“Com as empresas privadas no lugar dos Correios, o governo não vai receber mais os recursos que recebe da empresa pública e as tarifas postais vão subir como foguete”, alertou o presidente do Sindicato dos Carteiros de São Paulo
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo, Elias Cesário, conhecido por toda a categoria como Diviza, rechaçou na terça-feira (14), em entrevista ao HP, a afirmação do governo de que o Correio é uma empresa deficitária e que o poder público teria que aportar recursos para cobrir esse suposto déficit.
“É mentira do Bolsonaro e do porta-voz da Presidência, que afirmou isso na quinta-feira (08)”, disse ele. “É exatamente o contrário. O Correio é uma empresa que dá lucro. Nos últimos dois anos a empresa deu lucro e repassou recursos para o governo”, acrescentou Diviza.
CORREIOS DÁ E SEMPRE DEU LUCRO
“Não só nos últimos anos, desde 1969, quando a empresa deixou de ser a ECT, os Correios não dão prejuízo. É uma empresa lucrativa. Com exceção dos dois anos de recessão em que a empresa teve dificuldades, o governo sempre retirou dinheiro dos lucros obtidos pela empresa”, explicou o dirigente sindical.
“O que eles querem é entregar os Correios para empresas privadas nacionais e multinacionais ligadas ao governo”, denunciou.
O estatuto social dos Correios determina que no mínimo 25% dos lucros da empresa têm que ser transferidos para o Tesouro. Com as empresas privadas no lugar dos Correios, o governo não vai receber mais recurso nenhum.
A empresa, segundo Diviza, “não só se mantém e investe em melhorias com recursos próprios, como alimenta os cofres do governo”. “Eles mentem que o governo põe dinheiro nos Correios para tentar confundir a população e os deputados”, denunciou.
Ele esclareceu que nem o rombo [provocado por falcatruas de dirigentes e políticos inescrupulosos] que houve no Postalis, fundo de pensão dos funcionários, foi coberto com dinheiro público. “Quem está pagando são os trabalhadores, e não o governo”, enfatizou.
PRIVATIZAÇÃO VAI AUMENTAR TARIFAS
Diviza alerta também para outra questão. O Correio é uma empresa que mantém os preços pelas entregas de encomendas em patamares razoáveis. As empresas privadas que atuam no setor – não há monopólio – gostariam de cobrar preços mais altos mas não conseguem pela presença dos Correios.
“É esta concorrência com os Correios que mantém os preços em patamares razoáveis. Querem privatizar para tirar os Correios da frente e subir os preços. Querem jogar os preços na lua”, advertiu. “Com a privatização, a primeira consequência será a alta dos preços cobrados pelos serviços privados, em prejuízo para a população”, observou o sindicalista.
“Eles falam que a quebra do monopólio postal será benéfica por causa da concorrência. É mentira. Não há monopólio nas entregas de encomendas, de sedex, etc. Há várias empresas privadas atuando nessas área no Brasil”, explicou Diviza. Só há monopólio postal, ou seja, na entrega de cartas.
“Os Correios tem eficiência de gestão e pratica a chamada ‘economia cruzada’. Regiões distantes que não dão lucro são cobertas pelos Correios e seus custos são compensados pelas regiões muito lucrativas. Isso faz com que a empresa esteja espalhada por todo o território nacional e, ao mesmo tempo, seja eficiente e lucrativa. Se houver a privatização, esse mecanismo acaba. As empresas privadas, Federal Express UPS, e outras, ou vão deixar regiões inteiras do país sem cobertura, ou, se o fizerem, vão cobrar preços exorbitantes para garantir as entregas. Essa subida de preços vai prejudicar ainda mais a população e as demais empresas do país”, afirmou o líder dos carteiros.
VENDA DOS CORREIOS VAI TRAZER PREJUÍZOS AOS COFRES PÚBLICOS
Diviza denunciou que o projeto de privatização do governo é que vai dar prejuízo aos cofres públicos. “Eles visam entregar as áreas lucrativas para as empresas privadas que são defendidas pelo governo e vão deixar o osso com o setor público. As regiões mais distantes, par onde vão duas ou três encomendas, e que não são lucrativas vão ficar sob responsabilidade do governo. O prejuízo vai ficar com o governo. Que somos nós, com o nosso dinheiro. Aí sim eles vão ter que gastar dinheiro público, ou seja, o nosso dinheiro, para manter os serviços. Isso é um crime contra o país”, prosseguiu o líder sindical.
“Além da elevação dos preços, a privatização vai trazer mais desemprego”, garantiu o líder dos carteiros paulista. “As empresas privadas vão demitir para ganhar mais. Isso é o que ocorre em todas as privatizações”, de nunciou.
“Os Correios é uma empresa social que ao mesmo tempo dá lucro. Isso eles não aceitam. Querem vendê-la. É burrice privatizar uma empresa como esta”, destacou.
“A maneira como o Bolsonaro fala sobre os funcionários é leviana. Ele diz que quer privatizar mas que está preocupado com os funcionários. Ele está preocupado é com o que vão pensar e dizer os funcionários que serão demitidos”, disse o sindicalista.
PRIVATIZAÇÃO AGRAVA O DESEMPREGO
Diviza explicou que o monopólio postal – cartas – garante aos Correios a exclusividade no envio de cartas. Isso inclui cobranças bancárias, boletos, etc. Os Correios, segundo ele, cumprem função de bancos em 2.230 municípios que não têm bancos. Sem esses serviços bancários feitos pelos Correios a economia desses municípios vai declinar. A privatização dos Correios será prejudicial, portanto, para toda a população e à economia do país.
Diviza esclarece que “quebrar o monopólio postal significa destruir os Correios. Porque, ao representar metade do faturamento da empresa, é este monopólio que garante a economia cruzada e o caráter social da empresa”.
Vamos mostrar aos parlamentares que é o monopólio que garante que os Correios atinjam todo o território nacional e ainda tenha lucros para repassar ao governo”, observou o dirigente dos carteiros.
“Quebrar o monopólio postal significa destruir o Correio. Entregar esses serviços para empresas privadas significa acabar com a economia cruzada, onde o maior paga para que o menor tenha o mesmo direito de receber correspondência. As empresas privadas só agem onde dá lucro”, denunciou Diviza.
Para as empresas privadas do setor de encomendas seria interessante, ela própria entregar seu próprio boleto após a quebra do monopólio. Isso aumentaria o seu lucro mas traria um grande prejuízo aos Correios e o país deixaria de ter uma empresa cobrindo todo o território nacional.
O resultado vai ser a elevação das tarifas por parte das empresas privadas, serão regiões inteiras sem cobertura e o fim da transferência de recursos dos Correios para o Tesouro. Ao contrário. O Tesouro é que terá que colocar dinheiro no que sobrasse dos Correios.
Por isso, disse o presidente do Sindicato dos Carteiros de São Paulo, “estamos mobilizados para esclarecer os deputados e senadores contra a privatização. Nós vamos barrar essa privatização dos Correios!”
SÉRGIO CRUZ