
A força-tarefa enviada pelo governo de Quito a Guayaquil, epicentro da pandemia de Covid-19 no país, anunciou no domingo (12) que conseguiu remover pelo menos 700 corpos de pessoas que morreram nas últimas semanas em suas casas na cidade, que é a maior do país, e onde o sistema hospitalar e funerárias entraram em colapso.
“A quantidade que coletamos, com a força-tarefa em residências, excedeu 700 pessoas mortas”, disse Jorge Wated, que encabeça equipe de policiais e militares enviada à cidade.
Nas últimas semanas, causaram espanto no mundo inteiro as cenas de caixões largados no meio da rua e cremações improvisadas por familiares largados à própria sorte.
Médicos denunciaram que faltava tudo, de respiradores a leitos, e que as farmácias estavam vazias.
A província de Guayas, cuja capital é Guayaquil, concentra mais de 72% dos mais de 7.400 casos que oficialmente o Equador reconhece, com 333 mortos pelo novo coronavírus, desde a detecção pela primeira vez da doença no país em 29 de fevereiro.
Só pelos 700 mortos que agora o próprio governo diz ter removido das ruas, já fica sob questionamento essa cifra de mortos do coronavírus, embora é duvidoso que, antes do enterro, haja sido feito qualquer teste. O porta-voz do governo não informou a causa mortis dos corpos coletados nas ruas.
Com 2,7 milhões de habitantes, Guayaquil tem a maior taxa de mortalidade do país por Covid-19 e a mais alta da América Latina, 1,35 mortos por 100 mil habitantes, superior a São Paulo (0,92), de acordo com o médico sanitarista Esteban Ortiz, da Universidade das Américas equatoriana.
Ortiz denunciou, ainda, que 40 profissionais, entre enfermeiros e médicos, já morreram na epidemia em Guayaquil.
Desde o dia 17 de março, está em vigor no Equador toque de recolher por 15 horas, mas o governo provincial era contra as medidas de contenção.
A oposição tem denunciado a incompetência, incúria e corrupção do governo de Lenin Moreno no enfrentamento da pandemia, com setores crescentes considerando que o governo “acabou” e já não tem a mínima condição de liderar o país na atual crise.
O chefe da força-tarefa anunciou que o governo assumiu a tarefa de enterrar os corpos, já identificados, em dois cemitérios da cidade. Em grande maioria, as famílias sequer podiam arcar com os custos do enterro, apesar de ter havido doação de caixões de papelão.
De acordo com declaração anterior de Wated, a estimativa das autoridades de saúde é de que os mortos por Covid-19 serão, só na província, entre 2.500 e 3.500.
O caos na saúde é a exacerbação do desastre sob o governo Moreno, que aderiu ao neoliberalismo, levou o país ao FMI e entregou o fundador do WikiLeaks, que estava abrigado em sua embaixada em Londres, à polícia inglesa no dia em que Trump oficializou o pedido de extradição.