O professor Eduardo Costa Pinto (IE-UFRJ) (*) criticou artigo de Fernando Haddad que, segundo ele, teria abraçado as teses neoliberais de seus colegas do INSPER. “Os mesmos que dizem que são menos ultraliberais que o Guedes e pensam no social, mas que, ao contrário, pensam igual ao Guedes sim…..”, afirmou o economista.
Em artigo publicado em suas redes sociais no sábado (04), o professor Eduardo Costa Pinto (IE-UFRJ) criticou as opiniões de Fernando Haddad, emitidas em sua coluna na Folha de S. Paulo, publicado também naquele mesmo dia.
O artigo versava sobre o histórico da construção do projeto nacional brasileiro, o papel da burguesia nacional e as causas da desindustrialização, fenômeno que se vem se acentuando bastante nos últimos anos.
Na opinião do economista da UFRJ, “um ponto muito controverso no artigo foi a forma como o Haddad incorporou a visão do patrimonialismo do FHC (linha do Sérgio Buarque de Holanda), que argumenta que os dois problemas centrais do Brasil são o jeitinho do seu povo e o estado grande (transposição do estado português)”.
“Ou seja, nossos problemas seriam resolvidos com a redução do Estado que é corrupto e atrofia o progresso da nação”, destacou Costa Pinto.
“Se Haddad escreveu como professor de ciência política ficou preso a uma interpretação que reforça a ideia que não temos capacidade de sermos autônomos e o que nos resta e se abrir (integração neoliberal) para combater os industriais “malvados”.
Se for isso está completamente integrado com as ideias dos seus colegas do INSPER (Lisboa e companhia…) que dizem que são menos ultraliberais que o Guedes e pensam no social. Falácia, pensam igual ao Guedes sim…..”, afirmou o economista.
Eduardo Costa Pinto falou sobre a pergunta inicial do artigo de Haddad – se existe ou não uma burguesia industrial brasileira -, e comentou. “Como fundamento para responder suas questões iniciais, Haddad vai recorrer as ideias do FHC da década de 1960 e sua teoria do desenvolvimento dependente associado para concluir que : “1) os órgãos de classe dos industriais ‘só cuidam dos interesses particulares dos dirigentes quando falam em nome da classe’; 2) aos industriais, individualmente, ‘a ação política possível consiste na participação pessoal no jogo patrimonialista’.”
“Qual teria sido o motivo do Haddad ter recorrido as ideias de FHC para realizar um forte crítica aos segmentos industriais brasileiro? Será que o Haddad foi o professor de ciência política do INSPER (licenciado da USP) ou o último candidato do PT a presidente da República ou as duas coisas?”, indaga o professor da UFRJ.
“Ao adotar tal caminho, Haddad realizou as perguntas certas, mas caminhou no sentido liberalizante ao utilizar as teses do FHC que articulam as ideias de jogo pessoal dos empresários no patrimonialismo e da inexistência da burguesia nacional e, consequentemente, da incapacidade de um projeto autônomo brasileiro”, observou.
“Esse ponto é central e o FHC presidente vai utilizá-lo para justificar a abertura dos anos 1990 (adoção do neoliberalismo). Não acho que FHC presidente jogou fora as ideias do FHC intelectual.
Pelo contrário, as ideias do intelectual serviram para legitimar a abertura dos anos 1990 do presidente”, ponderou Costa Pinto, acrescentando que “se não for um problema de interpretação, somente me resta afirmar que esse texto é uma ótima crítica de um ‘liberal progressista’”
“Eu e o Rodrigo Teixeira”, prosseguiu o economista da UFRJ, “argumentamos, em artigo publicado em 2012, que há duas áreas de afinidade entre o neoliberalismo e a versão do desenvolvimento dependente-associado (do FHC intelectual dos anos 1960):
i) à crença no progresso trazido pelo desenvolvimento capitalista da periferia; ii) à crença na ideia de que o desenvolvimento capitalista da periferia só será trazido por meio da abertura do mercado interno ao capital estrangeiro (os demais dependentistas, bem como o restante da esquerda, ao contrário, viam nisso o avanço do imperialismo e a condenação do país ao subdesenvolvimento e à heteronomia).”
Para Costa Pinto, “o projeto de nação não vai sair dos liberais progressistas brasileiro, muito menos do INSPER, nem dos think tanks do Armínio e do Lemann”.
SÉRGIO CRUZ
(*) Eduardo Costa Pinto é Professor de Economia Política e Economia Brasileira do Instituto de Economia (IE) da UFRJ; ex-Diretor Adjunto de Graduação do IE/UFRJ; Mestre em Economia pela UFBA (2005); Graduado em Administração pela UFBA (2002). Tem experiência na área de Economia Política, Economia Brasileira e Economia Política Internacional