O lançamento-teste da cápsula espacial Starliner da Boeing em Cabo Canaveral, sob encomenda da Nasa na sexta-feira (20), resultou num completo fracasso para o maior conglomerado da aviação dos EUA, além do constrangimento causado à agência espacial americana. A Starliner não conseguiu acessar a trajetória adequada para chegar à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), o que obrigou a equipe a obortar a operação e trazer a cápsula de volta à Terra sem cumprir os objetivos de alcançar e fazer o acoplamento à ISS, para então retornar.
Diante do descrédito que atinge a Boeing, principalmente por seus graves problemas com o avião 737 Max, o administrador da Nasa, Jim Bridenstine, tinha dito, numa tentativa de tranquilizar os americanos, que “as pessoas [da Boeing] que desenvolvem naves espaciais não são as mesmas que desenvolvem aviões”. Pelo resultado do teste da Starliner, podem não ser as mesmas pessoas, mas os problemas, sim. São os mesmos, ou piores.
Segundo informações da equipe da Boeing, a Starliner decolou sem problemas, mas uma falha aconteceu após sua separação do foguete. Jim Bridenstine afirmou durante uma coletiva de imprensa no centro espacial Kennedy que a falha afetou o contador de “tempo decorrido” e que “por causa dessa anomalia o veículo registrou um tempo diferente do tempo real”. Qualquer semelhança com o sistema automatizado (MCAS) do modelo Boeing 737 Max, que faz o avião embicar para o chão, repetidas vezes, contra a vontade do piloto – e já matou 346 pessoas em dois acidentes em cinco meses -, não seria mera coincidência.
Após a pane, o piloto automático da cápsula tentou mudar de posição, mas consumiu muito combustível na tentativa, o que inviabilizou a continuação do voo. Neste quadro, os técnicos da Boeing conseguiram colocar a nave em uma nova órbita, o que – acreditam – lhe permitirá retornar à Terra em 48 horas, segundo informou o vice-presidente da divisão de Defesa, Espaço e Segurança da Boeing, Jim Chilton.
A Starliner é um dos modelos encomendados pela Nasa em 2014 para levar seus astronautas de volta ao espaço a partir de 2020. A Crew Dragon, cápsula fabricada pela SpaceX, de Elon Musk, teve sucesso em sua missão de teste não tripulada em março. A Boeing recebeu US$ 4,2 milhões da Nasa e a SpaceX, US$ 2,6 milhões para o desenvolvimento dos projetos. Mesmo com esse aporte de recursos do contribuinte norte-americano, as duas empresas cobrarão da Nasa – caso consigam entregar as encomendas – US$ 90 milhões por cada astronauta transportado para a Estação Espacial Internacional.
Desde 2011, quando Washington encerrou seu programa de ônibus espaciais, os EUA dependem dos foguetes russos da Soyuz para levar e buscar seus astronautas e entregar provisões à ISS. Soyuz é o nome de uma família de veículos de lançamentos descartáveis desenvolvidos pelo OKB-1 na então União Soviética desde a década de 1960 e, ainda hoje, é o veículo de lançamento mais frequentemente usado em todo o mundo. A propósito, a Soyuz cobra US$ 80 milhões por astronauta.