Após os fortes temporais que atingiram a cidade do Rio de Janeiro no final de semana, o prefeito Marcelo Crivella tentou, em duas oportunidades, culpar a população pelas enchentes. Segundo o bispo da Igreja Universal, os cariocas gostam de morar perto de áreas de risco para gastar “menos tubos para colocar cocô e xixi”.
O prefeito deu as declarações no domingo (1) durante uma reunião no Centro de Operações Rio, que foi transmitida ao vivo pelo Facebook.
“As pessoas gostam de morar ali perto dos talvegues – linha mais baixa de um vale por onde escorre a água da chuva e das nascentes – para gastar menos tubo e colocar cocô e xixi e ficar livre daquilo. Essas áreas são muito perigosas”, disse ele.
Na segunda-feira (2), Crivella voltou novamente a acusar o povo carioca por sua incompetência.
“A culpa é de grande parte da população, que joga lixo nos rios frequentemente”, afirmou à imprensa, segundos antes de ser atingido no ombro e na testa por barro arremessado por um morador do bairro de Realengo, na zona oeste da cidade.
Ao mesmo tempo em que Crivella critica a população, sua gestão zerou os investimentos em 2020 com a manutenção do sistema de drenagem da cidade – ação essencial para a prevenção de alagamentos. A Prefeitura acumula uma dívida milionária com as empresas de engenharia que executavam esse tipo de serviço.
O levantamento realizado pelo vereador Tarcísio Motta (PSol-RJ) com base em dados do Sistema de Contabilidade e Execução Orçamentária (Fincon). De acordo com os dados, nem um real saiu dos cofres públicos para a manutenção do sistema de drenagem em 2020. Situação semelhante já havia ocorrido em 2019, quando não houve nenhum gasto até abril.
Além de não ter desembolsado verbas para a manutenção das galerias, a prefeitura também não fez nenhuma liquidação desses serviços. A liquidação é a segunda fase da execução das despesas públicas, e significa que o poder público já atestou que os serviços foram de fato prestados. O orçamento do Rio está aberto desde o dia 28 de janeiro.
Crivella retirou mais de R$ 4 milhões de obras de pavimentação e drenagem para repassá-los ao programa Cimento Social – sua principal bandeira eleitoral desde que entrou na política. Também foram retirados da Fundação Instituto de Geotécnica (GeoRio) R$ 8 milhões, que custeariam obras de contenção de encostas e intervenções em pontes, viadutos e outras estruturas urbanas.
Enquanto Crivella fazia acusações desmedidas, os cariocas sofrem as consequências das chuvas.