Apoio veio em entrevista à TV Bandeirantes e em nota do Itamaraty. Bolsonaro disse que o general Soleinami “tinha uma vida pregressa voltada em grande parte para o terrorismo”
Jair Bolsonaro manifestou, em entrevista à TV Bandeirantes, na sexta-feira (03), o seu alinhamento automático ao atentado terrorista, ordenado por Donald Trump, que assassinou com drones, no aeroporto de Bagdá, o general Qasem Soleimani, comandante da força Quds do Corpo da Guarda Revolucionária do Irã.
O atentado foi condenado por vários países do mundo e, antes de Bolsonaro, só havia obtido o apoio do indiciado por corrupção, Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel.
Bolsonaro disse ao repórter que fez “uma análise da vida pregressa do general assassinado”. “Era uma pessoa que, segundo informações aqui, estaria envolvido no ataque a Amia – Associação Mutual Israelita Argentina -, aquela entidade judia que existia na Argentina”, explicou.
“Então, a vida pregressa dele era voltada em grande parte para o terrorismo”, disse Bolsonaro, ao justificar seu apoio ao atentado de Trump.
Ele só não foi mais efusivo no apoio ao assassinato cometido por Trump porque os militares exerceram uma forte pressão e impediram, em parte, que ele cometesse essa loucura. Não fosse a pressão da caserna, o mito e seu séquito de capachos estariam em verdadeiro frenesi com o atentado.
O general Soleinami é considerado um herói nacional do Irã e foi um dos principais responsáveis pela derrota militar do grupo terrorista Estado Islâmico, organização criminosa originalmente financiada pelos EUA, em sua cruzada terrorista contra o povo da Síria e contra o seu presidente, Bashar al-Assad.
A alegação, aventada por Bolsonaro, de que o general assassinado por Trump teria participado do atentado à entidade judaica argentina, ocorrido em 1994, no qual o Irã sempre negou qualquer participação, é uma mentira sustentada apenas na narrativa forjada pela CIA, pelo Pentágono e pelo serviço secreto israelense (Mossad).
Já o assassinato de uma autoridade politica, como era o general Qasem Soleinami, o segundo homem do governo iraniano, com uma bomba atirada sobre o carro em que ele trafegava, é sim um atentado terrorista clássico. Um atentado que, segundo o ex-governador Ciro Gomes, violou qualquer regra do direito internacional.
E o atentado americano tem um agravante, o presidente Donald Trump assumiu, através do twitter, a autoria do assassinato.
Então, quando Bolsonaro diz que “nossa posição é se aliar a qualquer país do mundo no combate ao terrorismo”, como ele afirmou na entrevista, ele deveria, se fosse sério o que ele disse, se aliar ao Irã, vitima do terrorismo de Trump.
Se houvesse alguma seriedade no que Bolsonaro falou nesta sexta-feira sobre combater o terrorismo, jamais ele poderia respaldar, como fez, a ação de Trump que acabara de confessar que ordenou a execução do bombardeio criminoso ao comboio do general iraniano.
Por isso é uma hipocrisia sem tamanho a sua afirmação de que “nós aqui no Brasil, a nossa posição é simples, tudo que pudermos fazer para combater o terrorismo, nós o faremos”.
Não só ele não está combatendo terrorismo nenhum, como, ao contrário, ao não condenar o assassinato do general, está dando respaldo e justificando um ato criminoso que afronta todas as leis internacionais.
Com a atitude subserviente a Trump que caracteriza seu governo e seu círculo de assessores, Bolsonaro, na verdade, apoia o terrorismo e agride o país que sofreu o atentado terrorista. “Nós sabemos o que, em grande parte, o Irã representa para seus vizinhos e para o mundo”, disse ele.
Quem invadiu o Iraque, a Líbia e a Síria, matando milhares de pessoas, derrubando governos da região e roubando seu petróleo, foram as tropas dos EUA, mas Bolsonaro acha tudo isso normal e garante que quem incomoda os países vizinhos é o Irã.
A nota do Itamaraty, redigida pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, não poderia ir em outra direção. Deu apoio e respaldo ao ato terrorista de Trump e silenciou sobre o assassinato do militar.
“Ao tomar conhecimento das ações conduzidas pelos EUA nos últimos dias no Iraque, o Governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo”, diz a nota.
Nenhuma palavra de crítica ao assassinato do general iraniano. Apenas insinuações cínicas de que as vitimas mereceram receber as bombas em suas cabeças.
“O terrorismo não pode ser considerado um problema restrito ao Oriente Médio e aos países desenvolvidos, e o Brasil não pode permanecer indiferente a essa ameaça, que afeta inclusive a América do Sul”, acrescenta Ernesto Araújo, quase se oferecendo para se alistar no Exército norte-americano.
Em não podendo se alistar, Araújo anunciou outras medidas de capachismo, de igual porte, ao governo dos EUA. “Diante dessa realidade, em 2019 o Brasil passou a participar em capacidade plena, e não mais apenas como observador, da Conferência Ministerial Hemisférica de Luta contra o Terrorismo, que terá nova sessão em 20 de janeiro em Bogotá”, conclui a nota.
Assista a entrevista de Bolsonaro à TV Bandeirantes