Reportagem sobre o governo Bolsonaro, feita pela revista britânica The Guardian desta semana, aponta como grande problema para a população brasileira, além do próprio presidente, caracterizado pela revista como de extrema direita, o perfil de vários de seus auxiliares e de seu filhos, que são “apaixonados por armas de fogo, viraram manchetes durante seu primeiro ano por suas declarações incendiárias nas mídias sociais e vidas atingidas por escândalos”.
Segundo a revista, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo “insiste que a mudança climática é uma trama marxista”, enquanto o o ministro da Educação “gosta de twittar sobre o hábito de seu cão de defecar nos principais jornais do Brasil”.
“Mas os escalões mais baixos do aparato governamental brasileiro também estão sendo preenchidos com personagens que lançam sistematicamente slogans da supremacia branca e raiva contra a esquerda”, acrescenta a publicação.
A matéria é assinada pelos jornalistas Tom Phillips e Dom Phillips, e se foca principalmente em quatro nomeados por Bolsonaro: Filipe Martins (consultor de política externa), Roberto Alvim, (secretário especial de cultura), Sérgio Camargo (Fundação Palmares) e Dante Mantovani (Funarte).
“Diga o que quiser sobre Bolsonaro, é preciso reconhecer seu raro talento de … escolher as pessoas mais desqualificadas, lunáticas e/ou perigosas para empregos”, escreveu o jornalista Mauro Ventura no início deste mês e citado na reportagem.
“Como alguém disse, eles parecem ter sido escolhidos pelo seu QI: isto é, seu quociente de imbecilidade, incapacidade, idiotice, incompetência, ineptidão ou impiedade”, diz o jornalista.
Em seguida a revista apresenta o perfil de quatro subordinados de Bolsonaro.
Confira:
Filipe Martins
Assessor de política externa da Presidência
“Antes deste ano, Martins, 31 anos, quase não possuía experiência em política externa. No entanto, seus laços estreitos com dois dos filhos de Bolsonaro ajudaram a transformá-lo em um dos homens mais influentes do Brasil e conquistaram um escritório a poucos metros de Bolsonaro.
“Assim como os filhos de Bolsonaro, Martins é um discípulo do escritor e teórico da conspiração Olavo de Carvalho, dos EUA, e se diverte em atacar esquerdistas, feministas, “globalistas” e jornalistas nas mídias sociais.
“Ele também é fã de Steve Bannon, apelidado de “Sorocabannon”, graças às suas origens na cidade brasileira de Sorocaba e admiração pelo ex-estrategista de Trump.
“Como em muitos bolsonaristas, Martins se diverte em controvérsias, usando frases de efeito e slogans da era do General Franco para atrair os críticos. Depois que os jogadores de futebol do Brasil perderam para a Bélgica na Copa do Mundo de 2018, o homem que agora ajuda a administrar a política externa brasileira classificou o país europeu de “Babel moderna”.
“Martins também gosta de conspiração, no ano passado acusou a CNN e o New York Times de cumplicidade em uma campanha de “engenharia social” para promover a pedofilia.
Roberto Alvim
Secretário especial de cultura
“Um dramaturgo de profissão. Antes de ser nomeado secretário de cultura em novembro, o diretor de 46 anos era mais conhecido por insultar a grande dama do teatro brasileiro, a atriz indicada ao Oscar Fernanda Montenegro, como esquerdista “sórdida”.
“Esse ataque enfureceu os brasileiros, mas ganhou os aplausos de Bolsonaro – e um emprego como chefe de cultura do Brasil. Aos 22 anos, Alvim abandonou uma carreira de direção iniciante para passar por “um processo de descoberta interior através de práticas de meditação”. Ele acabou em uma cabana no nordeste do Brasil e ficou privado de comida, água e contato humano por 21 dias.
“Alvim voltou ao teatro antes de encontrar Deus em 2017, após uma cura supostamente milagrosa para o câncer quase fatal. “Foi uma intervenção direta de nosso Senhor Jesus Cristo”, afirmou recentemente. Alvim disse que sua nova fé o converteu em um bolonarista incondicional.
“Em postagens recentes no Facebook, ele criticou os oponentes de seu líder como “baratas baratas”, criticou os “bastardos” do Greenpeace e acusou o mundo artístico “podre” e “demoníaco” do Brasil de demonizar injustamente Bolsonaro.
Sérgio Nascimento de Camargo
Fundação Cultural Palmares
“O homem escolhido para administrar a fundação do governo que promove a cultura negra pediu que o Dia da Consciência Negra do Brasil fosse descartado e classificou muitas das celebridades e artistas negras mais conhecidas do Brasil como “parasitas da raça negra”. O mais notável é que ele já chamou um dos compositores de samba mais célebres do Brasil, Martinho da Vila, de “vagabundo” que deveria “ser enviado para o Congo”.
“Camargo, que também é negro, encontrou alvos por seus insultos além das fronteiras do Brasil, incluindo a ativista americana de direitos civis Angela Davis, a quem chamou de “mentirosa” e “bruxa”. Nas mídias sociais, Camargo se descreve como um “negro de direita” que se opõe à “vitimização e ao politicamente correto”. “A escravidão era terrível, mas benéfica para os descendentes”, afirmou recentemente.
“Após indignação pública e uma contestação legal, a nomeação de Camargo foi suspensa. Mas Bolsonaro disse esperar que a decisão possa ser anulada, chamando Camargo de uma pessoa “excelente”.
Dante Mantovani
Chefe da Fundação Nacional de Artes
“O maestro clássico de direita e YouTuber que preside o órgão governamental encarregado das políticas de artes visuais, música e dança alegou que a União Soviética se infiltrou na CIA para distribuir LSD em Woodstock. “O rock ativa drogas que ativam o sexo, ativando a indústria do aborto”, afirmou Mantovani, observando que John Lennon havia dito que fez um pacto com o diabo.
“Mantovani disse que o Metallica era bom para manter os motoristas acordados, mas chamou os grandes brasileiros Caetano Veloso e Gilberto Gil e a estrela pop Anitta de “aberrações” por representar o Brasil como um “tipo de bordel”. Tomando posse, ele alegou que o Brasil devia sua cultura a Portugal, que “civilizou” em vez de “colonizar” sua terra natal”.
Leia a reportagem original da The Guardian