Com o compromisso de “recuperar a democracia e a Pátria”, tomada de assalto para os estrangeiros com o golpe de Jeanine Áñez, 40 mil bolivianos lotaram o estádio do Clube Desportivo Espanhol, na capital argentina, quarta-feira (22), para comemorar ao lado do ex-presidente Evo Morales os 14 anos do Estado Plurinacional.
Antes das palavras de Evo, Buenos Aires sediou um ritual de oferenda à Pachamama (Mãe Terra) e foi realizado um minuto de silêncio às vítimas dos massacres de Sacaba e Senkata, onde dezenas de inocentes foram assassinados por militares por defenderem a ordem constitucional.
“Depois de tempos muito difíceis, o autêntico povo boliviano chegou ao governo. Agora vamos recuperar a democracia. E vamos voltar!”, afirmou Evo, sob os aplausos da multidão de bolivianos que vive na Argentina, somada a outros tantos que driblaram a repressão para participar da comemoração. Devido à ditadura de Áñéz, muita gente não conseguiu chegar, ficando bloqueada na fronteira, como Walter Ferrufino, vice-governador da província O’Connor, departamento de Tarija.
Agradecendo ao presidente da Argentina, Alberto Fernández, e à vice-presidente, Cristina Kirchner, dezenas de milhares de manifestantes se deram as mãos, levantaram as vozes e fizeram tremular a bandeira andina da Whipala, recordando e agradecendo a Evo pelos 14 anos de avanços da Revolução Democrática e Cultural. A defesa da Whipala tem um expressivo significado, ainda mais quando este símbolo da dignidade e resistência foi queimado pelos golpistas.
Da mesma forma que em todos os dias 22 de janeiro, Evo deu o informe sobre a sua gestão presidencial, só que pela primeira vez na condição de exilado. A celebração contou com a alegre participação e um festival de bandas musicais e danças típicas, e a solidariedade de militantes da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), da Central Geral dos Trabalhadores (CGT), e relevantes movimentos sociais e políticos como o Movimento Evita e as Mães da Praça de Maio.’
Bandeiras distribuídas pelo estádio recordavam a perseguição ao argentino Facundo Molares, jovem fotógrafo preso pelo governo golpista na Bolívia desde novembro passado sob a acusação de ser “guerrilheiro”.
Ao lado da filha pequena, Raquel Mamani agradeceu a Evo pelos “14 anos de estabilidade”. “Nunca esqueceremos como modernizou os departamentos. Antes dele os governos sempre diziam que a Bolívia estava morrendo e o presidente voltou a nos colocar de pé”, frisou.
DE ANTICOLONIALISTA À ANTI-IMPERIALISTA
Acompanhado do ex-vice-presidente Álvaro García Linera e do candidato presidencial do Movimento Ao Socialismo (MAS), Luis Arce, Evo recordou como “as grandes lutas dos tempos de Colônia nos deixaram uma ideologia, de anticolonialista à anti-imperialista”. “As lutas, sublevações e rebeliões contra a dominação externa nos deixaram um mandato, um legado para que sigamos lutando pela liberdade, pela dignidade, por nossa identidade”, ressaltou.
O presidente deposto denunciou as contínuas campanhas de desinformação movidas pelo governo dos Estados Unidos, e mais explicita e diretamente pela sua Embaixada em La Paz, para sabotar o processo democrático boliviano e dividir a nação. “Desde afora preparavam para nos dividir e, nos dividindo, submeter com o neoliberalismo e o militarismo”.
Desta forma, assinalou, não havia outra forma para efetivar a libertação do país sem ser confrontando os ditames e as agressões do imperialismo, “a jamais vacilar diante do inimigo”. Assim, nosso compromisso no plano “político foi a refundação da Bolívia; no econômico, a nacionalização dos recursos naturais; e no social, a redistribuição da riqueza”. Assim chegamos ao governo, frisou, “não pela prata – o dinheiro -, mas pela Pátria, e seguirei fazendo política para derrotar a direita”.
Nesta vitoriosa caminhada, que será agora aprofundada, acrescentou, “temos hoje a taxa de desemprego mais baixa da América do Sul (4,5%), baixamos a pobreza extrema de 38% para 15% e cerca de 3 milhões de pessoas se somaram à classe média”.
No encerramento das atividades foi lançada a campanha presidencial do dia 3 de maio, que será encabeçada pelo ex-ministro da Economia, Luis Arce e pelo ex-chanceler David Choquehuanca, conforme definido pelo MAS e pelo Pacto de Unidade, que coordena as organizações indígenas e movimentos sociais bolivianos.
Entre outras lideranças prestigiaram o evento o secretário-geral da CTA e deputado federal Hugo Yasky; o dirigente do Sindicato dos Caminhoneiros da Argentina, Pablo Moyano, e o juiz Eugênio Zaffaroni, da Corte Interamericana de Direitos Humanos e integrante da equipe jurídica de Evo.
Com informações do Página 12, CTA e CGT
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