O ex-presidente do PT e ex-ministro, Tarso Genro, disse que não irá participar da festa de comemoração de 40 anos do PT. “O Partido dos Trabalhadores faz 40 anos na próxima segunda-feira e hoje começa uma grande festa no Rio de Janeiro. Mas eu não pretendo participar. Não me sinto identificado, hoje, com o tipo de visão que o PT construiu de si mesmo”, diz o ex-ministro em depoimento para o UOL.
“Acho que o partido fez transformações democráticas muito positivas na sociedade brasileira, em particular no governo do presidente Lula. Mas também acho que ele teve que fazer uma série de modulações na sua linha política que bloquearam a sua renovação”, contou o ex-governador do Rio Grande do Sul.
“Ao longo destes 40 anos ocorreram composições e renúncias que nunca ficaram esclarecidas. Não sei se algumas destas concessões não foram renúncias de princípios. A festa de aniversário é uma boa iniciativa e tenho certeza que nem vão dar grande importância para a minha ausência”, continuou Tarso.
“A “autocrítica” que eu defendi [em 2005] não significava transformar o partido em delegacia de polícia. Quadros do PT cometeram erros ao longo destes 40 anos e isso não é nenhuma novidade em qualquer partido de qualquer ideologia. A reestruturação que eu defendia e defendo vai bem além”, continuou.
Naquele momento, o PT e o governo estavam às voltas com as denúncias referentes ao processo que se chamou de “mensalão”.
O ex-ministro diz que o partido ficou ultrapassado e defendeu “buscar convergências com outros campos políticos”. “Avaliarmos as condições das alianças e decidirmos unir (ou não) forças sociais, dependendo de cada situação concreta”.
E citou a Frente Ampla do Uruguai como “inspiração”. “Eles perderam as eleições ano passado, mas a sua derrota não permitiu a ascensão do fascismo, que espreita sempre os momentos de crise. Eles aglutinarem mais setores sociais e por isso suas conquistas democráticas foram mantidas”, lembrou.
Tarso considera que o partido precisa “oferecer respostas mais consistentes sobre a questão democrática e a natureza da sociedade que desejamos”.
Em seu relato, Genro disse que quando foi presidente do PT, em 2005, bateu “radicalmente com a maioria que, vamos dizer assim, controlava o partido e achava imprudente um processo de renovação/refundação”. “Na verdade, era o pacto hegemônico do partido que, naquele momento, não pretendia se renovar. E na minha opinião, não se renovou até hoje”.
O dirigente disse que não tem, no momento, “aspirações políticas que me seduzam a concorrer nas eleições. As pessoas ouvem que não vou mais concorrer e acham que estou ‘aposentado’. Continuo militante ativo e pensante”.
Em entrevista para a revista Veja, Tarso criticou a estratégia de Lula para o PT de lançar candidatos próprios para fortalecer sua candidatura nas eleições presidenciais em 2022.
“A estratégia que o PT está adotando é mais ou menos a mesma de sempre, em que são escolhidos candidatos nos locais onde há força política para, depois, compor um sistema de alianças. Para os tempos que estamos vivendo, essa não é a melhor visão”, advertiu.
“Penso que, em qualquer cidade, deveríamos localizar as forças políticas que estão de acordo numa frente política e, a partir disso, compor um programa de governo real para cada município. Uma vez superada essa etapa, conversaríamos com os aliados para buscar o melhor candidato dentro desse sistema de forças. Não deveríamos dizer previamente que teremos candidatos. Isso é um equívoco”, afirmou.