O ex-presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, defendeu que o governo abra mão da austeridade fiscal e sugeriu uma renda mínima para 100 milhões de brasileiros como forma de enfrentamento da crise do Coronavírus.
“Para lidar com uma crise que só acontece uma vez a cada cem anos, o governo deveria abrir mão da austeridade fiscal neste momento”, disse o economista, acrescentando que o Brasil tem dinheiro para enfrentar os graves efeitos da pandemia.
Dirigente do BC entre 1999 e 2002, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, Armínio Fraga sugere, que além de incluir 1,3 milhão de famílias na Bolsa Família, o governo crie um programa de renda mínima para ao menos 100 milhões de brasileiros – aproximadamente a metade da população.
“Essa é uma crise diferente das que tivemos no passado, porque afeta diretamente a capacidade de produção da economias, as pessoas ficam afastadas do seu trabalho, isso significa que é preciso ter algum tipo de amortecedor, choque social. Nós temos um conjunto enorme de pessoas no país que vivem com rendas muito baixas, vivem na informalidade e é preciso tratar delas nesse momento”, enfatizou.
“As pessoas precisam saber que, durante esta crise, terão dinheiro para comprar comida”, defendeu. A medida custaria aproximadamente R$ 300 bilhões e poderia vir da emissão de títulos da dívida pública. Fraga não vê problema no aumento da dívida pública, que pode minorar as consequências econômicas da paralisação da produção e serviço, e da derrubada da demanda imposta pela necessidade das políticas de isolamento.
Fraga criticou o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, responsabilizando a “incapacidade” do governo pelos fracassos econômicos do ano passado – quando os investimentos públicos desabaram e a economia cresceu apenas 1,1%, o pior resultado em três anos, e agora as incertezas no enfrentamento da crise.
Segundo Fraga, a atual crise, mesmo no início, já deixa lições, uma delas é que o país não gasta o suficiente com saúde pública, “menos até que os Estados Unidos”.
“Eu venho, junto com outros economistas, defendendo que se acione os mecanismos que já existem para manter a economia funcionando. Isso seria possível através do canal do bolsa família, do cadastro único. Eventualmente até de uma mobilização para cadastrar mais gente. Já existem ideias circulando por aí e elas estão sendo aprimoradas. Eu tenho expectativas de que o governo tem condições de agir rápido e é preciso que aja”.
Com informações da TV Cultura e do G1