Mais de 30 dos mais conhecidos conjuntos musicais e artistas solistas do Chile e da Argentina se uniram para cantar uma nova versão de Manifiesto, canção de Víctor Jara que representa um clássico da música popular chilena. O tributo, que foi batizado “A esperança vem do sul”, foi impulsionado pelo cantor e compositor argentino León Gieco e o grupo chileno Congreso, e representa um apoio ao povo que há mais de 70 dias ocupa as ruas das principais cidades do Chile em defesa de seus direitos.
Quando se firmaram os protestos no Chile, o argentino León Gieco chamou por telefone a Sergio “Tilo” González, baterista e compositor chileno do Grupo Congreso. “Temos que fazer algo, os músicos argentinos queremos fazer algo”, expressou recebendo a concordância e o apoio do colega. Tinham passado poucos dias desde o início da revolta social chilena, do estado de emergência que, lembrando a ditadura, esteve vigente durante mais de uma semana em várias regiões do país e de uma série de graves e preocupantes ataques aos manifestantes que provocaram assassinatos, feridos e prisões.
“…o canto tem sentido / quando palpita nas veias / do que morrerá cantando / as verdades verdadeiras…”, dizem os versos de Jara que uniram argentinos e chilenos, na maior colaboração da história entre músicos de ambas nacionalidades.
A escolha da música não foi por acaso. Destacado militante comunista, com 40 anos Víctor Jara era um artista reconhecido, diretor de teatro, professor universitário e defensor do governo socialista de Allende. Detido na universidade onde lecionava por agentes da ditadura de Pinochet, em Santiago, Jara foi levado com alunos e colegas ao Estádio Nacional, transformado em centro de prisão e torturas para democratas e nacionalistas.
Autor
de músicas de protesto, Jara foi reconhecido pelos militares e
“agredido fisicamente, de forma permanente, por vários oficiais”,
conforme foi admitido pela Justiça. No dia 16 de setembro de 1973,
os prisioneiros foram retirados do estádio, com exceção de Jara e
alguns outros que foram executados. Somente Jara levou 44 tiros.
“É uma canção que nos representa a todos os que estamos envolvidos nesta produção, a todos nós músicos e sua maneira de transitar pela vida”, sintetizou González, que somou à iniciativa um amplo e diverso contingente de colegas que inclui a Roberto Márquez (Illapu), Juanita Parra e Mario Mutis, do conjunto Los Jaivas, Magdalena Matthey, Nano Stern, Elizabeth Morris, Pedro Foncea, Pascuala Ilabaca, José Seves (Inti-Illimani Histórico), Fran Straube (Rubio) e Elicura Chihuailaf, além de seus próprios companheiros de Congreso.
A lista de participantes argentinos também é numerosa e representativa. Além do próprio Gieco conta com Víctor Heredia, Teresa Parodi, Pedro Aznar, Juan Carlos Baglietto, Liliana Herrero, Jairo, el grupo Los Tipitos, Ligia Piro, Julia Zenko, Hilda Lizarazu, “La Bruja” Salguero, Sandra Mihanovich, Liliana Vitale, Georgina Hassan, Miss Bolivia, Lito Vitale e Javier Malosetti.
O trabalho levou quase dois meses de arranjos, horas de estúdio e coordenação à distancia para chegar a esta versão coletiva de Manifiesto, que Víctor Jara compôs no inicio dos 70.
Veja e ouça no vídeo abaixo o clássico da música popular chilena, Manifiesto, de Víctor Jara, executada conjuntamente por mais de 30 destacados artistas dos dois países.