Após um dia de greve dos metroviários, seguida de manifestação em frente à Bolsa de Valores, o Governo de São Paulo realizou na sexta-feira, 19, o leilão das Linhas 5-lilás e 17-ouro do Metrô. Como já havia denunciado o Sindicato dos Metroviários de São Paulo, que alertou para um leilão de cartas marcadas, quem levou foi o consórcio composto pela CCR e o fundo Ruas Invest.
O Sindicato denunciou que o leilão já tinha vencedor definido, uma vez que o edital exigia da empresa vencedora experiência de transporte de 400 mil usuários por dia, critério que apenas a CCR detém no Brasil. A concessionária opera atualmente a linha 4-Amarela, em São Paulo, do VLT do Rio de Janeiro e do metrô de Salvador). Ainda na sexta-feira, o leilão chegou a ser suspenso pela Justiça. O próprio governador recentemente estava às voltas com multas e amaças aos gestores da Linha 4 por atrasos de obras e descumprimento dos contratos. Agora, ele presenteia o incompetentes com mais duas linhas.
O leilão, além de direcionado, seguiu à risca a cartilha de privatizações iniciada na era FHC e retomada por Dilma, com a privatização dos aeroportos, estradas e ferrovias. O plano é o mesmo: a entrega de um patrimônio pronto, já construído, para que a empresa desfruto dos lucros. O processo, da mesma maneira que no governo Dilma, vem com a desculpa esfarrapada de que a entrega é uma concessão e não privatização.
O consórcio venceu o “leilão” com um lance de R$ 553,8 milhões. No entanto, até o momento, o governo estadual já investiu cerca de R$ 7 bilhões na construção das duas linhas – ou seja, o lance vitorioso representa apenas 7,9% dos recursos gastos. E o contrato prevê, nos próximos 20 anos, um rendimento entre receitas com tarifas e não tarifárias no valor de R$ 10,8 bilhões.
De acordo Rafael Calabria, pesquisador em mobilidade do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), “as linhas estão quase prontas. O edital prevê apenas que a empresa ganhadora opere e administre as vias, ou seja, o principal gasto que é a obra já não existe. A concessionária lucrará muito com essa compra”, avalia.
“Ontem fizemos uma greve para denunciar essa licitação direcionada e os prejuízos da privatização para a população. Alckmin está destruindo um patrimônio público para entregar à CCR, que custeou sua campanha eleitoral e provavelmente vai custear a próxima. Nossa luta é por um metrô estatal, público e de qualidade para a população e por isso seguiremos mobilizados contra os ataques deste governo”, disse Narciso Soares, funcionário da Linha 5 do Metrô e diretor do Sindicato dos Metroviários.