O número de casos confirmados do novo coronavírus chegou em 234 na manhã desta segunda-feira (16), no Brasil. Conforme os casos de coronavírus começam a se espalhar e a contaminação não se dá mais, exclusivamente, por pessoas vindas de fora do país, o avanço da Covid-19 é exponencial. Somente na região metropolitana de São Paulo, os infectologistas preveem cerca de 460 mil casos nos próximos quatro meses.
Segundo confirmou o secretário de Saúde de São Paulo, David Uip, em reunião com um grupo de especialistas na quarta-feira, serão necessários ao menos 10 mil leitos de UTI para os pacientes mais graves, já que é necessária a intubação dos pacientes.
Para a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), “o risco de uma epidemia ou pandemia como a do COVID-19 com probabilidade de grande número de vítimas graves é uma realidade. O adequado preparo das UTI e hospitais, em conjunto com as autoridades de saúde e demais sociedade é fundamental para redução do impacto destas na população. O planejamento antecipado do atendimento das vítimas da endemia, bem como dos doentes graves com outras patologias que necessitam de UTI habitualmente, aumenta muito a probabilidade de promovermos um cuidado que possibilite um maior benefício para todos. A participação do intensivista neste cenário de preparo e gerenciamento do atendimento dos doentes críticos é primordial”, afirmou a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).
O problema principal é que somente 44% dos leitos de UTI do país estão no Sistema Único de Saúde (SUS), rede responsável pela assistência médica de três quartos da população brasileira e que corre o maior risco de sobrecarga em caso de surto do novo coronavírus.
No Brasil, 25% da população possui convênio médico e, portanto, acesso à rede privada. Os demais, 75% dependem exclusivamente da rede pública.
Apenas 17,9 mil dos 40,6 mil leitos de UTI existentes no Brasil estão no SUS, ou seja, públicos, segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do portal Datasus, desconsiderando as UTI neonatais.
A questão se agrava na distribuição, quando a maioria desses leitos está na rede privada que atende a minoria das pessoas, enquanto o SUS, que atende a maioria tem um número 3 vezes menor de leitos.
Enquanto os leitos de UTI privados têm taxa de ocupação média de 75%, os do SUS têm 95%.
“Embora o coronavírus não seja uma doença grave, cerca de 15% dos infectados vão precisar de uma UTI e o sistema de saúde não está preparado, não temos um fôlego extra no SUS porque ele já está no limite da utilização”, disse Ederlon Rezende, membro do conselho consultivo da Associação de Medicina Intensivista Brasileira (AMIB).
Rezende ressalta que, em alguns Estados do Norte e Nordeste, nem sequer o índice mínimo da OMS é cumprido. Segundo o levantamento no CNES, isso ocorre em seis unidades da federação: Acre, Roraima, Pará, Amapá, Maranhão e Piauí. Em todos eles, o índice de leitos de UTI é menor do que um por 10 mil habitantes.
NECESSIDADE
A associação dos afirma que o Brasil precisa de um aumento imediato de 20,2% no total de leitos para adultos de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir o tratamento de pacientes com Covid-19. O cálculo é baseado em dados divulgados pelo Ministério da Saúde e números fornecidos pela AMIB.
Atualmente, 95% dos leitos de UTI para adultos no Brasil estão ocupados. De acordo com a entidade, são necessários 2.960 novos leitos para garantir os tratamentos da Covid-19. O cálculo desconsidera o total de leitos da rede hospitalar privada porque, segundo a entidade, não é de acesso de toda a população.
No início da epidemia, em janeiro, o Ministério da Saúde anunciou a contratação de mil novos leitos de UTI para tratar eventuais pacientes com a doença pelo SUS. No dia 12, um dia após a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar pandemia de coronavírus, a pasta reforçou a estratégia e anunciou que serão 2 mil leitos a serem instalados nos estados.
As UTIs são importantes no tratamento de pacientes infectados, segundo um estudo feito pela Associação Brasileira de Medicina de Emergência e pela Amib. A pesquisa aponta que cerca de 30% dos pacientes da China, onde o surto da doença começou, foram tratados em UTIs, principalmente para ter melhor suporte à oxigenação. A situação dos leitos hospitalares se agravou nos últimos anos após a defesa, por parte dos neoliberais, de que o tratamento não seria mais necessário. Em 2019, estudo realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), apontou que entre 2009 e 2019, o Brasil perdeu 43,5 mil leitos do SUS.