O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, admitiu, em delação premiada, que sua esposa, a advogada Adriana Ancelmo, sabia da existência e “usufruiu” de seu “caixa paralelo” de dinheiro oriundo da propina.
Cabral usou o escritório de advocacia de sua esposa para lavar dinheiro que recebeu do empresário Italo Garritano, que é dono da rede de restaurante japonês Manekineko. Ao todo, foram lavados R$ 4 milhões com notas fiscais falsas.
“Eu confirmo a emissão de notas fiscais por parte do escritório da minha mulher, Adriana, para colher e atender a demanda dessa empresa com recursos de valores indevidos obtidos por mim”, disse durante a delação.
De acordo com o depoimento, “ela [Adriana] sabia que eu tinha um paralelo, sabia que meus gastos eram incompatíveis com a minha receita formal”, disse Cabral.
Cabral disse que foi Adriana quem apresentou a proposta do esquema de corrupção. “Foi trazido o pleito pela Adriana, e combinei entrega de dinheiro na casa de Thiago Aragão”, que é sócio de Adriana, disse o ex-governador. Adriana, porém, “nunca sentou com um fornecedor”.
A rede de restaurantes de comida japonesa Manekineko tinha duas folhas de pagamento de seus funcionários: uma regular, sem nenhuma ilegalidade; e outra com valores que não batiam com a das carteiras de trabalho, para não pagar os impostos.
Então, a Manekineko fazia contratos falsos com o escritório de Adriana Ancelmo, que ficava com parte do dinheiro e o resto usava para pagar os funcionários do restaurante à margem da lei.
Em 2014 e 2015, a Manekineko passou para o escritório Ancelmo Advogados R$ 3,3 milhões.
Sérgio Cabral vinha tentando proteger sua esposa, dizendo que tinha sido ele a organizar todo o esquema de corrupção envolvendo o escritório de advocacia e que ela não sabia de nada. Seu depoimento somente mudou depois de homologada sua delação premiada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
PGR
Contudo, o procurador-geral da República, Augusto Aras, recorreu na terça-feira (11) contra a homologação do acordo de delação premiada de Sérgio Cabral, preso desde novembro de 2016.
A delação de Cabral foi negociada com a Polícia Federal e homologada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, na semana passada, com parecer contrário da PGR. O acordo já havia sido rejeitado pelo Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF-RJ).
O procurador-geral diz no recurso que há “fundadas suspeitas” de que Cabral continua a ocultar bens oriundos de corrupção. “O entendimento é o de que esse fato viola a boa-fé objetiva, condição necessária à elaboração de acordos de colaboração”, diz nota da PGR.