Com a “menina” Greta, Bolsonaro falou grosso que só. Chamou de “pirralha”. Já quando é Donald Trump que agride, como agora, não sai um pio ou, quando sai, é tão fino que não se ouve uma palavra
Mais uma estocada de Trump contra o Brasil, agora desativando órgãos de controle da Organização Mundial do Comércio (OMC), deixa Bolsonaro sem ter como justificar o seu servilismo atávico aos EUA.
A manobra de Trump privou o Brasil de um dos principais mecanismos para garantir um comércio internacional justo e que, ao longo dos últimos 20 anos, permitiu vitórias diplomáticas e êxitos para a agricultura nacional, para o setor siderúrgico e para a Embraer.
O Órgão de Apelação (OA) da Organização Mundial do Comércio (OMC) terá suas funções paralisadas a partir da quarta-feira (11) por causa de um veto mantido pelo governo Trump nos últimos dois anos.
Pelas regras da OMC, o Órgão de Apelação (OA) tem que ser composto por 7 juízes que devem cumprir 1 mandato de 4 anos, podendo ser reconduzidos para mais 4. Porém, por causa do bloqueio do governo dos EUA, haverá apenas 1 dos 7 membros atuando no órgão, o que tornará a corte inoperante, já que é exigido o mínimo de 3 árbitros para receber a apelação de 1 painel.
As disputas comerciais já não terão um tribunal. Para o diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevedo, com a decisão do governo americano não haverá mais nenhuma regra no comércio internacional.
A decisão unilateral de Trump abre o que seria uma era da “lei da selva” no cenário internacional.
Entre diplomatas, a percepção era de que o sistema multilateral vivia um dia negro que vai ficar na história. A delegação chinesa, por exemplo, declarou que o caso é “o golpe mais duro contra o sistema multilateral do comércio desde sua criação”.
O embaixador chinês Zhang Xiangchen chegou a mencionar que ia vestido com uma gravata negra, preparada por sua esposa para que ele possa ir a funerais. O governo da Índia também alertou: “a história está assistindo a esse momento”.
Já o Itamaraty, que com o governo Bolsonaro, se coloca numa posição subalterna aos EUA, preferiu indicar que quer se manter engajado na busca por soluções para “restabelecer o sistema de solução de disputas”. Ou seja, de nada tem adiantado ao Brasil, o governo Bolsonaro se humilhar, como tem feito diante de Donald Trump. Só tem tido prejuízos.
Este já é o terceiro golpe contra os interesses nacionais que Trump dá, sem nenhuma reação por parte do governo brasileiro. O primeiro foi o veto à entrada na OCDE, o segundo foi a sobretaxação do aço brasileiro e, agora, a eliminação do órgão de controle da OMC.
Esse silencio do Planalto reforça a sensação, principalmente depois da agressão de Bolsonaro à garotinha ambientalista nesta terça-feira (10), que Bolsonaro fala grosso com uma jovenzinha, quase um criança, mas fala fino quando tem que lidar com os ataques de Trump.
Ao longo dos últimos dois anos, o que os americanos fizeram foi impedir a nomeação de novos juízes para o Órgão de Apelação, uma espécie de tribunal superior do comércio mundial. Casos que estão em primeira instância continuarão a ser tratados. Mas governos que queiram recorrer da decisão não terão como acionar o tribunal. Sem uma instância de recurso, um sistema jurídico fica duramente ameaçado. Em um discurso nesta segunda-feira na OMC, o embaixador dos EUA, Dennis Shea , deixou claro que seu governo não está disposto a rever sua posição.
Foi graças a esse sistema que está sendo desmantelado por Trump, que o Itamaraty conseguiu a condenação dos subsídios americanos e europeus no setor de algodão e açúcar, uma batalha do país por décadas. Também foi por esse sistema que o Brasil questionou regras antidumping impostas pelos americanos contra a siderurgia nacional. No início do século 21, o mesmo mecanismo permitiu que a Embraer conseguisse uma condenação das práticas comerciais ilegais da concorrente canadense Bombardier. Tudo isso acabou.
O governo brasileiro também atacou as práticas consideradas como ilegais da Índia no setor do açúcar, considerado como estratégico. Um terceiro setor ainda pode ser afetado: o de frangos. O governo brasileiro também recorreu aos tribunais contra as barreiras existentes contra o produto nacional na Indonésia. Sem um tribunal de última instância, esses casos podem se arrastar por anos. A partir de agora, não há mais quem julgue os infratores. Está como os EUA querem.
Bolsonaro: declarou está apaixonado pelo Trump e agora virou pau mandado ou seja tudo que Trump fizer ou determinar ele cumprirá.