O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), criticou os elogios feitos no último domingo (01) pelo chefe da Força Nacional de Segurança, coronel Antônio Aginaldo de Oliveira, aos policiais amotinados no estado. “Essa não é uma forma que eu trataria amotinados”, afirmou Santana, durante participação na noite de quarta-feira (4) no programa Central GloboNews.
O coronel nomeado por Jair Bolsonaro para a Força Nacional é casado com a deputada Carla Zambelli (PSL-CE) e afirmou durante a assembleia dos amotinados que os policiais são “gigantes”. “Vocês são monstros, vocês são corajosos e demonstraram isso nesses 10, 11, 12 dias que estão dentro desse quartel em busca de melhorias da classe”, disse ele. Questionado se o coronel devia ser punido, o governador, depois de criticar o comportamento do militar, disse que não é uma decisão que cabe a ele.
Influenciados por políticos bolsonaristas do estado, os policiais militares do Ceará recusaram uma proposta de aumento salarial de 43%, que elevaria o salário inicial de soldado de R$ 3.200,00 para R$ 4,500,00. Camilo disse que havia uma disputa muito grande entre os próprios políticos que estavam à frente do movimento.
Eles ficaram amotinados por 13 dias. Durante o motim, homens encapuzados à paisana e armados aterrorizaram a população do Ceará, agrediram policiais que não aderiram ao motim e inutilizaram diversas viaturas da polícia. No período, o estado viveu uma explosão no número de homicídios. No final dos 13 dias, os amotinados aceitaram a proposta original do governo e decidiram voltar ao trabalho sem conseguirem a anistia, como desejavam.
Sobre a declaração do ministro Sérgio Moro, de que “a crise no Ceará só foi resolvida pela ação do governo federal, Forças Armadas e Força Nacional”, o governador respondeu: “O que resolveu o problema (da crise de segurança) do Ceará foi o somatória de esforços”.
O ministro Moro foi duramente criticado por ter ido ao Ceará e não ter condenado de forma enfática a ação criminosa dos amotinados. O próprio senador Major Olímpio (PSL-SP), quando esteve no estado, disse que aquilo que ele estava vendo não era “comportamento de policial”.
E sobre a ameaça de Bolsonaro de não prorrogar, durante o motim a autorização para a permanência das Forças Armadas no estado, Santana disse: “Acho que o governo federal não seria inconsequente de não atender (o pedido do governo cearense de manter as forças federais no estado)”. Ele agradeceu o apoio recebido de todos os governadores. Os governadores dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão e Piauí ofereceram o envio de tropas caso Bolsonaro retirasse as tropas federais antes da solução do conflito.
CABO SABINO ESTÁ FORAGIDO
Santana disse que o ex-deputado federal bolsonarista Cabo Sabino, que incitou ao motim e a violência contra a população cearense, está foragido e sendo procurado pela polícia. “Há uma disputa por espaço entre os próprios líderes políticos dentro do movimento. Inclusive um deles, está com um mandado de prisão e está foragido do estado do Ceará. Estamos atrás dele e não conseguimos encontrar”, disse o governador.
Santana falou também sobre os constantes ataques do presidente aos governadores: “A posição do presidente deveria ser cada vez mais a de aproximar os estados para discutir os assuntos que são importantes para a vida da população”. Ao comentar o episódio em que o senador licenciado Cid Gomes (PDT-CE) utilizou uma retroescavadeira para tentar desobstruir uma via tomada por policiais amotinados na cidade de Sobral no dia 19, o governador cearense disse que entendeu a inciativa como um “atitude de indignação”. Cid, que é aliado de Santana, foi baleado com dois tiros, mas passa bem.