64% dos pesquisados não confiam na capacidade do presidente da República em gerenciar a crise do novo coronavírus. Em contrapartida, 70% apoiam as ações que vêm sendo implementadas pelos governadores de seus estados.
Pesquisa do Instituto Travessia, divulgada na sexta-feira (27) pelo jornal Valor Econômico, mostra que a maioria dos brasileiros se considera bem informada (94%) e sabe o que fazer para enfrentar a epidemia do Covid-19. O levantamento aponta também que 64% dos pesquisados não confiam na capacidade do presidente da República em gerenciar a crise do novo coronavírus. Em contrapartida, 70% apoiam as ações que vêm sendo implementadas pelos governadores de seus estados.
A pesquisa mostra que a confiança de que os governadores vão resolver a crise é de 70% enquanto em Bolsonaro não passa de 24%. Ela também constata que 84% da pessoas concorda com as medidas de isolamento social determinadas pelas autoridades sanitárias. Só 12% acham certa a posição de Bolsonaro de defender a volta das aglomerações nas ruas. O levantamento revela que grande parte dos entrevistados temem por um desastre na economia e já não confiam na capacidade de liderança do presidente.
A pesquisa foi realizada entre os dias 20 e 21 de março e não captou a reação do público ao desastroso pronunciamento oficial do presidente da República na noite de terça-feira (24). Ele provocou uma nova onda de panelaços em uma série de grandes cidades do país. No discurso, Bolsonaro voltou a se referir à covid-19 como uma “gripezinha”, criticou a atuação dos governadores (altamente aprovada pelos eleitores de acordo com o Instituto Travessia) e se posicionou até contra o fechamento de escolas.
Os prefeitos também estão sendo bem avaliados, pois 52% dos eleitores concordam com as medidas que implementaram. Dorgan Filho, analista político e sócio do Instituto Travessia, porém, observa: “Mas são os governadores que têm tomado as decisões mais pragmáticas e efetivas. Nos pequenos municípios, as prefeituras têm uma margem de ação limitada. Os orçamentos são apertados e a dependência do governo estadual é muito grande.”
A pesquisa mostra que apenas 24% dos entrevistados confiam na capacidade de Jair Bolsonaro em gerenciar a crise do novo coronavírus. “Ainda que sejam questões diferentes, esses 24% ficam próximos dos 23% de apoio que o presidente tinha em junho de 2018”, afirmou a professora Maria Hermínia Tavares de Almeida, do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP). Sob o ponto de vista político, 50% disseram que não aprovam as decisões tomadas até a realização da pesquisa pelo presidente da República. Apenas 28% aprovam a decisões de Bolsonaro.
As mulheres e os jovens são os que mais reprovam Bolsonaro. 55% das mulheres e 75% do jovens entre 16 e 24 anos compõem os grupos com maiores índices de desaprovação. “Os eleitores mais novos já não haviam votado em massa em Bolsonaro, em 2018. A postura que o presidente Bolsonaro vem adotando nesta crise parece que foi um prato cheio para sacramentar esse distanciamento”, diz Renato Dorgan Filho. “No caso das mulheres, em geral, elas acompanham mais de perto as deficiências dos serviços públicos de saúde. Sabem o risco que o coronavírus representa.”
Aqueles que ganham acima de dez salários mínimos são os que mais questionam a atuação de Bolsonaro, com 55% de reprovação. “Esse é um dado interessante, pois foi esse grupo, formado por homens brancos com alta renda e escolaridade que apoiou maciçamente o presidente na eleição de 2018”, diz Maria Hermínia. “Assim, com as decisões que tem tomado, Bolsonaro pode estar perdendo espaço entre seus eleitores mais fiéis”, acrescentou a professora.
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