Em Moscou, na segunda-feira, 15, parou o coração do revolucionário russo Victor Ivanovich Ampilov. No sábado passado quando se dirigia ao encontro do candidato à presidência Pavel Grudinin sofreu um AVC agudo e, depois de dois dias em coma, faleceu.
Victor foi o primeiro a reagir à traição que Mikhail Gorbatchov e Yeltsin cometeram contra o povo, provocando no final de 1991 a dissolução da União Soviética. Claudio Campos, secretário-geral do Movimento revolucionário 8 de Outubro, descreve com precisão aqueles momentos na sua introdução ao livro de autoria de Ampilov, “Os Diálogos de Lefortovo”, lançado no Brasil em 1997: “Victor Ampilov é um herói do povo soviético. Dizem que há sociedades que já não precisam de heróis, mas isso é apenas arrogância. Não há um só povo que agora e ainda por muito tempo possa passar sem eles, e a Rússia de hoje certamente não é uma exceção. Quando o estancamento e a corrosão do pensamento revolucionário na URSS, após a morte de Stalin, culminou na desestabilização do poder soviético, foi Ampilov, à frente de centenas de milhares de trabalhadores e intelectuais, quem manteve acesa a chama sagrada da resistência, iluminando e aquecendo a esperança de milhões, na Rússia e em todo o mundo, de um futuro de paz, harmonia e prosperidade”.
“Quando a nobre bandeira da democracia foi mais uma vez enlameada para encobrir o fascismo, o banditismo e os mais solertes apetites, foi Ampilov quem liderou os heróis e mártires que, com pouco mais que o próprio corpo, enfrentaram os tanques, que disparavam contra o que restava da democracia real, o Congresso soviético. Mais tarde, durante o simulacro de eleições que manteve no poder o bufão Yeltsin, foi Ampilov quem avalizou a aliança progressista que humilhou a camarilha vende-pátria, apesar do rígido controle da TV, do rádio e dos jornais”, detalha Claudio e conclui afirmando que “por tudo isso, é impagável a dívida dos amantes da liberdade e da justiça em todo mundo para com este humilde, valoroso e culto filho de camponeses russos”.
Ampilov veio ao Brasil em 1992 e visitou as instalações do jornal Hora do Povo.
Foi também por iniciativa dele que o artigo de Cláudio Campos, “A fantasia reacionária do socialismo de mercado”, foi publicado no site do Movimento Rússia dos Trabalhadores.
Nos anos seguintes à dissolução da URSS, Victor Ivanovich organizou o Movimento Rússia dos Trabalhadores e dia após dia denunciou nas portas de fábrica, nas universidades, nas praças e ruas os crimes cometidos pelos que privatizaram e entregaram as riquezas da URSS. Recentemente, engrossou a ampla frente que lançou a candidatura do diretor do Sovkhoz Lenin, Pavel Grudinin, à Presidência do país e passou seus últimos dias divulgando as propostas que têm como objetivo a volta do socialismo ao país.
Centenas de camaradas, amigos, admiradores de sua obra acompanharam a evolução de seu quadro clínico e milhares manifestam pesar pelo seu falecimento.
“Era o nosso Che Guevara russo. Ampilov tinha 72 anos de idade, mas sua saúde tinha sido debilitada nas barricadas da Casa do Governo, nas câmaras de tortura de Lefortovo, na luta contra os que ocuparam o partido. Para mim, foi um mentor político, porque foi na “Rússia dos Trabalhadores” que me iniciei em 1997. Memória eterna e glória eterna!”, afirmou Serguey Udaltsov, líder da Frente de Esquerda, amplo movimento de oposição.
Em nota, Partido Comunista Unido [da Rússia], frisou: “O primordial princípio político e moral de Ampilov foi o princípio da confiança nas massas, nas pessoas simples, no grande exército dos humilhados e oprimidos. Daqueles que não se integraram às novas imposições do mercado, não traíram nem descartaram a bandeira do socialismo. Com eles, Ampilov desenvolveu todas as suas ações”.
“Nascido em 1945, Ampilov sempre enfatizou que ele é contemporâneo da Grande Vitória. Depois de ter sofrido espancamento, prisão, ostracismo da mídia corrupta, Victor Ampilov até o fim de seus dias acreditava em uma nova Vitória do socialismo. Foi temperado na luta por ela. Hoje nós continuamos essa luta”, acrescenta a nota.
SUSANA SANTOS