Ajudar a disseminar uma doença que mata é atitude criminosa
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, acaba de afirmar, em entrevista coletiva na tarde da segunda-feira (30), que a orientação de sua pasta é para a população permanecer em casa.
Ele disse que esta orientação é baseada na ciência e é a única forma de se proteger a vida das pessoas. Um dia antes o presidente Jair Bolsonaro afirmou, em Taguatinga, cidade satélite de Brasília, que não é nada disso. Que é “covarde” e “moleque” quem defende combater o vírus ficando em casa.
O presidente aproveitou-se do desespero das pessoas diante da inação de seu governo, que até agora pouco fez de concreto em termos de ajuda, e estimulou ambulantes, que deveriam estar em casa, recebendo recursos emergenciais do governo, a irem para as ruas vender seus produtos.
Bolsonaro segura os recursos que deveria injetar na economia, como estão fazendo todos os países do mundo, e acusa os governadores de serem os responsáveis pela retração da economia e pelas dificuldades que a população está passando.
Um cinismo sem precedentes. Ele põe a população em risco de morte, não ajuda como devia, e ainda acusa os governadores.
Bolsonaro não só está sabotando o esforço nacional de combate ao drama do coronavírus, como está insuflando a população a se insurgir contra as medidas adotadas pelo seu Ministério da Saúde, pelos governos e pelas secretarias estaduais e municipais de Saúde.
Ele estimulou carreatas de seguidores em várias localidades para convocar a população a abandonar as medidas de segurança preconizadas e conclamou para que saíssem de suas casas e voltassem aos seus trabalhos. A população repudiou essas iniciativas criminosas jogando ovos e outras substâncias não muito perfumadas nos carros luxuosos que participaram dessas “carreatas da morte”.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que já tinha afirmado que Bolsonaro não entende nada de saúde e que, em Goiás, as medidas de proteção à saúde coletiva vão ser mantidas, ironizou no domingo a carreata estimulada por Bolsonaro na capital do estado. “Ontem [sábado (28)] aqui em Goiânia tinha uns 14 ou 15 em BMW, Land Rover, sem apoio nenhum, dizendo que precisa trabalhar”, prosseguiu.
O passeio irresponsável de Jair Bolsonaro no domingo (29) pelas diversas cidades satélites de Brasília, aglomerando pessoas nas ruas e atacando as medidas do Ministério da Saúde, é uma atitude criminosa, uma ameaça à vida da população.
Com esse comportamento, Bolsonaro está usando o seu cargo para dar o mau exemplo para a população e estimular a propagação do vírus. É uma atitude criminosa. Bolsonaro está contribuindo para a morte de milhares de pessoas.
Ele foi acionado na Justiça de Brasília por crime contra a Saúde Pública.
Os governos estaduais já anunciaram que também entrarão na Justiça contra Bolsonaro caso ela faça o que disse que faria a jornalistas neste domingo (29). Bolsonaro afirmou, que, se tiver vontade, põe fim ao isolamento social.
“Estou com vontade, não sei se eu vou fazer, de baixar um decreto amanhã: toda e qualquer profissão legalmente existente ou aquela que é voltada para a informalidade, se for necessária para levar o sustento para os seus filhos, para levar leite para seus filhos, para levar arroz e feijão para casa, vai poder trabalhar”, ameaçou.
O que a população exige, ao contrário disso, é que ele libere imediatamente os recursos para garantir a renda dos trabalhadores.
A sabotagem de Bolsonaro à luta contra a expansão do coronavírus está, literalmente, virando caso de polícia. Na manhã de domingo (29), bolsonaristas que seguiam as orientações do presidente foram presos em Belém do Pará por insistirem em incitar a população a abandonar as medidas de proteção e voltarem a se aglomerar nas ruas.
No Pará, um decreto assinado pelo governador Helder Barbalho (MDB), com as normas sanitárias, proíbe aglomerações no Estado. Nove bolsonaristas foram detidos e encaminhados à delegacia. Na semana passada, em Guarulhos, na Grande São Paulo, a polícia prendeu um grupo de bolsonaristas e recolheu um caminhão de som que repetia as ideias de Bolsonaro.
Três bolsonaristas foram detidos na segunda-feira (30), após ameaçarem um comerciante em Xerém, na Baixada Fluminense. Segundo a Polícia Civil, o dono de um bar foi abordado após fechar o estabelecimento seguindo as recomendações do decreto do governo estadual no enfrentamento do novo coronavírus.
O isolamento de Bolsonaro é monumental. Senado, Câmara, Supremo, governadores, todas as entidades nacionais, as igrejas, generais, como o general Santos Cruz e o general Edson Leal Pujol, comandante do Exército, e outros, estão condenando as atitudes do presidente.
João Dória (PSDB), governador de São Paulo, orientou a população a não seguir Bolsonaro. “Sigam os médicos e não Bolsonaro”, disse. O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), afirmou que o “presidente da República pode responder por crime contra a humanidade”.
O governador Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, disse que “o Brasil se defronta com duas doenças: coronavírus e Bolsonaro”. O Senado da República, em manifesto, desautorizou o presidente. O Twitter tirou do ar postagens de Bolsonaro por “atentarem contra a vida das pessoas”.
A insanidade de Bolsonaro é destaque na imprensa internacional.
Depois da virada da Donald Trump, que passou admitir que estava atrasado nas medidas de proteção à população americana, e defendeu o isolamento social, Bolsonaro é o único chefe de estado no mundo a ser contra as medidas preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Toda a imprensa mundial está registrando que o comportamento de Bolsonaro é perigoso e está colocando em risco a vida das pessoas.
Veículos de mídia da França e Alemanha noticiam os posts de Bolsonaro apagados do Twitter por infringirem regras. O Argentino La Nación citou o ‘gabinete do ódio’, liderado por Carlos Bolsonaro e a The Economist, uma das revistas mais importantes do mundo, chamou o presidente de “BolsoNero”.
S. C.