Em sua live (transmissão ao vivo) da quinta-feira (12), Bolsonaro apareceu de máscara ao lado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. A intérprete de libras, que sempre aparece na transmissão, também usava máscara.
Na live, ele desconvocou a manifestação do dia 15, no próximo domingo, contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), por causa do aumento do número de contaminados por coronavírus.
“Uma das ideias é adiar, suspender. Depois de um mês, dois meses, faz”, asseverou.
“O que nós devemos fazer agora é evitar que haja uma explosão de pessoas infectadas, porque os hospitais não dariam vazão para atender todo mundo. Se o governo não tomar nenhuma providência, sobe, depois não dá mais e o sistema não suporta”, disse, acrescentando que a perspectiva dos atos já havia dado um “tremendo recado para o Parlamento”.
No dia anterior, quarta-feira (11), ele garantiu que não convocou manifestação nenhuma. “Eu não convoquei ninguém, pergunta para quem convocou”, disse, ao ser questionado se a disseminação do coronavírus poderia atrapalhar a convocação para as manifestações.
Agora, desconvocou uma manifestação que ele disse que não convocou.
Contudo, no sábado (7), ele mesmo convocou a população para participar dos atos. Em vídeo publicado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no Twitter, Bolsonaro afirmou que a manifestação do dia 15 seria “espontânea” e “pró-Brasil”, e não contra o Congresso ou o Judiciário. “Participem e cobrem de todos nós o melhor para todo o Brasil”, declarou em evento numa base aérea de Boa Vista, Roraima, antes de viajar para Miami, nos Estados Unidos.
Na quarta-feira (11), o perfil oficial da Secretaria de Comunicação do governo destacou a fala dele sobre os atos previstos para o próximo domingo. “A visita do presidente Jair Bolsonaro aos EUA incluiu um encontro com a comunidade brasileira que vive na Flórida. Em seu discurso, ele destacou a legitimidade das manifestações populares previstas para o dia 15 de março em todo o Brasil”, diz a postagem da Secom.
Bolsonaro já tinha chamado os aliados para participarem das manifestações golpistas a partir de seu próprio WhatsApp através de um vídeo. O fato foi denunciado pela colunista do Estadão e editora do BR Político, Vera Magalhães. O episódio rendeu repúdios de amplos setores, o que fez Bolsonaro negar e mentir. Segundo ele, a jornalista estaria mentindo quando afirma que ele convocou a manifestação do próximo dia 15 de março, porque o ato que aparece no vídeo é de 2015. Ele só não explicou como aparece esfaqueado num vídeo de 2015, quando a facada foi em 2018.
Pelo Twitter, a colunista Vera Magalhães observou: “Bolsonaro na live, ao pedir o adiamento da manifestação para a qual havia convocado: “O recado para o Congresso foi dado”. Mas não era uma manifestação 1) de 2015 2) espontânea 3) a favor do governo e não contra o Congresso?”
Na transmissão ao vivo da quinta-feira, Bolsonaro tentou explicar o fato de estar aparecendo todo paramentado na live.
“Estou de máscara porque uma das pessoas que veio no meu voo desceu em São Paulo, fez exames e deu positivo. Não tem o resultado do meu ainda. Estão dizendo que deu negativo. Tomara que esta fake news seja verdade”, afirmou.
Ele estava se referindo ao seu chefe da Secretaria de Comunicação (Secom), Fábio Wajngarten, que foi com ele na comitiva que viajou para a Flórida, EUA. Na volta, foi confirmado que estava infectado pelo coronavírus.
“Uma das pessoas que veio no avião conosco já deu negativo. Espero que todo mundo deu (sic) negativo também e que o positivo fique só com o Fábio, que está lá em São Paulo de quarentena em casa. E está bem”, afirmou.
Bolsonaro, que completa 65 anos no dia 21, também fez testes para o coronavírus e o resultado sai na sexta-feira (13). Ele e os integrantes da comitiva que o acompanhou a Miami, nos Estados Unidos, estão sendo monitorados desde a quarta-feira (11), após Wajngarten apresentar os primeiros sintomas da doença.
Esse é o Bolsonaro que, três dias atrás, durante um discurso em um evento em Miami, nos Estados Unidos, declarou que a “questão do coronavírus” não é “isso tudo” e se trata muito mais de uma “fantasia” propagada pela mídia no mundo todo.
“Obviamente temos no momento uma crise, uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo”, afirmou o presidente.
Os grupos bolsonaristas imediatamente atenderam o recado de Bolsonaro. Os movimentos Nas Ruas e São Paulo Conservador já anunciaram que irão adiar a manifestação golpista. “O momento agora é de união e responsabilidade. Pedimos que o Congresso, governo e Supremo trabalhem juntos para a aprovação das reformas da forma mais rápida possível”, disse o coordenador do grupo Nas Ruas, Marcos Bellizia. “Pela pandemia de coronavírus, aliada ao alerta do presidente, entendemos que nesse momento é importante adiar. Vamos nos manter alinhados para que a ordem seja mantida”, afirmou Ted Martins, coordenador do Movimento São Paulo Conservador.
Por causa do orçamento impositivo, com novas regras aprovadas pelo Congresso, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, insinuou que os parlamentares estavam “chantageando” o governo.
Pelas novas regras, o relator da Comissão Mista do Orçamento (CMO), deputado Domingos Neto (PSD-CE), ficaria com o poder de manejar, inicialmente, R$ 30 bilhões do orçamento como lhe aprouvesse, além dos recursos das emendas de parlamentares. Bolsonaro vetou essas regras, mas o Congresso ameaçou derrubar o veto. Na iminência de ser derrotado, o governo fez um acordo com os parlamentares, mas não cumpriu a sua parte e novamente o veto esteve para ser derrubado.
O governo fez outra negociação com o Congresso e o valor caiu de R$ 30 bilhões para R$ 15 bilhões para Senado e Câmara e o restante para o governo.
Na manhã do dia 18 de fevereiro, uma terça-feira, Augusto Heleno, enquanto esperava Jair Bolsonaro para a cerimônia de hasteamento da bandeira, em frente ao Palácio da Alvorada, em conversa com os ministros Paulo Guedes (Economia) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), foi flagrado em áudio dizendo aos colegas: “Nós não podemos aceitar esses caras chantageando a gente o tempo todo. Foda-se”.
Depois, ele usou as redes sociais para insistir nos ataques aos parlamentares, dizendo que deputados e senadores prejudicam “a atuação do Executivo” e isso “contraria os preceitos de um regime presidencialista”. “Se quiserem parlamentarismo que mudem a Constituição”, continuou Heleno.
A partir daí os grupos raivosos de bolsonaristas convocaram a manifestação golpista cancelada contra o Congresso e o STF.