
Gilson Menezes faleceu no domingo de carnaval (23/02), aos 70 anos, pouco depois da zero hora.
Tudo o que se está dizendo sobre ele – um dos fundadores do PT; primeiro prefeito, no país, eleito pelo PT, em Diadema, São Paulo (1983-1988); outra vez eleito prefeito da cidade, desta vez pelo PSB (1997-2000); vice-prefeito (2009-2012); duas vezes deputado estadual, e mais algumas coisas – é, certamente, verdade.
Resta a nós acrescentar que, como líder operário, Gilson Menezes foi decisivo para a eclosão da grande greve de 1978, mais decisivo até que Lula – e isto não é uma subestimação do papel deste último, que se tornaria, em seguida, o principal líder da greve.
Mas estamos falando da eclosão da greve, não de sua continuidade ou do conjunto do movimento grevista dos operários do ABC.
Gilson trabalhava na fábrica da Scania, em São Bernardo do Campo, debaixo do arrocho salarial da ditadura. Anos depois, ele nos contaria: “eu pedi para ficar na manutenção, para poder circular por toda a fábrica, era a forma de organizar o movimento”.
Era preciso coragem. Todo mundo sabia o que podia acontecer – em maio de 1978 ainda se respirava aquela atmosfera de medo, tortura e sangue, implantada, dez anos antes, pelo AI-5, que somente seria suspenso em outubro.

Na Scania, assim como em outras fábricas, o reajuste do salário (o reajuste efetivo, real, aquele que os trabalhadores receberam em dinheiro) fora ainda menor do que aquele concedido pelo governo.
O pagamento foi no dia 10 de maio; o índice do governo era 39%; o reajuste na Scania foi de 24%, depois de descontadas as “antecipações salariais”.
No dia seguinte, véspera da greve na Scania, Gilson esteve no sindicato e falou com seu presidente, Luiz Inácio da Silva: “Eu disse a ele: o pessoal vai parar. Mas ele não deu muita importância”.
No dia 12 de maio, os operários entraram na fábrica, bateram o ponto e permaneceram parados, sem ligar as máquinas, reivindicando um reajuste 20 a 25% maior que o índice do governo.
A diretoria da Scania pediu uma reunião de emergência com a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos, realizada à uma hora da tarde no Holiday Inn Hotel, e pediu que o Sindicato interviesse para acabar com a greve.
O presidente do Sindicato, Luiz Inácio da Silva, recusou o pedido da Scania.
Nesse momento, soube-se que a greve se expandira pelas fábricas da Ford, Volkswagen, Wheaton, Chrysler, e, em seguida, a da Mercedes Benz, Motores Perkins, Karmann Ghia…
“Eu não esperava isso. Até me assustei com o que estava acontecendo”, disse Gilson Menezes uma vez a nós.
A greve ultrapassara, já, os limites do município de São Bernardo.
No segundo dia da greve, as negociações com os patrões foram assumidas pelo Sindicato. A proposta inicial (+6,5% além do índice do governo) foi rejeitada. No acordo final, fechou-se em +15%.
Toda a trajetória posterior de Gilson foi uma consequência desse ato heroico, sob uma ditadura, em que um movimento por um reajuste um pouco melhor transformou-se na maior greve do país em anos de opressão e silêncio. A greve confrontou uma das razões de existir da ditadura: o arrocho salarial, sobretudo nas empresas estrangeiras.
Entretanto, ele não concordaria com isso: para ele, sua origem, criança trabalhando em uma plantação de sisal na Bahia, onde nasceu, tinha determinado toda a sua vida. Chegou a São Paulo com 11 anos – mas sempre se lembrou da áspera vida no sisal.
Não falaremos aqui de sua saída do PT e da amargura que acumulou naquela época.
Há quatro anos, declarou, sobre o partido que fundara: “Está tudo desmoronando. Por que fizeram isso? Se inebriaram pelo poder do dinheiro. Faltou firmeza ideológica. Hoje, o PT virou aquele partido que foi feito para ser diferente, mas briga para ser igual”.
Gilson Menezes será velado, a partir das 18h de domingo, na Câmara Municipal de Diadema. Seu funeral ocorrerá na manhã de segunda-feira, no Cemitério Municipal de Diadema.
É justo reproduzir aqui o anúncio de sua partida, por parte de seu filho Gilson Menezes Júnior:
“Me falta palavras pra dizer o quanto você foi e sempre será especial na minha vida, meu pai, meu herói, meu exemplo. Infelizmente às 0h30 do dia de hoje nos despedimos de você, mas nos nossos corações estará para sempre, em cada batida, uma boa lembrança. Te amo pai, descanse em paz”.
C.L.