CARLOS LOPES
Hoje apresentamos aos leitores a última parte desta série. Aliás, a mais difícil – tanto assim que atrasamos em quatro dias a sua publicação.
Poderíamos, com certeza, continuar por muito mais: a quantidade de pintores soviéticos – e estamos nos referindo apenas àqueles do realismo socialista – é algo muito impressionante.
Porém, nosso objetivo não é esgotar o tema – até mesmo porque não conseguiríamos -, mas apenas incentivar o conhecimento de obras que são fundamentais para a Humanidade.
Sobretudo quando o preconceito sobre essa vertente da arte é tão pesado e violento.
Há, na pintura do realismo socialista um fenômeno análogo ao acontecido durante a II Guerra quanto ao heroísmo, sobretudo soviético.
Falou-se muito, na historiografia, de “heroísmo em massa”. Com efeito, batalhas como as de Moscou, Stalingrado, Sebastopol e o cerco de Leningrado evidenciaram o heroísmo de milhões de seres humanos. A ideia do que é um herói ultrapassou completamente os limites do famoso livro de Thomas Carlyle – uma ideia meramente burguesa, ainda que, também, antidemocrática (daí a frase de Carlyle: “A democracia é o desespero de não encontrar heróis que nos dirijam”).
Algo semelhante aconteceu com a arte após a Revolução Russa: ela tornou-se uma atividade de massa. Daí a quantidade de pintores excepcionais, revelados (ou, melhor, educados) nas instituições soviéticas de ensino. Daí, também, a quantidade de pinacotecas, galerias e museus que até hoje são, exatamente pela sua quantidade (mas não apenas), características dos países que formavam a URSS.
Um amigo fez-nos uma pergunta sobre a atitude oficial, na URSS da época de Stalin, em relação à arte.
Não estava se referindo, obviamente, ao incentivo em geral que o Estado socialista proporcionou, mas à atitude em relação a correntes não realistas ou anti-socialistas.
Abaixo, os leitores podem verificar o caso de Mikhail Nesterov, que permaneceu na URSS, apesar de sua oposição – e, acrescentamos nós, não apenas continuou pintando, como deu muitas opiniões sobre a obra de outros pintores…
É bastante significativa a resposta dada por Stalin, em 1929, a uma carta do dramaturgo soviético Vladimir Bill-Bielotserkovski. Nela, Stalin fala da literatura, e, em especial, do teatro, mas não há razão para achar que sua atitude em relação à pintura fosse diferente.
Bill-Bielotserkovski lhe perguntara sobre o “golovanovismo” – uma tendência, liderada por um diretor de ópera do Teatro Bolshoi, Nikolái Golovánov, a congelar o repertório, isto é, manter o mesmo repertório da época pré-revolucionária.
Stalin, então, respondeu:
“Considero errônea a própria abordagem da questão dos ‘direitistas’ e dos ‘esquerdistas’ na literatura (e, portanto, no teatro). Os conceitos ‘direitista’ e ‘esquerdista’ são, atualmente em nosso país, conceitos de partido, rigorosamente falando, da vida interna do Partido. Os ‘direitistas’ e os ‘esquerdistas’ são gente que se desvia, em uma ou outra direção, da linha puramente de partido.
“Por isso, seria estranho aplicar esses conceitos a uma esfera não de partido e incomparavelmente mais ampla, como a literatura, o teatro etc. Esses conceitos ainda podem ser aplicados a este ou aquele círculo do Partido (ou seja, comunista) na literatura. Dentro desse círculo, pode haver ‘direitistas’ e ‘esquerdistas’.
“Mas, utilizados na literatura na atual etapa de seu desenvolvimento, em que há toda espécie de tendências, incluindo tendências antissoviéticas e francamente contrarrevolucionárias, significaria virar todos os conceitos pelo avesso. Na literatura, seria mais acertado operar com conceitos classistas, ou, inclusive, com os conceitos ‘soviético’, ‘antissoviético’, ‘revolucionário’, ‘contrarrevolucionário’ etc.
“Do que disse, conclui-se que não posso considerar o ‘golovanovismo’ um perigo ‘de direita’ ou ‘de esquerda’, pois se acha à margem das tendências do Partido.
“O ‘golovanovismo’ é um fenômeno de caráter antissoviético. Isso, naturalmente, não implica que o próprio Golovánov não possa corrigir-se, que não possa livrar-se de seus erros, que ele tenha que ser perseguido, acossado, inclusive quando já está disposto a abandonar seus erros, que deva ser forçado, em consequência, a ir para o exterior.
“Ou, por exemplo, ‘A fuga’, de Bulgákov, que tampouco pode ser considerada uma manifestação de perigo ‘de esquerda’ ou ‘de direita’. ‘A fuga’ é uma tentativa de despertar compaixão, quando não simpatia, em relação a certas camadas da emigração antissoviética e, portanto, uma tentativa de justificar ou semi-justificar a causa dos guardas brancos. ‘A fuga’, tal como é, constitui um fenômeno antissoviético.
“A propósito, eu não teria nada contra que se encenasse ‘A fuga’, se Bulgakov acrescentasse a seus oito sonhos, um sonho a mais ou dois, mostrando as fontes sociais internas da guerra civil na URSS, para que os espectadores pudessem compreender que todos esses Serafins ‘honrados’ à sua maneira, e todos esses professores, não se viram varridos da Rússia por capricho dos bolcheviques, mas porque estavam montados nas costas do povo (apesar de sua ‘honradez’), e que os bolcheviques, ao desmontar a esses ‘honrados’ partidários da exploração, cumpriram a vontade dos operários e dos camponeses, procedendo, portanto, com toda a justeza.
“Por que são representadas com tanta frequência obras de Bulgákov? Certamente, porque não temos suficiente obras nossas que possam ser representadas. Na ausência de pão, até “Os dias dos Turbín” [outra peça de Bulgákov] podem ter a função de brioches.
“Naturalmente, é muito fácil ‘criticar’ e exigir que se proíba a literatura não proletária. Mas não se pode considerar que o mais fácil é o melhor. O importante aqui não é proibir, mas deslocar da cena, passo a passo, as velhas e as novas lorotas não proletárias, através da emulação, através da criação de verdadeiras e interessantes obras de arte soviéticas, que podem substituí-las. E a emulação é uma coisa importante e séria, pois só em um ambiente de emulação pode conseguir-se a cristalização de nossa literatura proletária” (cf. J. Stalin, Resposta a Bill-Bielotserkovski, 02/02/1929, Obras XI, Ediciones Vanguardia Obrera, Madri, 1984, pp. 348, 349 e 350).
Como dissemos, o que valia para a literatura, valia para o conjunto da arte. E, note o leitor, Stalin, acima, refere-se a Bulgákov, um autor abertamente antissoviético e contrarrevolucionário – hoje tornado ícone cultural das beatas carpideiras do anti-comunismo.
Abaixo, nós procuramos organizar uma antologia que expusesse, ainda que minimamente, a obra de pintores que não abordamos, ainda, nesta série. Alguns – por exemplo, os irmãos Tkachev – deveriam ser um capítulo especial.
Entretanto, o tempo é curto, ainda que a arte seja longa.
Minha mãe – Neuza Lopes, nascida (como dizem os franceses) Neuza Castilho – era bastante inconformada com a minha tendência algo livresca, na juventude. Vivia dizendo que todo conhecimento é inútil, se não é colocado, nas suas palavras, “a serviço da classe operária”. Ou, às vezes, dizia ela, o que a gente sabe não tem importância se não é transmitido para o povo (e, aqui, não me lembro exatamente das suas palavras, mas o conteúdo era esse).
Lembrei, ainda há pouco, que jamais dediquei qualquer texto que escrevi para a Dª Neuza que tanto me aporrinhava com seu amor à classe operária.
Então, que seja este, in memoriam. Sobretudo em um tempo no qual os imbecis, apologistas da ignorância e fascistas, que ela tanto detestava, estão no governo, essa dedicatória é muito adequada.
Começaremos, então, por uma pintora, que também deveria ser parte especial desta série. Mas é o que conseguimos fazer, por enquanto.
Tatiana Yablonskaya
Tatiana nasceu em Smolensk, na Rússia, no ano da Revolução, mas viveu quase sempre na Ucrânia, onde foi aluna – e depois professora – do Instituto Estatal de Arte de Kiev. Recebeu dois Prêmios Stalin (1949 e 1951), foi condecorada com a Ordem do Mérito da Ucrânia (1951) e a Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho, da URSS (também em 1951), e recebeu o título de Artista do Povo da URSS (1960).
Para entender a sua obra, talvez o melhor seja recorrer às suas próprias palavras. No final da década de 40 do século passado, algumas telas suas foram criticadas por “formalismo” – basicamente, influência do impressionismo.
Ao mesmo tempo, seus alunos, no Instituto Estatal de Arte de Kiev, visitando um kolkhoz – uma cooperativa agrícola -, comunicaram a ela que não havia lá nada de interessante para ser objeto da arte. Além disso, “as pessoas estão trabalhando o tempo todo e se recusam a posar”.
Tatiana respondera: “É impossível que um lugar onde trabalham tantas pessoas boas possa ser entediante”.
Foi, então, que ela começou a sua tela “Grão” (abaixo). Depois, escreveu, em artigo para o jornal “Kultura i Zhizn”:
“O vasto escopo de trabalho realizado pelos trabalhadores felizes e unidos do kolkhoz me surpreendeu. Estar lá me fez perceber claramente a grande dívida que nossa arte ainda tem com o nosso grande povo, quão pouco ela havia feito para revelar toda a grandeza e dignidade do povo soviético e a vastidão da reconstrução socialista pela qual nosso país estava passando… O modo como vi a arte mudou completamente após minha visita ao kolkhoz. O formalismo e o naturalismo encontram fundamento no afastamento do artista de nossa realidade socialista.
“Estou absolutamente convencida de que uma interação longa, atenciosa e significativa com o melhor do povo soviético, visitando as melhores fábricas e kolkhozes, dará à nossa arte um grande momento…
“Antes da minha visita ao kolkhoz, ser criticada por formalismo me machucou um pouco. Agora, eu concordo com essa crítica… Minha visão de mundo mudou. Eu abordei a minha pintura mais recente, ‘Grão’, de modo diferente. Expressei melhor o sentimento que me dominava quando estava no kolkhoz, esforcei-me por expressar o alegre trabalho comunitário de nosso belo povo…” (cf. Olga Polyanskaya, Tatiana Yablonskaya. 1949. The artist’s “true heart”, The Tretyakov Gallery Magazine nº 4/2014).
Tatiana faleceu em 2005, na capital da Ucrânia, Kiev, aos 88 anos.
Nikolay Andreyev
Andreyev foi um dos teóricos da estética do realismo socialista. Principalmente, foi escultor, iniciando a “Leniniana” – uma série de esculturas de Lenin. Mas também foi um retratista muito talentoso. Nascido em Moscou, no ano de 1873, Andreyev faleceu, também em Moscou, no ano de 1932.
Kukryniksy
Kukryniksy não é um pintor, mas três pintores: Mikhail Kupriyanov, Porfiri Krylov e Nikolai Sokolov. O nome Kukryniksy é uma combinação do nome desses artistas (Kupriyanov, Krylov, Nikolai), que quase sempre trabalharam juntos – e que eram notáveis, antes da II Guerra, por suas charges políticas, sobretudo antifascistas.
Entretanto, na II Guerra, eles foram autores de um quadro célebre, “Os fascistas abandonam Novgorod” – realizado após uma visita à essa cidade, libertada pelo Exército Vermelho, mas arrasada pelos nazistas – e outra obra muito conhecida, “O fim de Hitler“, também chamada “Os últimos dias de Hitler no bunker da Chancelaria do Reich“.
Aqui, não pretendemos resumir a obra desses artistas – que receberam, os três, o título de Artistas do Povo da URSS – porque é impossível.
Mikhail Kugach
Mikhail Kugach, como já mencionamos, é filho de Yuri Kugach (v. O realismo socialista na pintura (IX): Yuri Kugach). Mas é, ele próprio, um pintor notável.
Maria Bree-Bein
A maior parte da obra de Maria Bree-Bein é constituída por magníficos cartazes – geralmente sobre a elevação da mulher no socialismo. Mas deixou também algumas telas. A que reproduzimos abaixo é, certamente, a mais conhecida – e com toda justiça.
Os irmãos Tkachev
Tanto Alexei quanto Sergei Tkachev têm obra própria. Entretanto, eles são conhecidos principalmente pelas obras que fizeram juntos. Que é, aliás, a maior parte, e a melhor, da obra de ambos. Pode-se dizer: esta é a melhor obra própria dos irmãos Tkachev.
Sergei Tkachev
Aqui, um exemplo da pintura do mais velho dos irmãos Tkchev, numa obra, digamos assim, solo.
Alexei Tkachev
Aqui, o mesmo em relação ao outro irmão.
Baqi Urmance
Uma das características – aliás, inevitável – do realismo socialista na URSS foi a incorporação ao manancial da arte, tal como a entendemos desde o Renascimento, de povos antes marginalizados (melhor seria dizer, excluídos).
O pintor tártaro Ğäbdelbaqí İdris ulı Urmançiev, conhecido como Baqi Urmance, é um caso típico. Nascido em 1897 em uma aldeia próxima a Kazan, suas tentativas de aprender desenho foram frustradas até a Revolução de 1917 (os tártaros não podiam frequentar escolas de arte sob o czarismo). Então, foi mineiro no Donbass, professor na região de Tambov, operário em uma fábrica nos Urais e serviu na Ásia Central durante a Primeira Guerra Mundial.
Em 1918, entretanto, conseguiu entrar em uma escola de arte de Kazan – e, em seguida, na famosa VKHUTEMAS, de Moscou. Tornou-se, além de pintor, escultor e fotógrafo.
Baqi Urmance recebeu os títulos de Artista do Povo do Tartaristão, Artista do Povo da Rússia, Artista Laureado do Cazaquistão e foi detentor do Prêmio que tem o nome do fundador da literatura moderna em tártaro, Gabdulla Tukai – o mais importante prêmio cultural do Tartaristão.
Faleceu em 1990, aos 93 anos de idade.
Vladimir Serov
Vladimir Serov liderou a União dos Artistas durante o cerco de Leningrado. Na verdade, dirigiu o trabalho de agitação e propaganda contra os nazistas durante o mais terrível cerco da histórias das guerras.
Duas vezes vencedor do Prêmio Stalin (1948 e 1951), membro da União dos Artistas da URSS, Serov – que não deve ser confundido com o pintor realista russo Valentin Serov (1865-1911) – presidiu a Academia de Artes da URSS (1962-1968), foi deputado no Soviet Supremo e recebeu o título de Artista do Povo da URSS.
Gavriil Gorelov
Gorelov foi um dos pintores que iniciaram sua trajetória no realismo russo de antes da Revolução de 1917, como aluno de Ilya Repin, cuja importância já mencionamos.
Foi também dos mais atacados no período Kruschev, pelos adeptos da “arte do degelo”, como “stalinista”.
Artista laureado da Rússia (1947), Prêmio Stalin (1950), membro da Academia de Artes da URSS (1953), condecorado com a medalha “Por valentes serviços na Grande Guerra Patriótica de 1941-1945”, Gavriil Gorelov faleceu em 1966, aos 86 anos.
Fyodor Sychkov
Sychkov é um pintor fiel a um tema: a aldeia camponesa da Mordóvia, onde, apesar de russo, viveu quase toda a sua vida. Recebeu o título de Artista Laureado da República Socialista Soviética Autônoma da Mordóvia.
Galina Boroday
Esta pintora ucraniana faleceu muito jovem, apenas com 31 anos. Mesmo assim, merece ser aqui incluída. O merecimento, aliás, é inteiramente dela.
Yefim Cheptsov
Também um veterano – iniciou sua trajetória antes da Revolução. Entre esses veteranos, foi dos primeiros a encontrar um novo tema para sua obra: a vida soviética. Faleceu em 1950, com 75 anos, como Artista Laureado da Rússia.
Boris Nemensky
Durante a II Guerra, Boris Nemensky, a partir de 1942, fez parte de uma unidade especial do Exército Vermelho: o Stúdio de Artistas Militares M.B. Grekov. A função desta unidade era registrar a guerra através da arte. Nemensky tinha, então, 19 anos e vinha da Escola de Arte de Saratov.
Nemensky terminou a guerra em um lugar muito – digamos – especial: Berlim. Em artigo para a revista da Galeria Tretyakov, ele conta as suas experiências na guerra: “A fé no meu povo, no meu país, no poder da verdade e no poder da luz nas relações humanas, e, portanto, na arte, ainda está viva em mim. Está viva.” (cf. Boris Nemensky, The Power of Truth and Light, The Tretyakov Gallery Magazine, nº 2, 2015).
Konstantin Yuon
Um artista que nasceu em 1875 e faleceu em 1958 já seria, apenas por isso, notável. Mais ainda quando, depois de ser o primeiro empresário a abrir uma escola de arte particular (1900), após a Revolução foi professor na Academia de Arte em Leningrado e no Instituto de Arte Surikov, de Moscou, diretor do Instituto de Pesquisa da Academia de Artes (1948-1950), primeiro secretário da União dos Artistas Soviéticos (1956-1958), detentor do Prêmio Stalin e da Ordem de Lenin. Sem que ninguém possa dizer que houve privilégio algum nessa trajetória.
Alexander Laktionov
Nascido em 1910 numa família de trabalhadores – seu pai era operário e sua mãe, lavadeira – Laktionov, depois da Revolução, foi discípulo de Izaak Brodsky (v. O realismo socialista na pintura (IV): Izaak Brodsky). Seu quadro “Carta do front” é, sem dúvida, uma obra-prima.
Apesar disso, Laktionov causou polêmica na URSS, acusado, por alguns, de realizar uma obra que segue a fotografia.
O interessante é que a mesma acusação não se fez às tendências “hiperrealistas” de alguns pintores norte-americanos. Aliás, o Museu Guggenheim, suposta meca do pós-modernismo, também não concorda com elas, já que incluiu Laktionov em seu acervo.
Laktionov foi detentor do Prêmio Stalin (1948) e do Prêmio Repin, membro titular da Academia de Artes da URSS (1958) e Artista do Povo da Rússia (1969). Recebeu a Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho (1970). Faleceu em 1972, aos 62 anos.
Vladimir Krikhatsky
Hoje, Vladimir Krikhatsky é mais lembrado por suas contribuições à música – foi um excepcional violonista – que por sua pintura.
Entretanto, esse homem, que nasceu e morreu em Odessa (1877-1942), realizou uma das obras mais populares da década de 30 do século passado, “O primeiro trator” – um ícone, se podemos assim nos expressar – da coletivização da agricultura.
Abram Arkhipov
Devido não somente à importância de sua obra, mas à sua profunda influência na pintura realista russa – inclusive a do realismo socialista – Arkhipov deveria ser estudado à parte. Bem, se não conseguirmos, outros conseguirão – e, aliás, já têm conseguido, a julgar pela quantidade de literatura sobre o artista.
Reparemos, em quadros anteriores à Revolução, como o pintor se dedica aos mais humildes, àqueles que trabalham.
Arkhipov, nascido em 1862, faleceu em 1930.
Vitaly Tikhov
A maior parte da produção de Tikhov é composta por nus femininos – ele foi o Rubens da URSS. Mas não toda, como se pode ver por seu quadro das “stakhanovistas”.
Fyodor Bogorodsky
Bogorodsky nasceu em 1895, na cidade de Nizhny Novgorod. Foi aluno da VKhUTEMAS, a escola de arte em Moscou, de 1922 a 1924. Porém, um pouco antes da Revolução, havia, em 1916, exposto algumas obras. Posteriormente, foi também cenógrafo. Chefe do departamento de pintura e desenho do Instituto de Cinematografia de Toda a União (1938–1959), Artista Laureado da Rússia (1946) e membro correspondente da Academia de Artes da URSS (1947). Faleceu em Moscou, no ano de 1959.
Vasily Yakovlev
Além de pintor, Yakovlev foi restaurador e crítico de arte. Nascido em 1893 em Moscou, recebeu duas vezes o Prêmio Stalin (1943 e 1948), foi Artista do Povo da URSS (1944) e membro titular da Academia de Artes da URSS (1947). Chefe do departamento de restauração do Museu Pushkin (1927 a 1932) e artista-chefe do pavilhão soviético na Exposição Internacional de Agricultura, realizada em 1948, em Praga. Faleceu em 1953 na sua cidade natal. A obra abaixo é uma das mais importantes para a estética do realismo socialista.
Mitrofan Grekov
O objetivo da arte de Grekov era introduzir o realismo nas pinturas de batalha. E foi bem sucedido. A maior parte de suas obras têm como tema a atividade do Primeiro Exército de Cavalaria, onde serviu durante a Guerra Civil. Realizou mais de 300 obras com esse tema. Nascido em 1882, Grekov faleceu em 1934. Em sua homenagem, a unidade de artistas do Exército Vermelho recebeu o nome de Stúdio Grekov.
Nikolay Prisekin
Nikolay foi outro dos integrantes da unidade de artistas do Exército Vermelho – o “Studio M. B. Grekov”. Nascido, em 1928, na aldeia de Borinskoe, Chastaya Dubrava, distrito de Lipetsk, Ucrânia, a maior parte de sua obra tem como tema a II Guerra Mundial. Recebeu o título de Artista Laureado da Rússia e o Prêmio Estatal I. E. Repin.
Ivan Babenko
Ucraniano, nascido em 1935 em Kiev, foi titular da Academia de Artes da URSS. Seus principais trabalhos têm como tema a II Guerra.
Akhmed Kitayev
A história de Kitayev é um exemplo dos dias difíceis – e da humanidade – na URSS. Nasceu no ano de 1925, em uma aldeia da Mordóvia, dentro de uma família extremamente religiosa (seu avô era um sacerdote muçulmano). Durante a luta contra os kulaks, sua família foi deslocada para a Sibéria. Ele tinha, então, cinco anos. Aos 10 anos, escreveu uma carta a Stalin, pedindo que o ajudasse a aprender desenho. Algumas semanas depois, em sua casa, apareceu um militar – Stalin lera a carta – para comunicar que ele iria estudar desenho em Leningrado. Durante a II Guerra – e um pouco depois – estudou em Moscou, onde passou a residir e faleceu, no ano de 1996.
Yuri Tulin
Durante o cerco de Leningrado, Yuri Tulin permaneceu dentro da cidade. Era, então, aluno do Instituto de Pintura, Escultura e Arquitetura, mas foi trabalhar em uma fábrica (as fábricas da cidade não suspenderam sua produção, apesar de bombardeadas diariamente pelos nazistas). Artista Laureado da Rússia, recebeu o Grande Prêmio da Exposição Internacional de Bruxelas, em 1958. Nascido em Maksatikha, província de Tver, Yuri Nilovitch Tulin faleceu em Leningrado no ano de 1983, quando tinha 62 anos.
Mikhail Nesterov
Esta é quase uma curiosidade, mas importante para uma avaliação do ambiente artístico após a Revolução. Nesterov não pertence ao realismo socialista, nem ao socialismo – ao qual sempre se opôs. Era, além disso, um homem religioso, pode-se dizer, carola. Entretanto, não emigrou. Permaneceu na Rússia – isto é, na URSS – e continuou trabalhando, fiel à estética simbolista, até à sua morte, em 1942.
Antes que haja mal entendidos ou acusações de que estamos escondendo os fatos desagradáveis: é verdade que, em 1938, Nesterov foi preso. Mas não por suas convicções estéticas. A prisão foi em conexão com o julgamento de um cunhado por espionagem. Nesterov foi solto duas semanas depois. Recebeu, até mesmo, um Prêmio Stalin (1941), pela obra abaixo, e foi condecorado com a Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho (1942) e com o título de Artista Laureado da Rússia (1942).
Kuzma Petrov-Vodkin
Petrov-Vodkin foi um dos artistas mais respeitados da URSS – como pintor e também como professor. Foi um dos principais, se não foi o principal, organizador do ensino de artes na URSS.
Ele conhecia a matéria – isto é, suas dificuldades – por experiência própria: nascido, na época do czarismo, em Khvalynsk, província de Saratov, filho de um sapateiro e de uma empregada doméstica, ele somente conseguira se educar em arte por uma espécie de acaso: um arquiteto que visitou a patroa de sua mãe notou, nele, um talento – e levou o rapaz para S. Petersburgo. Para sustentá-lo enquanto estudava na Escola Central de Desenho Técnico Stieglitz, sua mãe – e a patroa, Julia Ivanovna Kazarina – organizaram uma coleta entre os comerciantes de Khvalynsk. A cada mês, elas arrecadavam 25 rublos, que eram enviados para Kuzma.
A organização que deu ao ensino, após à Revolução, tinha por objetivo, exatamente, o acesso de talentos ao ensino de artes em toda a URSS.
Kuzma Petrov-Vodkin nasceu em 1878 e faleceu em 1939. Artista Laureado da Rússia (1930), além de pintor, foi também teórico da estética e escritor – inclusive romancista.
Abram Veksler
Veksler nasceu em Kitayhorod, província de Chernigov, Ucrânia, em 1910. Membro da União dos Artistas da URSS e do PCUS, combateu contra os invasores nazistas e foi condecorado por bravura. Faleceu em 1982.
Yuri Neprintsev
Neprintsev nasceu na capital da Geórgia em 1909. Recebeu o Prêmio Stalin, em 1952, pela obra abaixo. Foi Artista Laureado da Rússia (1956), Artista do Povo da Rússia (1963), Artista do Povo da URSS (1965), membro correspondente (1953) e membro titular da Academia de Artes da URSS (1970). Durante a II Guerra, foi fuzileiro naval, e, depois, artista na Direção Política da Frota do Báltico. Foi condecorado com a Ordem da Estrela Vermelha (1944), Medalha de Prata da Academia de Artes da URSS (1963), Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho (1969), Ordem de Lenin (1979) e Ordem da Segunda Guerra Patriótica (1985). Faleceu em 1996, em S. Petersburgo.
Nikolai Terpsikhorov
Nascido em 1890, Terpsikhorov é, entre os pintores do realismo socialista, um dos mais “políticos” em sua obra, o que corresponde à sua vida: aluno da Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou, ele a deixou temporariamente para ingressar no Exército Vermelho, logo no início da Guerra Civil. Viajou bastante pela URSS, em especial pelo Uzbequistão e Turcomenistão, o que se refletiu na sua obra, sobretudo na segunda metade da década de 30. Mas também pintou paisagens, aliás, obras excelentes. Artista Laureado da Rússia, Nikolai Borisovitch Terpsikhorov faleceu em 1960.
Fyodor Reshetnikov
É muito difícil não se comover diante da imagem abaixo – sobretudo para aqueles que já sofreram a experiência de tirar uma nota baixa na escola, o que, provavelmente, é o caso de quase todo mundo. Fyodor Reshetnikov, nascido em 1906, na Ucrânia, foi um dos mais populares entre os pintores do realismo socialista.
Recebeu dois prêmios Stalin (1949 e 1951), foi titular da Academia de Artes da URSS desde 1953, Artista do Povo da Rússia (1956) e Artista do Povo da URSS (1974).
Condecorado com a Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho (1932) por sua participação em uma expedição ao Ártico, e, depois, com a Ordem da Estrela Vermelha (1934), a Ordem de Lenin (1976) e a Ordem da Revolução de Outubro (1986),
Casado com Lidia Brodskaya, filha de seu mestre, Izaak Brodsky (v. O realismo socialista na pintura (IV): Izaak Brodsky), Fyodor Reshetnikov é pai da artista Lyubova Reshetnikova e tio do Herói da União Soviética Vasily Reshetnikov, ás da aviação na II Guerra. Fyodor Reshetnikov faleceu em 1988, na cidade de Moscou.
Viktor Puzirkov
Na II Guerra Mundial, Viktor Puzirkov serviu na cavalaria. Nascido em Dniepropetrovsk, na Ucrânia, em 1918, estudou – e depois tornou-se professor – no Instituto de Arte de Kiev. Este pintor recebeu duas vezes o Prêmio Stalin (1948 e 1950), e, também, o Prêmio Estatal Taras Shevchenko, da URSS (1976). Foi Artista do Povo da Rússia (1963) e Artista do Povo da URSS (1979). Condecorado com a Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho. Faleceu em 1999, na cidade de Kiev.
Grigory Shegal
O que é notável na vida – e, por consequência, na obra – de Shegal é a persistência. Contra todas as dificuldades da época do czarismo, Shegal, nascido em 1889 em Kozelsk, na província de Kaluga, já era um homem maduro quando se formou como artista. Depois da Revolução, ele foi um dos artistas que, oriundo do “Proletkult”, soube fazer a crítica das tendências anti-realistas. Faleceu em 1956.
Tamara Naumova
Encerramos (por enquanto) com uma obra da qual nossa imagem não é de grande qualidade. Mesmo assim, achamos importante que ela esteja aqui. A autora nasceu no ano de 1923 em Orenburg, na Rússia asiática, mas viveu na Ucrânia, estudando e trabalhando, quase sempre, em Kiev, cidade onde faleceu, em 2005.
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