Segundo o ex-deputado “Witzel cobra da Cedae, mas ele é o governador, é culpa dele a situação chegar aonde chegou”
O ex-deputado e ex-ministro do Trabalho, Brizola Neto (PCdoB), criticou a falta de compromisso do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), para resolver a crise da água que afeta a população da capital e da baixada fluminense.
“Enquanto a qualidade da água está péssima, tem chegado barrenta, com forte mau cheiro e pessoas passando mal, problemas de saúde, indo ao médico, o governador de férias na Disney. Não voltou pra resolver o problema, nem se manifestou, não falou absolutamente nada. Isso sem falar em como ele já está tirando férias, sem mal completar um ano de mandato”, condenou Brizola Neto.
Em entrevista ao Hora do Povo, o pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro denunciou que a crise da água tem relação direta com a plano do governo de privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae).
“É sempre a mesma história, o mesmo modelo quando um governo quer privatizar uma estatal, antes começa o desmonte dela baseado em demissões, terceirizações, piorar a manutenção dos equipamentos, levando à queda na qualidade do serviço prestado para a população e achando que assim encontra uma justificativa para a venda da empresa pública. É isso o que vem acontecendo com a Cedae”, disse.
Wilson Witzel foi passar férias na Disney, em Orlando, nos Estados Unidos no dia 04 de janeiro e somente no dia 14 retornou ao Rio. Ao chegar, se manifestou pelo Twitter, dizendo que determinou uma “apuração rigorosa tanto da qualidade da água quanto dos processos de gestão da Cedae” e também considerou “inadmissíveis os transtornos que a população vem sofrendo por causa do problema na água”.
Brizola condenou a fala do governador do Rio. Para ele, “Witzel se eximiu de sua responsabilidade quando permaneceu fora do Rio e quando voltou também. Dizer que é inadmissível o que está acontecendo é o que o povo carioca diz. Ele é o governador, é culpa dele a situação chegar aonde chegou. Na colocação dele, ele cobra a Cedae de resolver o problema como se não fosse o responsável maior por resolver a crise”.
A água contaminada vem da Estação de Tratamento do Rio Guandu, responsável por cerca 80% do abastecimento de água potável da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Os afluentes do Rio Guandu apresentam sinais de contaminação por esgoto in natura irregular e a proliferação de algas e bactérias como a geosmina, que indica a possibilidade de outras bactérias estarem no rio.
Brizola Neto contou que “conversando com técnicos da Cedae sob condição de anonimato, eles contam que a situação da água do Rio Guandu não é uma novidade. O calor, inclusive, tende a piorar a condição da água, beneficiando a proliferação de algas e bactérias. Mas, o problema está na estação de tratamento, que agora não consegue mais limpar e deixar a água potável. Esse sim é um grave problema e um problema de ordem política e não natural”.
DEMISSÕES
“As decisões que garantem o pleno funcionamento da Cedae foram comprometidas porque técnicos altamente capacitados para tomar medidas rápidas a fim de sanar e até mesmo evitar problemas foram demitidos por Witzel”, que justificou a demissão dos 54 engenheiros e técnicos dizendo que eles recebiam salários muito altos.
“A crise podia ser evitada e toda a população fluminense poupada se o corpo técnico estivesse funcionando plenamente e se a manutenção estivesse sendo feita como mandam os protocolos”, disse Brizola Neto.
Brizola Neto chamou atenção para o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) que o Rio de Janeiro firmou com o governo federal, em 2017, durante o governo de Luiz Fernando Pezão, que impôs a privatização da Cedae e exigiu que o estado não desse aumento de salário aos servidores, nem a reposição inflacionária, em troca de suspender por três anos o pagamento das dívidas com a União. A entrega da Cedae foi barrada por decisão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), em novembro de 2018.
PRIVATIZAÇÃO
“A privatização da Cedae está parada, mas Witzel não é contrário a ela. O plano dele é vender e vender logo”, disse.
“O que Witzel não admite é que vender a Cedae não resolve este problema. No passado, em situação semelhante, diversas empresas públicas do Rio foram vendidas. A Cedae é uma das poucas que restaram. O objetivo é entregar tudo, não deixar sobrar nada e sabemos que com isso só quem perde é a população do Rio de Janeiro. A crise que assola o Estado e coloca em risco até os salários dos servidores não será resolvida com a venda das estatais e o arrocho exigido pelo RRF”, ressaltou.
Brizola Neto ainda criticou a forma como Witzel e sua legenda, o Partido Social Cristão (PSC), atuam na administração da estatal. “O pastor Everaldo é o presidente do PSC, é claro que ele exerce grande influência no governo Witzel, o que é de se esperar. A nomeação de Hélio Cabral, a demissão de funcionários gabaritados (54 ao todo, onde 39 eram responsáveis pelo controle de qualidade da água distribuída pela companhia), a precarização da manutenção da Estação de Guandu, mostram que a política adotada por eles é questionável, uma política com tendência a corrupção, aos cargos distribuídos conforme os interesses políticos pessoais e não de acordo com os interesses da população do Rio de Janeiro”.
MAÍRA CAMPOS