Atormentado pelas dificuldades para aprovar a reforma da Previdência, o governo decidiu partir para o vale tudo. Após a indecorosa chantagem do ministro Carlos Marun a prefeitos e governadores com recursos do Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, Michel Temer decidiu reforçar a “munição” a serviço do seu chefe de tropa para angariar votos de parlamentares indecisos.
O novo capítulo da cruzada em busca de apoio no Congresso é a promessa de liberação de até R$ 10 bilhões, para finalizar obras em redutos eleitorais de quem votar a favor da reforma. Carlos Marun, fiel escudeiro de Eduardo Cunha, desde que o hoje presidiário ainda indicava cargos no governo Dilma, será o responsável pela compra dos votos. Esse dinheiro sairia da economia gerada neste ano com o corte previsto no pagamento de benefícios a partir da aprovação das novas regras para a aposentadoria.
Segundo matéria da “Folha de S.Paulo” na quarta-feira (10), assessores presidenciais dizem que essa será uma das “armas” para pressionar o Congresso na volta do recesso. A votação foi marcada para o dia 19 de fevereiro, na Câmara dos Deputados, mas as dificuldades à aprovação da proposta do governo crescem a cada dia que passa, com a aproximação da campanha eleitoral.
Por conta disso, faz parte da chantagem pressionar para que a matéria seja aprovada o quanto antes. A retórica utilizada por Marun será dizer que cálculos do governo indicam que a economia com benefícios que deixarão de ser pagos após a reforma vai gerar uma sobra de R$ 10 bilhões no caixa se a mudança ocorresse ainda em fevereiro. E que quanto mais a reforma demorar, menor seria essa economia gerada.
De acordo com a “Folha”, teriam prioridade os projetos em andamento que necessitam de pouco dinheiro para serem inaugurados ou entrarem na fase final. O governo trata essas obras como “de campanha”, porque, na avaliação da equipe política do Planalto, poderiam gerar votos nos municípios afetados.
Entre elas estariam ajustes finais na duplicação da rodovia Régis Bittencourt, na serra do Cafezal, obra praticamente concluída; a segunda fase da linha de transmissão de Belo Monte; a BR-163, no Pará, os aeroportos de Vitória (ES) e Macapá (AP) e a ponte do rio Guaíba (RS).
Com o propósito de aprovar a reforma da Previdência, a qualquer custo, desde meados do ano passado o governo vinha sinalizando com a liberação de recursos para obras em troca de votos. Porém, essas verbas não saíram do terreno das promessas.