ISO SENDACZ (*)
Enquanto meu pai José, menino, corria pelas ruas de Varsóvia e meu avô Abrão, operário boneteiro, nem tinha planos na Polônia de ter uma filha, Astrojildo Pereira e seus camaradas brasileiros reuniam-se em Congresso para fundar o Partido Comunista do Brasil, em 25 de Março de 1922.
A longa história do partido foi permeada por períodos de legalidade e funcionamento clandestino e escrita nas ruas e nos campos por Brasileiros ilustres como o Luis Carlos Prestes, João Amazonas e toda uma miríade de combatentes que dedicaram a vida para libertar o Brasil e construir o socialismo na nossa Pátria.
É claro que as trajetórias individuais e coletivas foram distintas ao longo do tempo, até disputa por herança dos que nos antecederam aconteceram e ainda acontecem, mas a certeza de que ela é de todos os brasileiros nos levam à satisfação de integrar o PCdoB nestes tenebrosos e pandêmicos dias.
Sou de 1960, tempo em que meu pai e seus companheiros roitses, a palavra em idishe para vermelhos, como eram carinhosamente conhecidos os militantes clandestinos judeus progressistas do Bom Retiro, muito discutiam sobre os rumos a seguir.
Tive a felicidade de estudar na escola padrão do Estado de São Paulo, o Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem, construído sob a batuta da saudosa primeira vereadora da Cidade de São Paulo pelos PCdoB clandestino, em 1947, Elisa Kaufman Abramovitch. Escola que revelou em nós o mais profundo dos sentimentos próprios da Humanidade: indignar-se contra qualquer injustiça contra qualquer ser humano em qualquer parte do mundo.
Já universitário, quando a ditadura fazia água para todos os lados, conheci os heroicos militantes do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, antiga Dissidência da Guanabara que não se conformou com o imobilismo diante da ditadura militar que de pronto eliminou a democracia, impediu o avanço das reformas de base e a construção de um Brasil independente.
E, com a nova Lei dos Partidos que colocava fim ao bipartidarismo, filiamo-nos no PMDB, o manda-brasa velho de guerra que seguia unido pela reconstrução do Estado Democrático de Direito, pelas Diretas Já e pela Constituição cidadã, vigente desde 1988.
O avanço da luta e o intenso estudo dos clássicos e da construção do socialismo, fez surgir a necessidade de um novo partido, que resgatasse os compromissos de Tiradentes, Bonifácio, Getúlio, Jango e Claudio Campos para ajudar o Brasil a cumprir a etapa de independência nacional do seu processo revolucionário.
Por dez anos, o Partido Pátria Livre agregou forças políticas interessadas no nacional-desenvolvimentismo, até que, após as eleições de 2018, uniu-se ao PCdoB para somar forças pelo Brasil.
O rápido processo de integração entre as organizações políticas, cujo marco inicial coincidiu com o centenário de nascimento do meu pai, traz-nos a certeza de que estamos no caminho. Vamos vencer a pandemia, vamos isolar e derrotar Bolsonaro e vamos libertar o Brasil, para construir o socialismo.
Em seu discurso de ontem pelo 98º aniversário do PCdoB, a presidente Luciana Santos* não poderia ter sido mais precisa em apontar o caminho e as tarefas: “salvar vidas é o centro da luta”.
*A engenheira Luciana Barbosa de Oliveira Santos foi Prefeita de Olinda, Deputada Estadual e Federal e é, além de Presidente do PCdoB, a primeira mulher a ocupar o cargo de Vice-Governadora de Pernambuco.
(*) Engenheiro Mecânico, Especialista aposentado do Banco Central, diretor do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central, do Instituto Cultural Israelita Brasileiro e membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. De São Paulo, mora em Santos.