
O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o “zero dois”, ocupou nos últimos dias o chamado “gabinete do ódio”, localizado no Palácio do Planalto, durante a viagem de seu pai, Jair Bolsonaro, aos Estados Unidos. Ele é vereador na cidade do Rio de Janeiro, mas preferiu se deslocar para Brasília e coordenar os seus paus-mandados, colocados por ele, no tal gabinete.
O trio de “espiões” contratados por Carlos no Planalto são Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz.
Os agentes do Carlos, nomeados na Presidência, atuam sob o comando do vereador. Eles intensificaram os ataques a todos aqueles que são considerados desafetos do governo, entre eles a nova secretária especial de Cultura, Regina Duarte.
Eles dispararam mensagens convocando a manifestação golpista que visa o fechamento do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), marcada para o próximo dia 15 de março.
Outro alvo do “gabinete” é o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. Carlos e seus agentes acham que o articulador político do governo cedeu demais ao Congresso nas negociações envolvendo o controle de parte do Orçamento.
O “recado” da falange bolsonarista contra o acordo foi repercutido na própria rede social do vereador. “Tenho atuado como posso, entretanto é visível que o presidente está sendo propositalmente isolado e blindado por imbecis com ego maior que a cara”, postou Carlos no Twitter.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na semana passada, o ex-ministro Gustavo Bebiano contou que, quando ainda era ministro, foi surpreendido com a chegada no Palácio do Planalto de Carlos Bolsonaro e mais três pessoas.
Segundo Bebiano, Carlos informou a ele e ao general Santos Cruz que pretendia contratar aquelas pessoas para fazer uma espécie de segurança paralela do presidente, porque ele [Carlos] não confiava na ABIN (Agência Brasileira de Informação), órgão ligado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que está sob o comando de Augusto Heleno.
Bebiano informou ainda, durante a entrevista, que não sabe se a “ABIN paralela” foi montada ou não, porque ele e o general Santos Cruz saíram do governo. “Eu sei que o general Santos Cruz também se opôs à ideia de Carlos, mas o Jair Bolsonaro não enfrentou como devia aquela iniciativa”, disse o ex-ministro.
A atuação do vereador e de seus “agentes” nestes últimos dias e o resultado que se viu nas redes sociais revelam que o “gabinete” está funcionando a todo vapor.
Durante a visita de Carlos a Brasília, a pressão sobre a recém-empossada secretária especial de Cultura, Regina Duarte, atingiu contornos elevados. No domingo, em entrevista ao “Fantástisco”, da Rede Globo, ela declarou ser perseguida por uma “facção” do governo.
Desde que tomou posse, na semana passada, a atriz passou a ser alvo de críticas de Carlos e de seguidores do guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho. No Twitter, começaram a circular as hashtags #ForaRegina #ForaRamos. O ministro Luiz Eduardo Ramos é considerado o responsável por levar a atriz para o governo.
Carlos Bolsonaro trabalhou também intensamente para o cancelamento da nomeação, por Regina Duarte, de Maria do Carmo Brant de Carvalho para a Secretaria da Diversidade Cultural. Maria do Carmo é filiada desde 1989 ao PSDB.
Ao final, em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), a nomeação da tucana foi suspensa. Com medo da pressão nas redes sociais, desencadeada por Carlos Bolsonaro, o general Ramos repreendeu publicamente a fala da secretária pelo uso do termo facção para se referir aos grupos bolsonaristas que a atacavam.