O jornal britânico Financial Times, em reportagem com o título “Falha nos dados econômicos brasileiros desperta preocupações entre analistas”, levanta dúvidas sobre o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, do terceiro trimestre, divulgado na terça-feira (3/11).
Segundo a reportagem, a revisão no resultado das exportações feitas pelo Ministério da Economia por causa de um erro na transmissão dos dados não foi incorporada no resultado PIB, com isso, o resultado do crescimento de 0,6% anunciado no terceiro trimestre pode ser revisado pelo IBGE.
Nas últimas semanas, o resultado da balança comercial foi revisado duas vezes pelo governo.
Na quinta-feira (28/11), a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia revisou para cima as exportações acumuladas até a quarta semana de novembro, que teriam contabilizado US$ 13,5 bilhões. Na semana anterior, as vendas para o exterior teriam somado U$ 9,7 bilhões.
Segundo o Ministério da Economia, os dados do terceiro trimestre inteiro foram subnotificados por falhas no registro de declarações, e serão corrigidos para cima. Porém, segundo a reportagem, se comparado com o estoques altíssimos de produtos nas empresas, informação também disponível no relatório da Secex, haveria uma “incongruência”.
O jornal afirma que os novos dados apresentados contribuíram para a valorização do real nos pregões subsequentes à divulgação, o que teria impactado também na divulgação do PIB, de crescimento de 0,6% do segundo para o terceiro trimestre.
Conforme matéria assinada por Jonathan Wheatley, a segunda revisão dos números pelo Ministério da Economia em menos de uma semana deixou “analistas se questionando se ainda devem confiar na segurança das estatísticas brasileiras”.
“Os números da economia mostraram uma contração bastante significativa nas exportações no 3º trimestre e isso também pode ser revisado mais tarde”, disse Gustavo Rangel, economista-chefe da ING Financial Markets para a América Latina. Além disso, os dados do PIB haviam causado dúvidas devido ao valor bastante alto para os estoques das empresas, o que é considerado um indicador negativo em termos de atividade econômica. Para ele, parte desses estoques pode ter sido exportado, mas ainda é cedo para dizer.
Para o Financial Times, as duas revisões “e a possibilidade de mais por vir levantaram dúvidas pela primeira vez sobre os dados brasileiros, há muito vistos como um exemplo de pontualidade e transparência entre os países emergentes”.
Pelo Twitter, o editor do jornal para a região, Michael Sttot, perguntou: “Podemos confiar nos dados da maior economia da América Latina?”
Para o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) José Luis Oreiro, o ministro Paulo Guedes deve explicações sobre as “graves acusações” sobre possíveis manipulações de dados apontadas pelo jornal inglês. A confiabilidade dos dados econômicos brasileiros tem que estar acima de qualquer suspeita. Calar, nesse caso, é consentir. Caso confirmadas as manipulações, seria motivo para que Guedes pedisse a sua “imediata exoneração” do governo, segundo Oreiro.