Durante o 36º dia de greve nos transportes, os sindicatos franceses, unidos com entidades e partidos de oposição organizaram, na quinta-feira (9), a quarta greve geral contra a reforma do sistema de previdência defendida pelo governo de Emmanuel Macron que prejudica vários setores da sociedade.
Segundo a Confederação Geral do Trabalho, CGT, 370 mil pessoas marcharam em Paris, em Marselha 220 mil, em Toulouse 120 mil, além de manifestações que ocorreram em outras 216 cidades do país.
Mais de um terço dos docentes do país não foi trabalhar, enquanto centenas de escolas permaneceram fechadas em Paris. O sistema de transporte continua muito afetado, em especial os serviços ferroviários. A greve já é a mais longa desde a criação da SNCF, a companhia de trens francesa, em 1938. Também houve atrasos e interrupções nos voos. Outros setores como os advogados, trabalhadores do turismo e as refinarias se somaram ao movimento, e alguns monumentos como a Torre Eiffel fecharam suas portas em apoio ao protesto.
Apesar do pretexto de salvar o sistema de previdência que estaria em risco e cortar privilégios, o que o projeto Macron pretende efetivamente é reduzir a contribuição dos altos salários para o sistema, aumentar a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos e reduzir o valor do benefício. Lógica cuja explicação é o desejo de desviar ainda mais recursos públicos para os bancos e favorecer a implantação posterior do sistema privado de capitalização, conforme normas já votadas no Parlamento Europeu, atendendo ao megafundo norte-americano Blackrock.
O governo espera que nas próximas 24 horas se chegue a um acordo que desbloqueie as negociações sobre as mudanças no sistema de aposentadorias. Mas, Laurent Berger, líder da Confederação Francesa Democrática do Trabalho, CFDT, anunciou na quarta-feira (8), que ainda está “longe de se chegar a um acordo”, e que se o governo não fizer concessões em relação a esse ponto da reforma será difícil dar continuidade às negociações.
Os protestos contra a mudança do sistema de aposentadorias e pensões começaram no dia 5 de dezembro passado. Na época, um Manifesto assinado pelos Verdes, pelo Partido Comunista Francês, pelo Partido Socialista e outras legendas menores, e que reiterou a defesa do sistema de aposentadoria solidário, com contribuições intergerações, contestou uma das principais alegações para o ataque ao direito a uma aposentadoria digna: a do “déficit” do sistema.
O documento afirmou que o atual sistema de pensões “não está em déficit, como afirma o governo, e só ficará se as escolhas orçamentárias injustas feitas por esse governo não forem corrigidas”. “Não há razões orçamentárias ou demográficas para exigir que os franceses sacrifiquem suas pensões para salvar nosso sistema de aposentadoria”, enfatizou.