Com dezenas de milhares de pessoas comemorando nas ruas, a Assembleia Legislativa da província argentina de Mendoza aprovou por ampla maioria a revogação da Lei 9209 que permitia às mineradoras o uso de cianeto, ácido sulfúrico e outras sustâncias tóxicas para a população.
As mobilizações em defesa da água e o meio ambiente foram decisivas para fazer retroceder o governo provincial da modificação da lei 7.722 liberando o uso de produtos químicos tóxicos na exploração mineira em larga escala. Como alertaram entidades populares, ecologistas e a Igreja, essa política atende unicamente o interesse de transnacionais, o que iria gerar a contaminação da água em escala inaceitável e com nulidade de benefícios às comunidades locais.
Desde que vieram à tona as consequências que adviriam da vigência dessa lei, os habitantes de Mendoza têm se manifestado com passeatas e bloqueios de rodovias pela revogação do que foi considerado um crime, defendendo que o governador Rodolfo Suárez, da União Cívica Radical (UCR), voltasse atrás.
A norma existiu apenas por 10 dias após os enormes protestos em toda a província que primeiro conseguiram que o governador não regulamentasse a lei, e depois que enviasse um projeto para restabelecer a vigência da anterior (lei 7.722).
Na segunda-feira, 30, primeiramente o Senado aprovou a revogação com 34 votos a favor e 2 contra. Depois, entre os deputados, com 43 votos positivos, 4 negativos e um ausente, completou-se o trâmite em regime de urgência para acabar com esse atentado.
No último final de semana, após uma reunião com os prefeitos da região, no bojo da crise política que só crescia, o governador Suarez foi forçado a reconhecer que a norma não tinha o consenso da maioria da população da província.
Entre os alertas defendidos pelos moradores que se manifestaram em massa, está o de que a região, que é produtora dos mais destacados vinhos argentinos, depende da pureza da água e do solo para a garantia da qualidade de suas vindimas.
À espera da sessão em ambas as câmaras, as Assembleias Mendocinas pela Água Pura que reúnem dezenas de entidades sociais se mobilizaram, no domingo, 29, com um «bandeiraço» que confluiu às 19 horas no marcoponto zero da Cidade de Mendoza e, sem parar, voltaram a marchar na segunda-feira até a legislatura provincial durante a sessão.
Lá, quando alguém com um microfone gritou que os parlamentares tinham revogado a Lei 9209 e, assim, restaurado a vigência da 7722, o que implica a marcha atrás da mega-mineração contaminante na província e una vitória do povo, milhares de pessoas comemoraram cantando que “A água de Mendoza não se negocia”, que “O povo unido jamais será vencido” e “A cordilheira, que linda está, e se a tocam que rebu vai se armar”, registrou o jornal Página 12.