Após desdenhar dos efeitos da epidemia do novo coronavírus no Brasil e instigar as pessoas ao contágio, usando cadeia nacional de rádio e televisão, na terça-feira (24), Jair Bolsonaro, além de desrespeitar o isolamento, debochou na quinta-feira (26) da presença da imprensa na saída do Palácio da Alvorada, devido aos riscos de contaminação da doença.
Sem se aproximar do local reservado aos jornalistas que fazem a cobertura no Alvorada, Bolsonaro questionou o que a imprensa estava fazendo ali, presencialmente. Crítico da quarentena, ele disse que os profissionais deveriam estar em casa já que apoiam a medida que ele vem criticando. A imprensa está cumprindo sua função, mas Bolsonaro deveria preservar a saúde dos outros, o que ele não faz, pelo contrário, expõe a todos ao risco de contágio.
“Mostra ali. Atenção povo do Brasil. Esse pessoal diz que eu estou errado e tem que ficar em casa. Aí eu pergunto, o que vocês estão fazendo aqui? Imprensa brasileira o que vocês estão fazendo aqui. Estão com medo do Coronavírus não? Vão pra casa. Todo mundo sem máscara”, falou. Enquanto o presidente falava, um ajudante de ordens filmava os profissionais.
Ao voltar à tarde para o Alvorada ele deu novas e curiosas declarações no sentido de miniminar novamente os efeitos da crise.
“Eu acho que não vai chegar a esse ponto [a situação dos Estados Unidos]. Até porque o brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali, sai, mergulha, tá certo? E não acontece nada com ele. Eu acho até que muita gente já foi infectada no Brasil, há poucas semanas ou meses, e ele já tem anticorpos que ajuda a não proliferar isso daí”, afirmou.
Os EUA estão com 82 mil casos confirmados de coronavírus e mais de mil mortes e se tornam o país com mais casos confirmados no mundo. Apenas nas últimas 24 horas foram 237 mortes, o maior número diário desde o início da epidemia nos EUA. Bolsonaro imita Donald Trump na resistência a tomar medidas radicais de prevenção ao vírus.
Em seu pronunciamento na terça, Bolsonaro criticou o rigor das medidas de distanciamento social que têm sido adotadas no País para conter o avanço da Covid-19.
O presidente, que vem desrespeitando as recomendações do próprio Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomendam a quarentena da população para evitar um crescimento incontrolável do surto da doença, publicou um decreto domingo (22) que inclui a imprensa na lista de serviços essenciais, que precisam se manter em atividade. Porém, quer impedir que os profissionais de comunicação registrem seus atos contrários às orientações das autoridades sanitárias.
As medidas de isolamento são defendidas pela OMS e pelo próprio Ministério da Saúde. No Brasil, até quinta-feira (26) já se contabiliza 77 mortes e 2.915 casos de pessoas infectadas pelo coronavírus, conforme os dados oficiais.
Há suspeitas sobre as condições de saúde do próprio Bolsonaro, que vem sistematicamente se recusando a apresentar o resultado dos exames que fez para detectar a presença do vírus, depois que 25 membros da comitiva que o acompanhou em uma viagem aos Estados Unidos testaram positivo para Covid-19.
O Hospital que fez o teste de coronavírus em Jair Bolsonaro escondeu o nome de duas pessoas que testaram positivo na lista que entregou ao governo do Distrito Federal. Das 17 pessoas, apenas 15 estão identificadas.
No dia 15, nas manifestações bolsonaristas contra a democracia, Bolsonaro não só estimulou as aglomerações, como participou do ato em Brasília. Ele foi até aos manifestantes, apertou mãos, tirou selfies, tocou em celulares e devolveu aos seus donos.