propiciar uma perseguição, uma desconfiança, e um olhar diferente, desconfiado, das famílias em relação aos professores, isso pode prejudicar a aprendizagem dos nossos alunos que já está em um patamar muito baixo”, explicou a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz.
“Esse tipo de estratégia prejudicará o diálogo”, diz Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
SÉRGIO CRUZ