Sul-Coreano Parasita faz história ao ser o primeiro longa-metragem de fala não inglesa a ganhar o Oscar de Melhor Filme
O ganhador do Oscar 2020, no domingo, foi o sul-coreano ‘Parasita’, que levou quatro estatuetas, sendo o melhor das principais categorias: Roteiro Original, Filme Internacional, Direção e Filme. Ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2019 e é o primeiro longa-metragem de fala não inglesa a ficar com o Oscar de Melhor Filme.
A criativa e eloquente comédia de humor negro do diretor Bong Joon-ho relata o drama de parentes pobres que conseguem se infiltrar no dia-a-dia de uma família rica. A partir daí, retrata com acidez o cada vez mais cruel fosso existente entre as classes sociais, aprofundado pela violência da crise e da concentração de renda na Coreia do Sul.
Sofrendo com o desemprego e sobrevivendo em um porão sujo e apertado, um dos filhos começa a lecionar inglês à filha abastada e, em choque com a desigualdade, começa a tramar a saída do buraco.
Agradecendo à Academia pelo reconhecimento, Bong Joon-ho disse que gostaria de “dividir o troféu e compartilhar com todos vocês” e dedicou este primeiro Oscar à Coreia do Sul, por tudo o que representa.
CINEMA COREANO TEM FORTE INVESTIMENTO PÚBLICO
“Bom saber que o cinema coreano tem forte investimento público em formação, produção e exibição”, ironizou o cineasta Kleber Mendonça, diretor do consagrado Bacurau, frisando que “lá filme de boneco americano também passa, mas não toma 93% das salas porque isso é proibido, tem lei de proteção ao filme nacional. Como deve ser”.
Na avaliação da cineasta Pietra Costa, “foi um dia histórico para o cinema internacional”. “Viva Parasita, sua crítica social e seu humor genial”, escreveu a brasileira, que também concorreu ao Oscar de melhor documentário com ‘Democracia em Vertigem’. Nesta categoria, a estatueta ficou com o filme “Indústria Americana”, que aborda as relações de trabalho em uma empresa chinesa, fabricante de vidros automotivos. Instalada nos EUA, a firma passa a contratar americanos para ser sua mão de obra, precisando treiná-la para estar apta a seu ritmo.
Para Júlia Reichert, codiretora do documentário vencedor, “Indústria Americana é um filme de Ohio, mas também da China, e poderia ser de qualquer lugar onde as pessoas vestem um uniforme e vão trabalhar para trazer uma vida melhor para sua família”. “Trabalhadores e operários têm uma vida cada vez mais difícil. E nós acreditamos que a vida vai melhorar quando os trabalhadores do mundo se unirem”, sublinhou Reichert, referindo-se à frase “trabalhadores do mundo, uni-vos”, do Manifesto Comunista, de Marx e Engels.
Embora tenha sido o filme que recebeu mais indicações – estava disputando em 11 categorias -, ‘Coringa’ recebeu somente dois prêmios, com Joaquin Phoenix tendo seu favoritismo confirmado por melhor ator e melhor trilha sonora original. Outro bastante prestigiado, ‘1917’ acabou recebendo apenas três estatuetas em categorias técnicas: melhor mixagem de som, melhor fotografia e melhores efeitos visuais.
Muito aplaudido foi o ator Brad Pitt que, ao agradecer o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, referiu-se ao tempo que tinha para falar durante a solenidade do Oscar, 45 segundos, destacou: “É mais do que o que foi dado a John Bolton”, referindo-se ao fato do Senado norte-americano ter vetado a audição de testemunhas-chave no processo de impeachment de Trump.
Segue a lista completa de vencedores:
Melhor ator coadjuvante: Brad Pitt, por ‘Era Uma Vez… em Hollywood’
Melhor filme de animação: ’Toy Story 4’
Melhor curta-metragem de animação: ‘Hair Love’
Melhor roteiro original: Bong Joon Ho e Han Jin Won, por ‘Parasita’
Melhor roteiro adaptado: Taika Waititi, por ‘Jojo Rabbit’
Melhor curta-metragem: ‘The Neighbors’ Window’
Melhor design de produção (direção de arte): Barbara Ling e Nancy Haigh, por ‘Era uma vez em… Hollywood’
Melhor figurino: Jacqueline Durran, por ‘Adoráveis Mulheres’
Melhor documentário: ‘Indústria Americana’
Melhor Documentário de Curta-Metragem: ‘Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)’
Melhor atriz coadjuvante: Laura Dern, por ‘História de um Casamento’
Melhor edição de som: Donald Sylvester, por ‘Ford vs Ferrari’
Melhor mixagem de som: Mark Taylor e Stuart Wilson, por ‘1917’
Melhor fotografia: Roger Deakins, por ‘1917’
Melhor edição de filme: Michael McCusker e Andrew Buckland, por ‘Ford vs Ferrari’
Melhores efeitos visuais: Guillaume Rocheron, Greg Butler e Dominic Tuohy, por ‘1917’
Melhor maquiagem: Kazu Hiro, Anne Morga e Vivian Baker, por ‘O Escândalo’
Melhor filme internacional: ‘Parasita’
Melhor trilha sonora original: Hildur Guðnadóttir, por ‘Coringa’
Melhor música original: Elton John e Bernie Taupin, por I’m Gonna Love Me Again, de ‘Rocketman’
Melhor direção: Bong Joon Ho, por ‘Parasita’
Melhor ator: Joaquin Phoenix, por ‘Coringa’
Melhor atriz: Renée Zellweger, por ‘Judy – Muito Além do Arco-Íris’
Melhor filme: ‘Parasita’