A primeira-ministra alemã, Ângela Merkel, afirmou na quarta-feira em Berlim que a Alemanha “não recuará” do gasoduto Nord Stream 2, em parceria com a Rússia, apesar das sanções do Senado dos EUA aprovadas na véspera e anexadas ao orçamento para o ano que vem do Pentágono.
Também o Kremlin rechaçou as pressões, com o porta-voz Dmitry Peskov classificando as sanções contra o gasoduto de “uma violação direta do direito internacional” e “um exemplo perfeito de concorrência desleal” e de disseminação do “domínio artificial nos mercados europeus”.
Peskov denunciou que Washington está “impondo aos consumidores europeus produtos mais caros e não competitivos – gás natural mais caro”, e foi peremptório em que tais ameaças não conseguirão deter o Nord Stream 2. “O Nord Stream 2 será concluído”.
O gasoduto deveria ter sido concluído até o final deste ano, mas em função de atrasos na liberação da colocação de dutos de parte das autoridades dinamarquesas, ficou para meados de 2020.
O gasoduto, que dobra com 55 bilhões de metros cúbicos anuais o fornecimento de gás russo diretamente à Alemanha – e dali para outros países europeus -, dificulta provocações de parte de governos subservientes aos EUA, como a Polônia e a Ucrânia, o que fortalece a segurança do fornecimento do gás vital para o crescimento da economia europeia com menos poluição.
Cinco grandes empresas europeias estão em parceria com a estatal russa do gás Gazprom no Nord Stream 2, que ficará pronto em meados do próximo ano: as alemães Wintershall e Uniper, a francesa Energie, a anglo-holandesa Shell e a austríaca OMV. Todos os países ao longo da rota do gasoduto – Rússia, Finlândia, Suécia, Dinamarca e Alemanha – já aprovaram o projeto.
As sanções foram debatidas no parlamento alemão, com Merkel reiterando que seu governo se opõe firmemente a tais retaliações de parte de Washington e rejeita seu caráter extraterritorial. Pela lei das sanções, empresas alemães que participam na construção do gasoduto, que já está na etapa final de conclusão, poderiam sofrer punições.
ACHAQUE
Pela lei norte-americana, as empresas que trabalham no projeto Nord Stream 2 teriam 30 dias para interromper suas operações. As sanções revogariam os vistos dos EUA e bloqueariam a propriedade dos indivíduos envolvidos.
Acintosamente chamada de “Lei de Segurança Energética da Europa de 2019”, o indisfarçado achaque foi proposto pelos senadores Ted Cruz (republicano) e Jeanne Shaheen (democrata), sob alegação de que o gasoduto “fortaleceria o presidente Putin às expensas do resto do mundo livre” e de que penalizar as empresas envolvidas na instalação do gasoduto “protegerá a segurança energética da Europa”.
Conversa para lá de fiada, que mal esconde que o objetivo é garantir lucros às encalacradas empresas de fracking dos EUA, forçando os europeus a pagarem por um gás muito mais caro, o GNL (liquefeito). Espera-se que Trump vá assinar o despautério até o final de semana. No afã de empurrar seu GNL, o Departamento de Energia norte-americano chegou até a apelidar seu produto mais caro de “moléculas da liberdade”.
As sanções visam os navios especiais que colocam os dutos do gasoduto no fundo do Mar Báltico, mas é improvável que consigam deter a conclusão do Nord Stream 2. O trecho que falta é próximo à ilha dinamarquesa de Bornholm, já estando pronto desde o Báltico russo até ali.
Também o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, se manifestou sobre o caso: “garanto que nem o Nord Stream 2 nem o Turk Stream [o novo gasoduto russo-turco no Mediterrâneo] vão parar”.
O governo Merkel tem reiterado que o Nord Stream 2 atende aos interesses econômicos da Alemanha e que a Rússia é um fornecedor confiável de gás.
Berlim também tem rechaçado as desinteressadas análises de que a Alemanha comprar gás da Rússia a tornaria dependente demais de Moscou, dependência que não haveria caso comprasse o GNL norte-americano mais caro e de transporte menos confiável, e sob dezenas de milhares de tropas dos EUA ainda instaladas no país e sem data para voltar para casa.
Também ruíram por terra as alegações de que o Nord Stream 2 era para “estrangular a Ucrânia”, com Moscou já tendo declarado sua disposição de manter o fluxo de gás também por esse ramal.
DECISÃO EUROPEIA, NÃO DOS EUA
“A política energética europeia é decidida na Europa, não nos EUA”, assinalou o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, o social-democrata Heiko Maas, reagindo às ameaças de Washington, que chamou de “inaceitáveis”.
“Rejeitamos quaisquer intervenções externas e sanções extraterritoriais”, acrescentou o chefe da diplomacia alemã, ressaltando que o Nord Stream 2 “será concluído”.
Já Merkel enfatizou ao parlamento que “não recuamos [diante dos EUA] com relação ao caso da NSA [espionagem], nem pretendemos recuar agora”. Um parlamentar disse que é hora de mostrar aos EUA “que as piadas terminaram”. A aprovação da lei extraterritorial no Senado dos EUA foi por 86 votos a favor e apenas 8 contra e 6 abstenções.
A.P.
O gasoduto dá Rússia e Alemanha já era para esta pronto e funcionando porque eua é tão ruim assim
Com fé em Deus vai ser logo inaugurado