
Aumentam as suspeitas de que a morte de Adriano Nóbrega foi um “cala boca” de quem sabia muito
Jair Bolsonaro disse, no sábado (15), que “quem matou o capitão Adriano foi a polícia Militar da Bahia”. Ele foi até mais longe do que o filho, Flávio, no cinismo. Admitiu que foi queima de arquivo, mas culpou a Bahia pelo crime. Disse que, pelas características dos ferimentos, “transfixando o tórax, trata-se de queima de arquivo”. Assim que Adriano morreu, Flávio usou as redes sociais para alertar que estavam querendo cremar o corpo do ex-PM para impedir as investigações.
Bolsonaro disse também que foi dele a ideia de homenagear Adriano da Nóbrega, morto no último fim de semana na Bahia. Com isso deixa claro que era ele quem pilotava o gabinete do seu “zero um”, Flávio, que era o deputado estadual, e foi o autor oficial da homenagem.
Bolsonaro defendeu que o criminoso homenageado era um herói.
Na época, o “herói” de Bolsonaro estava atrás das grades por crime de assassinato. Mas ele disse que era normal “policiais matarem vagabundos e irem presos, porque a imprensa distorce tudo”. Contra todas as evidências de que Adriano era um assassino, Bolsonaro insistiu que “não há nenhum crime que tenha transitado em julgado contra Adriano”.
Adriano escapou desta prisão de 2005, porque testemunhas tiveram medo de comparecer ao tribunal. Mas, ele não escapou das outras que vieram depois. Acabou sendo expulso da PM, foi ser assassino de aluguel e se juntou com Ronnie Lessa, autor dos disparos que acertaram a cabeça de Marielle. Estava foragido há um ano.
Bolsonaro mentiu também ao dizer que não conhece milícia. “Eu não conheço milícia. Eu não conheço milícia”. “Eu não tenho nenhuma ligação com milícias”, disse ele várias vezes, subindo o tom de voz para tentar convencer os presentes. Todo o país sabe de suas ligações com as milícias. Flávio aproveitou a entrevista do pai para também jurar de pés juntos que não tem nada a ver com milícias.
Bolsonaro mentiu também dizendo que depois da homenagem a Adriano, não teve mais contato com o miliciano e que não sabia que ele tinha escolhido outro caminho na vida. Sabia sim.
Seu filho empregou Danielle Nóbrega, então mulher do pistoleiro, no gabinete dois anos depois, em 2007. Ela ficou no gabinete de Flávio até 2018.
E, pior, o deputado, filho do presidente, empregou a mãe de Adriano, Raimunda Veras, em 2016, já depois de várias prisões do ex-capitão e de sua expulsão, em 2014, da PM do Rio de Janeiro.
Adriano já chefiava a milícia do Rio das Pedras, já chefiava o Escritório do Crime, um esquadrão de assassinos de aluguel, acusado de assassinar a vereadora Marielle Franco, enquanto sua mãe e sua ex-mulher seguiam recebendo salário sem trabalhar, num total de R$ 1 milhão, do gabinete de Flávio.
As duas laranjas repassavam uma parte do dinheiro para Adriano e devolviam outros R$ 400 mil para o deputado. A polícia já tinha identificado, numa conversa gravada entre Adriano e sua ex-mulher, que o assassino profissional recebia uma mesada do gabinete do filho de Bolsonaro. O presidente jura que não sabia de nada disso.
As ligações de Adriano com a família Bolsonaro eram muito estreitas. Não há dúvida nenhuma a quem interessava uma queima de arquivo no caso da morte do chefe do Escritório do Crime. Esse falatório todo da família Bolsonaro, depois que o miliciano foi eliminado, nada mais é do que o alívio pelo silêncio conseguido e a tentativa de jogar o crime no colo de outros. Por isso a acusação da Bolsonaro à PM da Bahia.
O comparsa de Adriano, que foi preso junto com ele por assassinato, o então sargento Fabrício Queiroz, tornou-se simplesmente o manda-chuva do gabinete de Flávio Bolsonaro. Recebia parte dos salários de funcionários fantasmas e repassava uma parte para o chefe do Escritório do Crime. As ligações com Adriano continuaram por anos a fio.

Esse, seguramente, era um dos “segredos” que levaram o ex-capitão do BOPE à morte na Bahia.
Ninguém duvida que todas as “ideias” defendidas pelos filhos de Bolsonaro partam da brilhante cabeça do “mito”. É óbvio que é do chefe do clã que partem todas essas idiotices, inclusive homenagear e financiar um integrante da milícia e do Escritório do Crime. A truculência, a submissão a Trump, o obscurantismo e os pequenos esquemas de roubo, como rachadinhas, etc, só poderiam sair de sua cabeça.
Por isso, chamar para si as homenagens do gabinete de Flávio a Adriano só complicam ainda mais as suspeitas de que as ligações com a milícia eram dele, Bolsonaro.
Os filhos são só uma imitação ainda mais torpe do pai. Lembremos que no dia seguinte à morte de Marielle, Carlos Bolsonaro, seu filho mais novo, postou uma foto com flores, comemorando o ocorrido.
No fechamento desta matéria, o governador da Bahia respondeu aos ataques de Bolsonaro. Segue:
“O Governo do Estado da Bahia não mantém laços de amizade nem presta homenagens a bandidos nem procurados pela Justiça. A Bahia luta contra e não vai tolerar nunca milícias nem bandidagem. Na Bahia, trabalhamos duro para prevalecer a Lei e o Estado de Direito. Na Bahia, a determinação é cumprir ordem judicial e prender os criminosos com vida. Mas se estes atiram contra Pais e Mães de família que representam a sociedade, os mesmos têm o direito de salvar suas próprias vidas, mesmo que os MARGINAIS mantenham laços de amizade com a Presidência”, escreveu o governador da Bahia, Rui Costa, em seu twitter.
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