Governador João Doria diz que “não há nenhuma razão para pânico”
O secretário da Saúde de São Paulo, David Uip, participou de reunião com um grupo de médicos da capital paulista para discutir os enfrentamentos da epidemia de coronavírus que chega ao Brasil. Áudio divulgado pelo médico Fábio Jatene, após a reunião, aponta uma estimativa de 45 mil pessoas infectadas na Grande São Paulo nos próximos quatro meses.
Segundo o médico, que é professor titular de cirurgia torácica do Instituto do Coração (Incor), destes casos, entre 10 e 11 mil casos necessitarão de Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Participaram da reunião, segundo Jatene, os médicos David Uip, Ésper Kallas e Marcelo Amato.
No áudio, Jatene fala da necessidade de leitos de UTI para o tratamento da doença e alerta para a falta do equipamento em São Paulo.
Jatene menciona ainda relato de Marcelo Amato, famoso médico intensivista, sobre a situação da Itália.
“Marcelo Amato contou que na Itália está o caos, porque as UTIs estão cheias, lotadas, abarrotadas e agora eles estão pondo pacientes em centro cirúrgico, porque centro cirúrgico tem respirador. Então, dá para botar o paciente no centro cirúrgico usando como uma sala de UTI. Todas as operações foram suspensas e eles estão tentando da melhor maneira fazer tratamento intensivo”, diz o médico.
David Uip confirma, mas diz que cirurgião fez interpretação dos dados
Nesta quinta-feira, perguntado sobre a veracidade das informações, o secretário David Uip confirmou a reunião, mas apontou que Jatene fez “uma interpretação com cabeça de cirurgião” das informações.
“Esse áudio é do meu queridíssimo do doutor Fábio Jatene. Ele é verídico e é cabeça de cirurgião. Cabeça de cirurgião cardíaco é assim: ele pontua, interpreta e resolve”, afirmou Uip durante coletiva sobre a doença no Palácio dos Bandeirantes.
Uip confirma o cálculo: “isso é decorrente de uma reunião científica que ocorreu ontem no Incor aonde eu fui falar de estratégia do governo do estado. e dentro das estratégias, exatamente o que eu estou falando com os senhores – nós planejamentos de 1% a 10%. Esse é o cenário. Então, é fazer contas. O que é um 1% de vinte e seis milhões. O que é 80% de 1%, o que é 20% de 1%. Guardadas duas considerações. Primeiro, que isso não se instala imediatamente. E a sazonalidade de uma pandemia. Nós não vamos precisar de todos os leitos amanhã. Vai se posicionando”, explicou Uip em coletiva.
De acordo com o coordenador, “o Incor tem uma unidade de terapia intensiva pra insuficiência respiratória que é comandada pelo professor Carlos Carvalho, essa unidade treinará todas as unidades de insuficiência respiratória dos hospitais do estado. Ela foi montada para um momento como esse”, diz.
“Então, o que foi discutido e o que o Fábio interpretou diferente ou eu não tive a competência de falar de um jeito que ele deveria ter interpretado, foram cenários do ponto de vista daquilo que pode acontecer em todos os momentos. Planejador é isso, você planeja de 1% a 10% e aí é fazer contas. Segundo ponto importante que esta conta de 1% não é em cima dos 26 milhões, dos 26 milhões você elenca a população a partir de 50 anos de idade. Porque a população abaixo não vai ser internada e chega números e isso oferece ao gestor a possibilidade de ir em busca de recursos e investimento que é o papel do secretário de estado”, completou.
Governo paulista anuncia medidas
Durante a coletiva, o governador de São Paulo, João Doria, afirmou que “neste momento não há nenhuma razão para pânico ou medidas extremadas” em relação ao combate ao coronavírus. O estado tem 46 casos confirmados da doença, sendo 44 na capital paulista e 2 no interior.
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, afirmou que há um trabalho integrado entre Prefeitura e Governo com ações permanentes e diárias. Ele destacou que a vigilância sanitária tem trabalhado desde 10 de janeiro na prevenção de casos suspeitos e confirmados. “Temos feito uma ação coordenada e casada para dar transparência à população”, ressaltou Covas.
David Uip afirmou que o “Estado está pronto para qualquer nível de enfrentamento do coronavírus”. Ele explicou os possíveis cenários que o Estado se prepara para enfrentar: “São 46 milhões de habitantes em São Paulo, 60% dos paulistas têm atendimento exclusivo SUS. O estado tem uma amplitude de atendimentos com 101 hospitais estaduais e 100 mil leitos, estamos nos associando aos hospitais privados. Destes, 7.200 leitos são de UTI”.
Uip lembrou que a previsão é de que 80% dos infectados sejam assintomáticos e 20% terá de recorrer ao sistema de saúde, destes um percentual ainda menor vai precisar de serviços de UTI.
O governador prometeu 1.000 novos leitos de UTI para os próximos 4 meses, sendo 600 na cidade de São Paulo. “A instalação é sempre gradativa porque tem que fazer a compra de insumos e equipamentos, mas com essa situação o processo acelera. A iniciativa privada é responsável por 40% do atendimento em São Paulo”, destacou o infectologista.
O estado também comprou 20.000 kits para diagnóstico da doença, 200 novos aparelhos respiratórios e cinco milhões de máscaras. “Se for preciso, teremos de diminuir e parar com as cirurgias eletivas a medida da necessidade e demanda. É um planejamento para a gestão de leitos”, disse Uip.
No enfrentamento, serão objetivados os tratamentos dos doentes graves. David Uip disse que a preocupação é com grupos específicos: “A proteção dos pacientes mais vulneráveis é outra coisa importante, com mais de 60 anos e com doenças crônicas. É preciso evitar aglomerações. Não temos morbidade e letalidade com a população jovem. Estamos focados nas populações vulneráveis”.
Centro de Contingência
O Centro de Contingência do Covid-19 foi formado na semana passada, quando o primeiro caso da doença foi confirmado. “É um grupo formado por profissionais experientes. A história antiga nos ensina como lidar com pandemias e a história recente ensina o que aconteceu com os demais países afetados”, afirmou o médico infectologista David Uip.
Segundo o médico, as bases do grupo são enfrentamento da pandemia, prevenção com atuação da vigilância sanitária, observação dos infectados, cuidados com campanhas do governo do estado e da prefeitura.
“Estamos na fase de aprendizado, temos uma variável que é como o vírus vai se portar num país de clima tropical”, disse Uip.