O vice-presidente do Equador, Jorge Glas, perdeu o cargo definitivamente na meia-noite de terça-feira, 02, por conta de sua prisão por receber subornos da Odebrecht. Ele foi condenado em primeira instancia a seis anos de cadeia.
Glas já estava preso há três meses. E, quando a autoridade fica fora de sua função por mais de 90 dias, o Parlamento deve “escolher o vice-presidente, em caso de sua falta definitiva, de uma lista de três proposta pelo presidente da República”, diz a Constituição equatoriana em seu artigo 120.
Deverá se apresentar em 7 de janeiro ante a comissão de Fiscalização da Assembleia Nacional cujos membros se reuniram na terça-feira, 02, para declarar julgamento político contra ele. Glas é o funcionário equatoriano de mais alta patente envolvido no escândalo multinacional da construtora Odebrecht.
Em 13 de dezembro foi condenado depois que a Promotoria o acusou de receber subornos no montante de 16 milhões de dólares para beneficiar a Odebrecht com contratos do Estado.
A rede de corrupção, liderada pela Odebrecht, esteve conformada por funcionários de ao menos sete instituições, entre elas quatro empresas públicas, assinalou reportagem do jornal Expreso de Quito.
Os detalhes constam da acusação da Promotoria que investiga Ricardo Rivera, tio de Jorge Glas e a outras 16 pessoas.
Na lista, ocupa o primeiro lugar a Refinaria do Pacífico com dois projetos impulsionados pelo governo do ex-presidente Rafael Correa, que se adjudicaram à Odebrecht. Estes são a terraplenagem e o aqueduto La Esperanza. A essas empresas se soma a Corporação Elétrica do Equador (Celec EP) com o projeto hidrelétrico Manduriacu. Também se menciona a Secretaria Nacional de Água (Senagua) com o projeto de irrigação Trasvase Daule-Vinces.
Finalmente vem a Empresa Pública Hidrocarburos EP Petroecuador, com a construção do poliduto Pascuales.
A Promotoria se refere ainda ao Ministério Coordenador de Setores Estratégicos, à vice-presidência (ambas as entidades lideradas no momento da assinatura dos contratos por Jorge Glas) e a Auditoria Geral dirigida pelo ex-auditor fiscal, Carlos Pólit, prófugo em Miami e investigado por associação ilícita e concussão.
A articulação da Odebrecht em diversos países da América Latina tinha no ex-presidente Lula peça fundamental. A justificativa de sua ida a países que depois serviriam de contratantes da Odebrecht eram palestras, como a que deu em Quito, em 7 de maio de 2013 (como está descrito no boletim informativo do Instituto Lula), antecedida de encontros com dirigentes destes países. As palestras eram pagas a peso de ouro, totalizando mais de 20 milhões de reais, além de outras somas e bens agora investigados no Brasil.
A Odebrecht, após abertas as portas por Lula e articuladores próximos, passava a subornar lideranças locais que entregavam contratos bilionários à empreiteira. Levantamentos realizados somente no Equador levaram a Justiça local a exigir dos condenados a repatriação de 33,5 milhões de dólares a título de reparação ao Estado.
Jorge Glas foi vice-presidente do Equador no governo de Rafael Correa e reeleito para o cargo na chapa presidida por Lenín Moreno. O atual presidente já o destituiu de suas funções e retirou suas atribuições.
SUSANA SANTOS