Depois da desastrosa fala de terça-feira (24), onde se chocou abertamente com as orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS), Jair Bolsonaro ameaçou explicitamente a normalidade democrática. Disse que é “preciso botar esse povo para trabalhar” e em seguida lançou: “Se é que o Brasil não pode sair da normalidade democrática que vocês tanto defendem”. “Ninguém sabe o que pode acontecer no Brasil”, afirmou, na porta do Palácio da Alvorada, na quarta-feira (25).
Bolsonaro voltou a atacar os governadores e chamou especificamente as ações dos governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de “demagogas”.
O presidente acusou as orientações dadas pelas autoridades de saúde do Brasil, e que estão sendo adotadas também em todo o mundo para fazer frente à pandemia do coronavírus, de covardia. Ele disse que “ficar em casa é atitude de covarde”.
O presidente disse que espera que o vírus não mate ninguém, mas afirmou que outros vírus mataram e, nas palavras dele, não houve “essa comoção toda”. “O que estão fazendo no Brasil, alguns poucos governadores e alguns poucos prefeitos, é um crime. Eles estão arrebentando com o Brasil, estão destruindo empregos. E aqueles caras que falam ‘ah, a economia é menos importante do que a vida'”.
“Cara pálida, não dissocie uma coisa de outra”, afirmou o presidente a jornalistas na saída da residência oficial do Palácio da Alvorada.
O que Bolsonaro está fazendo, desde ontem, é imitar o presidente dos EUA, Donald Trump, que também defendeu essas opiniões absurdas de que mais importante do que a vida das pessoas é a economia.
Nem lá nos EUA, fruto da pressão social, o governo conseguiu mudar a orientação de isolamento social. Trump defende abrir o comércio do país somente após a páscoa.
Mas Bolsonaro quer ser mais realista do que o rei e insiste em ameaçar a vida das crianças e de suas famílias propondo a volta imediata às aulas e a reabertura do comércio.
Seguindo o que disse no pronunciamento feito na noite desta terça-feira (24), Bolsonaro chamou a população a desobedecer o Ministério da Saúde e sair de suas casas. Ele insinuou também que a esquerda prepara um golpe de Estado e argumentou que, para contornar tal situação, o Brasil precisa “voltar à produção econômica”.
Na sexta-feira, o presidente disse que seria “relativamente fácil” decretar estado de sítio, o que significaria concentrar poderes e suspender garantias democráticas.
Ele afirmou também que pretende enquadrar o Ministério da Saúde na sua posição. “Conversei por alto com Mandetta ontem [terça], hoje [quarta] vamos definir essa situação. Tem que ser, não tem outra alternativa. A orientação vai ser o vertical daqui para frente. Vou conversar com ele e tomar a decisão. Não escreva que já decidi, não. Vou conversar com Mandetta”, disse.
Mais tarde, em reunião com governadores do Sul e Sudeste ele foi duramente criticado pelo posicionamento que está adotando.