O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, e o ex-titular da pasta e deputado Osmar Terra (MDB-RS) foram flagrados pela CNN Brasil tramando contra o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Onyx Lorenzoni é do mesmo partido de Mandetta, o DEM. O mesmo partido dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (RJ) e Davi Alcolumbre (AP), que apoiam o ministro.
Onyx Lorenzoni disse para Osmar Terra que “teria cortado a cabeça” do ministro da Saúde se estivesse no lugar de Bolsonaro.
Segundo a CNN, a declaração foi feita na manhã da quinta-feira (9).
A CNN afirma que obteve a conversa ao fazer uma ligação para Osmar Terra e este atender e não responder, mas também não desligar o telefone.
Osmar Terra criticou o ministro da Saúde, dizendo que “o ideal era o Mandetta se adaptar ao discurso do Bolsonaro“.
Bolsonaro ameaçou demitir Mandetta na segunda-feira (6), mas se viu isolado, desestimulado por militares, cúpula do Congresso Nacional, governadores, prefeitos, médicos e secretários de saúde, estaduais e municipais.
Veja a íntegra da conversa gravada pela CNN Brasil:
Onyx Lorenzoni: “Eu acho que esse contraponto que tu tá fazendo…”
Osmar Terra: “É complicado mexer no governo por que ele tá…”
Onyx Lorenzoni: “Ele não tem compromisso com nada que o Bolsonaro está fazendo”
Osmar Terra: “E ele se acha”
Onyx Lorenzoni: “Eu acho que (Bolsonaro) deveria ter arcado (com as consequências de uma demissão)…”
Osmar Terra: “O ideal era o Mandetta se adaptar ao discurso do Bolsonaro”
Onyx Lorenzoni: “Uma coisa como o discurso da quarentena permite tudo. Se eu tivesse na cadeira… O que aconteceu na reunião eu não teria segurado, eu teria cortado a cabeça dele…”
Osmar Terra: “Você viu a fala dele depois?”
Onyx Lorenzoni: “Ali para mim foi a pá de cal. Eu já não falo com ele há 2 meses. Aí acho que é xadrez. Se ele sai vai acabar indo para a secretaria do Doria”
Osmar Terra: “Eu ajudo Onyx. E não precisa ser eu o ministro, tem mais gente que pode ser”.
Entre outros, Osmar Terra foi um dos cotados para assumir a Saúde caso Mandetta fosse demitido. E Onyx se agarra a um cargo pior do que cola rápida.
Bolsonaro ataca o ministro da Saúde para impor sua visão obscurantista também na área da Saúde. É contra a quarentena e não se importa que pessoas morram indo para as ruas.
Na quinta-feira, em sua transmissão ao vivo no Facebook, Bolsonaro voltou a atacar o ministro.
Ele afirmou que o “médico não abandona o paciente, mas o paciente troca de médico” ao comentar o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19 que não tem eficácia demonstrada. Para justificar sua permanência à frente do ministério quando lhe perguntam se pedirá demissão, Mandetta tem dito que “médico não abandona o paciente”.
Como se fosse médico e o melhor do mundo, Bolsonaro tem falado pelos quatro cantos sobre o uso da cloroquina como remédio para cura de todos os males. Em todo mundo o uso do medicamento no combate ao coronavírus é alvo de polêmicas. “Você foi infectado [com covid-19]. Você tomaria ou não tomaria [a hidroxicloroquina]? […] Minha mãe tem 93 anos de idade. Está na cara que ela vai tomar [caso seja infectada]. Lógico, vai consultar o médico antes. Com toda certeza o médico vai ser favorável, tenho certeza disso. Porque o médico não abandona o paciente, mas o paciente troca de médico”, disse Bolsonaro na live.
“Você vai para o médico, vamos supor que ele receite alguma coisa que você sabe que não vai dar certo. Você tem o direito de trocar de médico”, completou.
Como disse o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que é médico de profissão, “ele [Bolsonaro] não entende nada de medicina e quer dar muita opinião sobre o que não sabe”.
Não é a primeira vez que Bolsonaro atrapalha o setor, prejudicando a saúde da população.
Antes de tomar posse na Presidência, ele deu declarações ofensivas contra o programa Mais Médicos, provocando a saída dos médicos cubanos. Comunidades inteiras ficaram sem assistência médica por causa de Bolsonaro.
Em março último, com o avanço da Covid-19, o governo federal abriu um edital para reincluir no novo Mais Médicos 1.800 cubanos que ficaram no Brasil. Bolsonaro disse no ano passado que os médicos cubanos não eram “tão bons assim” e que vieram para cá formar “núcelos de guerrilha”.