O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, divergiu de Bolsonaro e defendeu o distanciamento social ao fazer um balanço dos 30 dias de contágios do novo coronavírus no Brasil no sábado (28).
Oficialmente o Brasil já tem 3.904 casos confirmados e 114 mortes.
De acordo com Mandetta, o Brasil está tentando viabilizar uma compra grande de equipamentos de proteção individual como máscaras de proteção junto à China, mas está difícil conseguir comprar, diante da competição junto aos outros países do mundo, e também retirar os equipamentos do país asiático.
“Mais uma razão para gente ficar em casa parado até que a gente consiga colocar os equipamentos na mão dos profissionais de saúde. Se todo mundo sair ao mesmo tempo, vai faltar equipamentos”, disse o ministro.
“Ainda não dá pra você falar ‘libera todo mundo para sair’ porque não temos condições de chegar com o equipamento na hora que precisa”, prosseguiu.
Para o ministro, a ocupação do número de leitos de UTI no Brasil é mais uma razão para diminuir o nível de circulação das pessoas.
“É um efeito secundário benéfico da redução da circulação. O primeiro é a diminuição da contaminação”, disse.
O ministro da Saúde reprovou a campanha contra a quarentena promovida pelos bolsonaristas e disse que não é hora de fazer carreatas de apoio “seja em nome do que for”. Segundo o ministro, a hora é de poupar o sistema de saúde.
“Agora não é hora de sobrecarregar o sistema de saúde, seja em nome do que for. Agora é hora de aguardar. Vamos ver como essa semana vai se comportar e nós vamos ter a discussão para achar os parâmetros”, disse Mandetta.
“Fazer movimento assimétrico, de efeito manada agora… Daqui duas, três semanas aqueles que falam ‘vamos fazer uma carreata de apoio’ vão ser os mesmos que vão estar em casa. Não é hora agora”, disse o ministro.
Mandetta disse que é hora de ter racionalidade e “não nos movermos por impulso neste momento”. “Vamos nos mover pela ciência e pela parte técnica, por planejamento, pensando em todos os cenários”, disse Mandetta.
O ministro da Saúde advertiu que o estudo dos efeitos da cloroquina no combate à Covid-19 ainda é incipiente e que o remédio é apenas uma das pistas que estão sendo seguidas pela área médica para o tratamento da doença.
“Não é a panaceia (remédio para curar todos os males). A cloroquina não é o remédio que veio para salvar a humanidade, ainda”, disse o ministro.
Bolsonaro chegou a fazer um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, na terça-feira (24), criticando as medidas tomadas por governadores e prefeitos. Ele afirmou que tais autoridades deveriam “abandonar o conceito de terra arrasada” e criticou “a proibição de transportes, o fechamento de comércio e o confinamento em massa”.
O governo Bolsonaro também lançou uma campanha para sabotar a quarentena. A Secretaria da Comunicação da Presidência (Secom) publicou imagens da campanha em suas redes sociais, usando a hashtag #oBrasilNaoPodeParar. O senador Flávio Bolsonaro, filho de Jair, publicou um vídeo da campanha.
Depois que a Justiça Federal do Rio de Janeiro proibiu a circulação da campanha, a Secom apagou as postagens e negou que a campanha tenha sequer existido.
Bolsonaro e seus seguidores alegam que na pandemia da gripe suína (H1N1) não foi preciso tomar tantas precauções e causou poucas vítimas.
Para Mandetta, a pandemia de gripe suína não pode servir de parâmetro para a Covid-19. Segundo ele, as doenças e o comportamento epidemiológico delas são muito diferentes.
A primeira diferença, segundo o ministro da Saúde, é que no caso da H1N1 logo se identificou o remédio eficiente para o tratamento. Em seguida, rapidamente se identificou que haveria perspectiva para vacina, pois o tipo de vírus era mais simples que novo coronavírus.
“Não tem receita de bolo. Essa Covid-19 não é assim, pois ela é uma doença que ataca o sistema de saúde e a sociedade como um todo”, disse.
Relacionadas: