O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) criticou a indicação do pastor Ricardo Lopes Dias para a Coordenadoria Geral de Índios Isolados e Recém Contatados (CGIIRC) da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Ricardo Lopes atua na região amazônica desde agosto de 1997, na evangelização dos povos originários.
“O Cimi manifesta grave preocupação e repudia veementemente as recentes iniciativas do Governo Bolsonaro que afrontam a Constituição Brasileira e a política sobre povos indígenas isolados e de recente contato no Brasil”.
Segundo o órgão, que é vinculado à Igreja Católica, o “governo Bolsonaro dá evidentes sinais de abando à perspectiva técnico-científica, do respeito ao direito de existência livre desses povos, com seus próprios usos, costumes, crenças e tradições, em seus territórios devidamente reconhecidos e protegidos (CF Art. 231), para uma orientação neocolonialista e etnocida, de atração e contato forçados, com o uso do fundamentalismo religioso como instrumento para liberar os territórios destes povos à exploração por grandes fazendeiros e mineradores”.
Em um trecho de sua dissertação de mestrado “As ‘traduções’ Matses do contato histórico com missionárias do Summer Innstitute of Linguistics – SIL”, publicada pela Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) de Guarulhos em 2015, Dias narra sua chegada a Palmeiras do Javari, onde a Funai mantém uma importante base para proteção de índios isolados.
“Até então, o alvo era desenvolver um programa de evangelização dos Matses no Brasil, o que resultaria de um trabalho demorado, meticuloso e sofrível que envolveria jornadas de estudos para aquisição do idioma Matses, coleta de material cultural para análise, e progressivamente, uma elaboração de material linguístico, didático, informativo e religioso”.
Para o Cimi, “ao adotar este direcionamento, o governo Bolsonaro e os grupos econômicos e ‘investidores’ beneficiários desta política assumem, conjuntamente, a responsabilidade pelo potencial e iminente genocídio e etnocídio de povos indígenas no Brasil”.